domingo, 3 de maio de 2020

Minhas Memórias

 


Para Além do Horizonte Azul
Memórias
Gainesville, FL - Agosto/2017



Dedico  esta  coleção das minhas histórias aos meus filhos e suas famílias.

Em aberto para outros que ainda se agregarão à família.

- Renato, Tania, Lívia Maria, Marcelo B., Ana Laura e Jonathan Caio.

- Jane, (Craig Porter), Craig Júnior e Caleb.

- Fabiane, Adriano, Micaela e Yuri.



Agradecimentos:

- Ao meu Deus, que me criou, restaurou e se relaciona comigo sempre.

- Aos meus pais que me deram por herança a fé em Jesus.

- Ao meu esposo, Aurecil, companheiro de jornada, fiel e corajoso.

- Aos meus filhos, a quem dedico todo o meu (imperfeito) amor.




Viver é perigoso e arriscado!

Porém, viver pela fé é uma aventura.

Uma aventura cheia da graça e misericórdia divinas.



 

Mapa destacando, com um pontinho vermelho, os lugares onde estive : 

Água Limpa, MG; Aimorés, MG; Campos dos Goytacazes, RJ; Chicago, IL - USA; Cutler Bay, FL - USA; Ebenhausen, Baviera - GE; Gainesville, FL - USA; Homestead, FL - USA; Kansas City, MO - USA; Lajinha, MG; Macaé, RJ; Manhumirim, MG; Miami, FL - USA; Orlando, FL - USA; Ponto de Cacimbas, São Francisco, RJ; Queimadas, BA; Rio das Ostras, RJ; Rio de Janeiro, RJ; São Fidélis, RJ; São João de Meriti, RJ; Vila Velha, ES; Vitória, ES.



“Venham e ouçam, todos vocês que temem a Deus; vou contar-lhes o que ele fez por mim.” Salmo 66.16



I.                    VITÓRIA, ES


1           Nascimento


Dona Maria Dourado subiu as escadas do sobrado na Vila Rubim em Vitória – ES. Ela era a parteira que fora chamada para atender a mamãe que estava para dar à luz.  Surpresa, ela recebeu a notícia de que eu havia chegado por conta própria. Tive pressa e cheguei primeiro que a parteira.

Mamãe estava lá onde morava a Vovó. Chegara de Aimorés, MG para me fazer uma capixaba, nome dado a quem nasce na capital do Estado do Espírito Santo.

Visitando a Vovó em outras ocasiões, éramos, cuidadosamente, avisados a não olharmos pela janela lateral do sobrado porque lá embaixo morava o Bicho Papão. Nunca me atrevi a olhar para o espaço que servia de entrada de luz e ar para a residência, mas que também era a habitação de um Monstro.

Das janelas da frente, adultos nos ajudavam a olhar, lá embaixo, o trilho dos bondes que passavam pela Vila Rubim.  A rua era formada de vários sobrados construídos um ao lado do outro,  ocupados por lojas, no andar térreo. Logo à frente da rua da Vovó ficava um braço do mar circundando a ilha de Vitória.



II.                  AIMORÉS, MG


  1..    Escuridão 

Essa era a cidade em que minha família morava na época do meu nascimento. Uma cidadezinha bonita que brotou no Vale do Rio Doce. O papai era o pastor da Igreja Batista. A mamãe era professora do Ginásio Pan-Americano.

Certo dia, a Dindinha, tia avó da mamãe, estava passando roupa com ferro à brasa. Cinzas se acumulam no fundo desse tipo antigo de ferro. O costume era balançar o ferro para frente e para trás, para eliminar as cinzas que poderiam sujar as peças de roupa que estavam sendo passadas.
Eu, com menos de cinco anos, cheguei por trás. Recebi uma pancada daquela peça quase incandescente na sobrancelha esquerda. Lembro-me da escuridão que tomou conta de mim. Não me lembro da dor. Até hoje o meu olho esquerdo é o mais fraco.  E tenho uma cicatriz na sobrancelha desde então.

2    2.    Orelha Furada

Furaram minhas orelhas para colocar um par de brincos de ouro de bolinha. A vizinha do lado trouxe pedras de gelo para ajudar no procedimento, aliviando a dor da perfuração. Esses vizinhos eram os únicos em toda a rua que possuíam uma geladeira. Talvez, em toda a cidade. 
Depois que cresci um pouco, dei asas a minha imaginação. Comecei a pensar que, possivelmente, eram fugitivos da Alemanha de Hitler se escondendo em Aimorés. Ele era alto, forte, bem claro e chamava-se Sr. Benz. Poderia também ser sócio da Mercedes-Benz, já que tinha tanto dinheiro que desse pra comprar uma geladeira.


       3.    O Médico de Vista 

Pouco depois que sofri o acidente com o ferro de passar roupas, o papai me levou a Vitória para uma consulta médica. 
De Aimorés a Vitoria a viagem era sempre feita no trem Vitória-Minas. Um trem bastante confortável para aquela época. Foi emocionante passar pelos túneis escuros, ouvir a locomotiva assobiar e observar o Vale do Rio Doce embelezando a moldura quadrada da janela. Como me senti importante fazendo aquela viagem de trem com o papai!
O consultório ficava num prédio alto na Av. Jeronimo Monteiro, próximo ao Palácio do Governo do ES.  E quanta emoção ao subir de elevador para o consultório! Olhar da sacadinha para a avenida lá embaixo me deu até calafrios.
Eu estava cheia de curiosidade para ser atendida por um médico de vista. Toda aquela experiência, sem dúvida, compensava o acidente!


4.   Óculos de Casco de Tartaruga 

Dado o diagnóstico: eu teria que usar óculos. Mas, as lentes eram quebráveis. O médico ponderou que eu deveria ser "levada". Sugeriu que esperássemos um pouco. Talvez estivesse mais comportada aos nove. E assim aconteceu. Aos nove anos, usei meus primeiros óculos - de casco de tartaruga. Vários outros a seguir foram do mesmo material. Hoje, aos 72 anos, voltei a usar óculos de casco de tartaruga, mas, são “fake”.
Sempre penso em óculos com gratidão a Deus. Nunca me esqueço de agradecer a Deus por eles, porque eles têm sido bons companheiros para a vida cotidiana e, em especial, para minhas leituras.



III.                LAJINHA, MG


           1.   Viagem de Carro de Boi 

Estávamos de mudança de Aimorés para Lajinha. Ambas as cidades ficam em MG. Um bom trecho da viagem foi feito de carro de boi. Lembro-me que era um dia de sol, mas que fazia muito frio.
Nós, os primeiros quatro dos sete filhos, viajávamos de pijamas de flanela. Dormimos em alguma pousada no caminho. Devo ter sido carregada no colo, dormindo, porque só me lembro da manhã seguinte.
Ao acordarmos, lavamos o rosto e escovamos os dentes no riacho que ficava nos fundos da pousada.  Fazia muito frio e uma bruma branquinha cobria as águas do riacho. Era uma cena tão bonita que se tornou inesquecível para mim.

2.      Ovo de Chocolate 

Em nossa primeira Páscoa em Lajinha, chegou pelo correio, uma caixa em meu nome. Uma enorme surpresa. A curiosidade foi grande.
Alguém me ajudou a abrir a caixa. Ela estava cheia de tirinhas de madeira para proteger o tesouro. Um ovo de chocolate bem grande! 
Foi feito e enviado por Dona Nenen Cauly, da cidade de onde havíamos nos mudado recentemente.
O ovo era todo confeitado com glacê, do jeito que as doceiras decoram bolos de aniversários. Foi um alvoroço só.  Que presente apetitoso! Esta foi a minha primeira experiência com os Correios e Telégrafos do Brasil. 
Dona Nenen era irmã do Pr. Manoel Leal. Ele foi o pastor que ocupou o lugar que o papai acabara de deixar em Aimorés. Os dois foram grandes amigos enquanto viveram.

      3.     O Padre Local

Não muito depois da nossa chegada á Lajinha, aos cinco anos de idade, aconteceu meu  encontro com o padre local.
Morávamos no centro da pequena cidade enquanto o papai construía nossa casa na chácara no Bairro Berra Onça, onde viveríamos por dez anos. A casa do centro era um sobrado branco, com janelas, portas e corrimão da escada cor de laranja.  Como não eram comuns carros nas ruas da cidade, eu podia brincar tranquila  com as crianças da vizinhança.

Numa dessas ocasiões, eu brincava com algumas meninas amigas. Estávamos abaixadas fazendo alguma coisa no chão – brincando com pedrinhas, riscando o chão batido da rua, coisas desse tipo. De repente surge um vulto  perto de nós. Era o padre da cidade em sua batina marrom. Minhas amigas, mais que depressa, ficaram de pé e beijaram a mão do padre que acabara de chegar.  Eu fiquei de pé, mas não fiz a mesma saudação que as outras meninas fizeram. O padre, então, me perguntou – “Você é filha de quem?” Pensei com os meus botões – “É esse ai que não gostou da vinda do meu pai pra cá, para ser o pastor da cidade”. Prontamente, respondi – “Sou filha da D. Aurizé”. Saindo, então,  em disparada para casa buscando segurança. Ainda ofegante, contei a minha experiência e a maneira que encontrei de me livrar do “perigo”. De vez em quando, o papai me lembrava desse meu encontro com o vigário local.


4    4.    O Pessegueiro

Na chácara do Berra Onça, a Dindinha, tia-avó da mamãe, dividia o quarto comigo. Ao lado da janela do quarto havia um pessegueiro. O papai gostava de plantar flores, fruteiras e hortaliças. O pessegueiro cresceu bastante e seus galhos ficavam acima do nosso telhado, feito de amianto, que na época era considerado um ótimo material para telhado por manter a casa aquecida. Fazia bastante frio em toda aquela região.
Em noites de ventania, um dos galhos se inclinava sobre o telhado e se arrastava até voltar a sua posição normal. E isto se repetia várias vezes. Com o corpo e a cabeça enfiados debaixo das cobertas, eu sofria repetidos arrepios. Sabia que era o galho do pessegueiro, mas, e aí, se não fosse?
Nessa época, aprendi com a Dindinha a orar pedindo a proteção de Deus. E desde então, encontro na oração coragem para enfrentar meus medos buscando a proteção divina.

Nosso pessegueiro ficava carregado de frutos. Os passarinhos que escapavam das atiradeiras dos meus dois irmãos, os devoravam. A mamãe decidiu, então, antecipar-se aos passarinhos. Assim, os pêssegos eram sempre colhidos verdes. Com eles, ela fazia uma geleia que ficava bastante azeda. Mas, na falta de outras guloseimas, comíamos sem reclamar daquela geleia.


      5.      Escuridão  (2)

Numa época de Natal, fomos fazer uma comemoração na roça. Seria um culto evangelístico de Natal, numa casa onde havia um “ponto de pregação”. A casa ficava nas montanhas. Minas Gerais é conhecida como a Terra das Alterosas, por ser um estado totalmente montanhoso.
Vários irmãos da igreja foram na carroceria de uma caminhonete. E eu, que sempre gostei de participar das atividades da igreja, fui com eles. Talvez, eu fosse a única criança no grupo. Não me lembro  muito bem.

Os vizinhos mais próximos compareceram. A casa ficou cheia. Havia um grande galho com sacolinhas de papel crepom cheias de balas e doces. Terminado o culto, os que vieram na caminhonete, saíram logo e partiram. Eu fiquei encantada com as sacolinhas. Olhava para elas, esperando que me dessem uma.
Ao notar a partida da caminhonete, sai correndo pela estrada escura.  Não era noite de luar. A escuridão era total. Chorei. Gritei. Senti o pavor do abandono e da escuridão. Não sei quanto tempo levou para darem por minha falta. Pareceu-me uma eternidade.
Até hoje, aos 72  anos (2017), em lugares desconhecidos, ainda vigio para não ser esquecida pelo grupo.


      6.      O Piano 

Uma pianista da cidade do Rio de Janeiro veio morar em nossa cidade - Dona Rita. Ela casou-se com o filho de um sitiante da cidade. O jovem esposo era dentista prático e também ourives (fazia joias).
 Passada a lua de mel, o papai me levou à casa deles. Fui matriculada como a primeira aluna de piano dela. Na caminhada, perguntei ao papai – “E se ela me ensinar música de Carnaval?” O papai me tranquilizou, dizendo – “Você aprende o que ela ensinar e, depois, toca o que você quiser”.
Havia muita distinção entre católicos e “crentes”, como éramos chamados naquela época. E um destaque especial para o que os crentes podiam e não podiam fazer. E eu já ouvira falar que a professora era católica. E eu sabia que Carnaval era coisa de católicos, não de crentes.

Ela era uma moça da cidade grande. O Rio era a capital do Brasil nesta época. Além de ensinar piano, passava também várias noções de civilidade a todos nós interioranos que nos relacionávamos com ela.

Nós tínhamos uma horta com grande variedade de verduras e legumes. De tempos em tempos eu levava para ela uma cesta cheia desses produtos. Era um sentimento bom presenteá-la com aquelas hortaliças fresquinhas. E ela ficava feliz!
Algum tempo depois, voltando de um passeio ao Rio de Janeiro, ela me presenteou. Trouxe uma pulseira dourada, que eu perdi na primeira vez que fui à igreja com ela.  Foi a primeira e última pulseira da minha vida!
Ganhei, também, um anel de pérola quando terminei o Curso Técnico de Piano em Campos (1971). Foi-me dado por Dona Nely Albernaz, que foi minha última professora de piano.
Fui, também, aluna de piano de Dona Elsa Lackshevitz durante o meu curso de Educação Religiosa no Rio. Mas, Dona Rita e Dona Nely influenciaram mais a minha vida. Foram duas joias preciosas para mim. 


Aos nove anos de idade, não sabia avaliar meus dotes musicais. E a professora, Dona Rita, era bondosa demais para me desanimar. Eu era desafinada e não tinha um ouvido musical. Mas, como nunca fui de desistir, fui em frente. Eu tinha que ir todos os dias a casa dela para praticar piano. Em casa, tínhamos apenas um pequeno harmônio portátil, onde eu aprendia os hinos do Cantor Cristão por conta própria.

Nessas idas diárias para estudar piano, descobri, na casa de umas primas, as foto-novelas, que eram revistas em quadrinhos, com histórias de amor. E, por algumas vezes, fiquei lendo as tais novelas, em vez de ir praticar no piano da professora. Levei um susto enorme quando D.Rita apareceu lá em casa para uma visitinha-surpresa.

Em outra ocasião, fiquei sem palavras diante da minha professora de piano. Logo que cheguei a casa dela para treinar piano, ela me levou à copa da casa deles para me mostrar algo. Pela cara dela vi que não era boa coisa. E não era mesmo. Ela apontou para a mesa de refeições e me mostrou. Lá estava, riscado com gilete ou canivete, o meu nome. Fiquei boquiaberta! Disse a ela que não fora eu. E, na verdade não fui eu mesmo. Ao que parece ela acreditou em mim. Nesse tempo, ela tinha vários outros alunos de piano, teoria musical e canto. Até hoje, às vezes penso, ¨Quem foi essa pessoa que quis me colocar naquela situação embaraçosa e por quê?¨.  Eles devem ter lixado e envernizado o móvel. Nunca mais ela falou sobre isso. Só Deus sabe quem fez aquilo e com qual intenção.

Fiquei honrada quando ela teve um bebê e colocou meu nome na nova filhinha.  Senti que ela tinha apreciação por mim, sua primeira aluna. E isso foi muito importante para mim depois da mesa riscada.


Acompanhar os hinos congregacionais e os coros da igreja ao piano, tem sido um dos meus maiores privilégios no serviço cristão. Ainda hoje (2018) me escalam para tocar nos cultos da PIB Macaé.

Fui professora de piano também.  Alguns alunos abandonaram o estudo, apesar de serem musicalmente talentosos, passando a seguir outras carreiras. Fico orgulhosa com os que se dedicaram e se destacaram na carreira musical: Eunice Gomes - regente e pianista; Luís Mauricio Carneiro - pianista, violinista e regente de orquestra; Anderson Silveira Mota - pianista, organista, regente, compositor, ministro de música.


IV.                AVÓS 


      1.    Maternos

Meu avô materno, José de Sousa, era delegado de polícia. Vivia com minha avó, Aurelina, em Queimadas, Bahia.
Um bandido escapou da prisão e o matou a pauladas. Na ocasião, ele e a vovó estavam assentados em frente à casa deles. Minha avó foi atingida também, e perdeu o bebê que estava esperando.

Entristecida, ela resolveu mudar-se para bem distante. Partiu com os filhos mais velhos, Nelson e Edelzuita, para Vitória, ES. A mamãe, Aurizé, que era a caçula, com seis anos então, viajou mais tarde com a Dindinha. As viagens eram longas e feitas de navio. A estrada Rio-Bahia ainda não existia.

Em Vitória, a vovó casou-se outra vez. O casamento com o Sr. Severino não deu muito certo. Mas, ela e esse segundo marido viveram numa mesma casa até o final de suas vidas. Cada um em seu próprio quarto. Acho que ele não queria perder as moquecas que a Vovó fazia.
Ninguém fazia uma moqueca (peixe ensopado) melhor que a Vovó Aurelina.  Até hoje, sempre que como moqueca, lembro-me dela.

Em Vitória, o meu Tio Nelson começou a trabalhar quando ainda era adolescente. Seu primeiro e único trabalho foi na  Western Union. Começou como “office boy”. Essa é uma empresa multinacional que oferece serviços financeiros e de comunicação. Continuou nela até se aposentar.

Minha Tia Nadé (Edelzuita) morreu jovem, de problemas cardíacos. Deixou quatro filhos, que foram criados pela vovó: Isabel, José, Aurelina e Elizabeth.
Betinha, a caçula, era ainda um bebê e a mais velha, Isabel, tinha quatro anos, quando ficaram órfãos de mãe. A vovó foi membro da PIB de Vitória, onde criou os filhos e netos.

      2.   Paternos

Não conheci minha avó paterna, Rosalina Ambrósio. Ela morreu de parto ainda bem jovem. Deixou três filhos: Maria, Horacina e Antônio, o papai, que era o caçula, também, como a mamãe o era.

O nome do vovô era Polidoro Rodrigues de Oliveira, mas todos o chamavam de Sr. Lica. Ainda bem que meus pais não deram o nome dele para um dos meus irmãos!
A casa do Vovô Lica era grande e tinha um quintal enorme onde um bando de galinhas d’Angola, muito bonitinhas com suas penas pretas de bolinhas brancas, cantavam “Tô fraco! Tô fraco!" Também não me esqueço das saborosas mangas que encontrávamos no quintal – manga espada, manga rosa e manga coquinho.

Casou-se mais três vezes depois da morte da Vovó Rosalina. Mas, só teve os filhos do casamento com ela. Naquele tempo, sem tratamento médico e atendimento hospitalar, as pessoas tinham uma expectativa de vida muito curta,  em especial as mulheres,  que tinham complicações no parto.

O papai e as irmãs ficavam um pouco aqui e um pouco acolá, em casa dos tios. O Tio Cornélio, irmão do vovô, deixou uma influência marcante na infância do papai. O menino órfão sempre o ouvia orando o Pai Nosso antes de dormir. O papai guardou no coração essa reverência e dependência de Deus. Algum tempo depois, ele iniciou sua própria caminhada espiritual, vindo a conhecer Jesus como seu Salvador e Senhor.

O Vovô Lica viajava muito. Ele tinha uma tropa de burros, que levava produtos da roça para a cidade e vice-versa. Não havia caminhões de transporte nessa época. As viagens eram longas e os tropeiros encontravam casebres ao longo da estrada para descansarem. Ali pernoitavam e faziam a sua própria comida. Até hoje a culinária brasileira usa o feijão tropeiro. Um mexidão feito, basicamente, de feijão, farinha, linguiça e couve.

Ele tinha passado dos 70 anos quando  arranjou mais uma namorada. Teria sido a quinta esposa, se não fosse  oposição dos três filhos.


V.                  A  DINDINHA 

Ela era tia-avó da mamãe. Chamava-se Ananias Moreira de Sousa. Era viúva e sem filhos. Sempre dedicou uma atenção especial à mamãe, desde que ela era pequena.

Quando a mamãe se casou, ela foi morar com meus pais. O papai ficou sendo como um filho adotivo para ela. Ele encontrou nela a mãe que perdera na tenra infância.  Ela o recebeu como o filho que nunca teve.
Foi uma boa administradora da nossa casa. Enquanto ela viveu, a mamãe tinha mais tempo livre para dedicar-se ao magistério e à educação religiosa da igreja.

Éramos sete filhos e morávamos numa grande chácara. Tínhamos toda liberdade para brincar por todo espaço ao nosso redor. A Dindinha tocava um sino para que estivéssemos todos à mesa para as refeições. De longe, ouvíamos o sino e sabíamos que tínhamos que ir para casa. Algumas pessoas achavam graça deste hábito de nossa família. Eu não gostava. Ficava toda envergonhada quando ouvia o sino tocar. A cristaleira era trancada à chave se houvesse sobremesa, para que todos pudessem comer.

Eu dormia no quarto e na cama da Dindinha quando pequena. Havia uma cama de casal e um guarda-roupa preto bem alto. Tinham sido comprados do Missionário Loren Reno que atuava em Vitória, quando ele se aposentou e voltou aos Estados Unidos. O guarda-roupa era de madeira, com um gavetão embaixo.
Havia um enorme espelho de cristal na única e pesada porta daquele móvel que era o motivo para meus pesadelos na infância. Sonhava que ele enrugava, se partia e depois voltava ao normal.

A Dindinha morou conosco até falecer. Nos últimos anos de sua vida, se comportava como se tivesse Alzheimer. Essa doença não era conhecida com esse nome, e ouvi pessoas dizerem que ela estava caduca.
Quando nos mudamos de Lajinha para Vitória em1960, levamos os ossos dela. Eles foram colocados na sepultura da família da mamãe. Estão no Cemitério de Santo Antônio, naquela cidade.

Aprendi a orar antes de dormir, com a Dindinha. Eu orava com medo do escuro. Orava com medo do galho do pessegueiro se arrastando no telhado. E continuei orando pela vida afora. Oro sem cessar. Busco a luz de Deus para iluminar meu caminho. Deus tem transformado os meus medos em confiança na proteção que Ele pode dar.

Há uma oração cantada que eu aprendi na infância e, mais tarde como avó, cantava para Micaela e Yuri quando eles ainda eram pequenos e vinham dormir em nossa casa. Perguntei à mamãe se tinha sido ela que cantava para nós dormirmos e ela disse que não. Deve ter sido a Dindinha, então. Desconheço o autor e compositor. Mas, assim diz a letra:

“Quando a noite vem, eu vou dormir, sem cuidados, sempre a sorrir. Eu não tenho medo. Eis o meu segredo: Dorme sossegado todo aquele que tem fé; dorme sossegado porque Deus está de pé.
Dissolveu-se a luz na escuridão, mas refulge em meu coração. Minha luz se apaga. Deus me acende estrelas para que eu descanse e durma em paz e sem temor. Vela sobre mim a sentinela do Senhor.”


VI.                A MAMÃE

Queninha - era como ela era chamada pelos familiares dela. Mas, o nome propriamente dito, era a junção do nome dos pais: Aurelina e José.  Aurizé Vieira Sousa era delicada e amável.

Cresceu frequentando a Primeira Igreja Batista de Vitória, no templo antigo da Rua General Osório. Estudou no Colégio Americano de Vitoria, atrás do Parque Moscoso. Depois foi para Escola Normal do Espirito Santo, ao lado do Palácio do Governo.

Terminado o Curso Normal, ela foi para o Rio de Janeiro em1939, para cursar a Escola de Obreiras. Este curso foi o embrião do curso de Educação Religiosa que eu conclui em 1964, no Rio de Janeiro. Ainda funciona (2017) com o nome CIEM - Centro Integrado de Educação e Missões. Na época da mamãe (e minha), era uma escola só para moças vocacionadas para o ensino cristão. Hoje aceitam pessoas do sexo masculino também. Ela já estava noiva do papai, que ela conhecera no Colégio Americano de Vitória.

Casaram-se na PIB de Vitória e exerceram o primeiro ministério na Igreja Batista de Ricardo de Albuquerque, Rio. Nesse período, nasceu meu irmão mais velho, Cornélio, que recebeu o nome do tio do papai que orava o Pai Nosso.

Anos mais tarde, encontrei uma ex-colega da mamãe da Escola de Obreiras. Ela comentou que a mamãe andava sempre muito bem vestida e arrumada. Mostrei minha estranheza diante desse comentário. A mamãe que eu conhecia era muito simples e sem vaidade. A amiga dela explicou que a maioria das alunas  vinham  do interior. Como a mamãe viera de uma capital, tinha mais traquejo social que as outras alunas. Mais tarde, a mamãe confirmou que, quando solteira ela trabalhava e tinha o seu próprio salário que a possibilitava vestir-se bem. Ficou esclarecida, então, a questão do charme da mamãe.


A vida da mamãe não foi nada fácil. Ela estava acostumada à cidade grande e a ser mimada pela Dindinha. Enfrentou, com coragem e boa disposição: a vida no interior de Minas Gerais por 15 anos; os filhos que iam nascendo a cada dois anos, totalizando sete;  o magistério no colégio que o papai fundara; o ministério de esposa de pastor; a morte da Dindinha e os apertos financeiros para sobrevivência de uma família grande.

Ela foi minha professora no Jardim de Infância em Aimorés  e na alfabetização, em Lajinha.  Gostava de cantar enquanto fazia os serviços domésticos. Era de pouca conversa e nos ensinava, citando provérbios.

Cuidou do papai durante a enfermidade dele (Parkinson) por duas décadas. Nunca reclamava nem perdeu a docilidade. Aliás, ela me fez uma reclamação, certa vez: “Gostaria de ter podido dar presentes a pessoas amigas e nunca pude dá-los”.  Fico pensando nessa reclamação feita justamente por ela, que teve seu lar aberto para estudantes, missionários, pastores, enfermos e desempregados. Sua mesa nunca era ocupada apenas pelos filhos e esposo. Sempre havia alguém mais com quem ela repartia nossa refeição.

Olhava sempre o lado ensolarado da vida. Nunca para as tempestades. Foi sempre uma ávida leitora. E comentava suas leituras conosco. Por isso, todos nós, os filhos, temos sido amantes dos livros, também. A força dela vinha dos seus momentos devocionais. A Bíblia e os livros devocionais eram o alimento espiritual dela.

Faleceu em 26/02/2011, aos 93 anos. Foi sepultada na mesma sepultura que o papai e a filha caçula, Anita, em Juiz de Fora.


VII.              O PAPAI

Totônio era como os parentes o chamavam. O nome completo era Antônio Ambrósio de Oliveira. Porém, Pr. Ambrósio foi como ele ficou conhecido.

Ficou órfão de mãe quando era bem pequeno. Morou em casa de alguns tios, aos quais sempre dedicou muita gratidão. Ainda bem jovem saiu para trabalhar numa loja em Manhumirim – MG, cidade não muito distante da Água Limpa, região onde a família morava.

Encontrou uma Bíblia nos fundos da loja e começou a lê-la quando podia. Ficou cheio de dúvidas quanto à questão das imagens de santos. Descobriu que o Velho Testamento proibia culto com imagens. Interrogou o padre da cidade, que o aconselhou a parar de ler a Bíblia. Foi procurar o Pr. Alberto Lessa da pequena igreja batista local. O pastor mostrou-lhe que a Bíblia como um todo apontava para Jesus e falou-lhe do Evangelho. O papai, então, foi convencido pelo Espirito Santo e rendeu-se a Jesus. A partir daí, Jesus se tornou o Salvador e Senhor da vida dele.

Numa de suas folgas, foi passear na casa do pai, levando consigo a Bíblia e sua nova experiência religiosa. Não foi bem recebido pelo pai. A sugestão que recebeu foi a de abandonar a Bíblia ou abandonar a casa paterna. Escolheu manter a Bíblia e seu novo relacionamento com Deus.

Falou do evangelho para as duas irmãs mais velhas, Maria e Horacina. Elas também entenderam o Evangelho se converteram. Foram crentes fiéis durante toda a vida delas.

Deus abriu uma porta para o futuro do papai. Foi estudar em Carangola - MG e, logo a seguir, no Colégio Americano de Vitória - ES, passando a morar no internato. Lá ele trabalhou em troca dos estudos e encontrou a mamãe, por quem se apaixonou. 

No final da vida, o Vovô Lica se mostrou mais aberto ao Evangelho. Nunca, porém, fez uma confissão de fé clara. Nem sequer pôs os pés na pequena Igreja Batista pastoreada por seu filho. Ficou a dúvida. Se recebeu Jesus como único Salvador pessoal, nós o encontraremos no céu.

O papai foi um marido amoroso. Sempre tratou a mamãe com amor e cuidado. Gostava de trazer algum presente para ela no retorno de suas viagens. Por ter sido órfão, falava para nós pouparmos a mamãe, ajudando-a sempre nos afazeres domésticos. A mamãe dormia cedo. Ele cuidava de nós quando adoecíamos ou nos machucávamos. Dava remédios. Fazia curativos.

A mamãe foi o grande amor da vida do papai. Ele apaixonou-se por ela quando, ainda um estudante no Colégio Americano Batista de Vitória – ES, ouviu uma professora cantando com as crianças e olhou pela janela. Ele olhou para ela e ela olhou para ele. Então, pensou consigo mesmo. “É essa!”.  A união durou até a morte dele, três meses após completarem Bodas de Ouro (50 anos de casados).

 Ele era um educador nato. Fundou um colégio em Lajinha que abençoou a vida de muitos jovens da região. Deu o nome de Ginásio “Ruy Barbosa”, em homenagem ao célebre baiano, que deu muito orgulho ao Brasil.

Além dos Cursos Primário (Alfabetização até a 4ª. Série), Ginasial (5ª até a 8ª. Série) e Contabilidade, havia também o Curso de Datilografia, que eu amava. Tínhamos lá, também, uma biblioteca e um laboratório. Não faltaram os times de voleibol e futebol. As disputas eram com times da região. E as comemorações cívicas eram famosas na região – no Dia da Independência (07 de setembro) e no Dia da Cidade (22 de junho).

Muito do meu tempo livre, na infância, foi passado na biblioteca do nosso colégio. Passei momentos mágicos ali. Li toda a coleção de Monteiro Lobato, O Tesouro da Juventude e outros livrinhos de histórias infantis.

Esse colégio foi vendido para o Governo de Estado de MG quando nos mudamos para Vitória. Passou a chamar-se Colégio Estadual “Dr. Adalmário José dos Santos” que ainda continua educando várias gerações de jovens daquelas bandas das Minas Gerais.

Aprendi lições inesquecíveis com o papai. Com a vida e com palavras, nos ensinava a sermos modestos, humildes e bondosos. Lembro-me de ouvi-lo dizer:
- "Quando fizer menção de alguém, nunca destaque os defeitos das pessoas: 'Aquela pessoa que tem nariz grande'; 'que manca'; 'careca'; 'gorda';  ‘dentuça’ etc”.
- “Quando for mencionar nomes, incluindo o seu, deixe o seu por último: 'Estávamos todos lá - Fulano, Sicrano e eu'".
Até hoje, sinto-me incomodada com tantos casos de falta de modéstia, humildade e bondade. E ele vivia o que pregava. Cheio de sensibilidade e amor ao próximo.

Foi o papai quem me batizou em 03/04/1955. Dei meu testemunho público por ter aceito Jesus como meu Salvador e Senhor ao ser mergulhada nas águas barrentas de um rio, por causa da chuva, na cidade de Lajinha, MG.
Foi o papai quem também oficiou o meu casamento com Aurecil dos Santos em 13/02/1965, na Igreja Batista Central de Vitória. O Pastor Manoel de Farias, que pastoreava nossa igreja, teve participação na cerimônia, também.


VIII.            CASA CHEIA

Muitos jovens viveram em nossa casa. O papai gostava de ajudar no desenvolvimento educacional deles, ao passo que, lhes dava oportunidade de trabalharem também. Alguns ajudavam no trabalho do Ginásio e outros no serviço de nossa casa, na horta, etc.

Tinha a Filó, a Rosália (aparentada com a mamãe), e a Chiquinha (prima do papai). Elas moravam na nossa própria casa. A Filó e a Rosália davam aulas e a Chiquinha cozinhava para os rapazes do Internato.

A Chiquinha e a Noêmia eram irmãs, primas do papai, filhas de um irmão do Vovô Lica, chamado Mário.
A Noêmia chegou com três filhos pequenos, abandonada pelo marido. Receberam casa para morar, estudo para os filhos e trabalho remunerado. Ela lavava e passava as roupas dos alunos internos que, naquela época, eram lavadas à mão no tanque, e passadas com ferro à brasa.

A Chiquinha era solteirona. Nome pejorativo que se dava para as moças que custavam se casar. Casou-se, com um viúvo, alguns anos mais tarde. Ela dava conta de cozinhar para os rapazes do internato, quase em número de cem. Alguns alunos internos ajudavam no serviço da cozinha e refeitório. Nossas refeições vinham da cozinha do internato, numa marmita. Em casa, fervia-se o leite, fazia-se doce de leite, papa de milho verde, geleia de pêssego, salada de frutas, cuscuz de milho todo domingo à tarde e, no meu aniversário de 11 anos, teve até empadinha de frango! Elas eram uma grande novidade na época. A esposa de um dos professores do colégio trouxe a receita quando mudaram para nossa cidade. Eles eram naturais de Formiga, uma cidade próxima à capital mineira, Belo Horizonte.

Certa vez, quando ainda era uma pré-adolescente, recebi um bilhetinho de um garoto e o perdi. A Chiquinha o achou e me deu uma grande bronca, com sérias ameaças de contar ao papai. Fez um tipo de chantagem comigo. Fiquei meio assustada e me sentindo culpada por um bom tempo, sem haver nenhuma razão para isso.

Essas primas do papai eram muito católicas. Conviveram bem com todos nós, sem, contudo, nunca terem visitado a Igreja que o papai pastoreava. Participavam ativamente das missas e procissões da Igreja Católica, que fazia muita oposição à nossa escola e igreja. Elas tinham  outra irmã, Luzia, que, de vez em quando aparecia para visitá-las. A Luzia era alta e magrinha. Lembro-me de ouvir pessoas falando baixinho: "Ela teve tuberculose!". A maioria das pessoas que ficavam tuberculosas naquela época, morriam. As sobreviventes eram sempre discriminadas.



IX.                OS IRMÃOS VIEIRA DE OLIVEIRA

Tivemos uma infância tranquila e feliz. Formávamos uma escadinha de sete crianças que iam chegando de dois em dois anos, aproximadamente. Morávamos numa casa espaçosa, que ficava à margem do córrego que limitava um dos lados da nossa propriedade.

E, convivemos com muita, muita gente. Algumas pessoas que foram ajudadas pelo papai nos trouxeram decepções, que aos poucos foram superadas com o nosso amadurecimento. Um dos meus filhos, certa vez, reclamou que eu mantinha nossa casa muito fechada para os outros. Acho que quis fazer as coisas um pouco diferentes  para nossos filhos. E espero que tenha funcionado bem assim.

Era à noite que nos juntávamos para brincar até gastar toda a energia e o sono chegar. Viajávamos de avião, enfileirando cadeiras no corredor, com o mais velho pilotando. Navegávamos na rede da varanda, por ondas tão turbulentas que numa daquelas noites, o barco virou e todos nós nos esborrachamos no chão, exceto o mais espertinho que era quem balançava a rede.

Os irmãos caçavam passarinhos e preás. Também ajudavam o papai a plantar fruteiras e milho para nossas papas.  Cornélio, o mais velho, plantou grama no campo de futebol do colégio sozinho. Ele era apaixonado por futebol desde pequeno. Fazia coleção de revistas esportivas, formando uma grande pilha delas. O José nos vigiava e policiava todo momento – queria que tivéssemos um comportamento exemplar. 


Tínhamos frutas frescas, verduras e legumes colhidos na nossa horta. O leite era entregue na janela da cozinha por um dos meninos da família Sathler, que chegava a cavalo e fazia a entrega sem desmontar do animal. Nosso fogão era à palha de café, já que Lajinha é uma região cafeeira. A palha era a casca seca, depois de retirado o apreciado grãozinho. Era o tipo mais comum de fogão por lá.  Dentro dele passavam canos e a água chegava a ferver na caixa. Tínhamos que temperar bem com a torneira de água fria na hora do banho. A água vinha de uma nascente na nossa própria chácara.

Eu gostava de contar histórias para as irmãs menores, imitando a mamãe e outras moças que contavam histórias bíblicas na igreja usando o flanelógrafo. Só que eu inventava as histórias, recortava figuras, cuspia nelas e as prendia nos azulejos do lavabo que havia em nossa sala de jantar. Houve até reclamação por parte da “audiência” que eu estava contando histórias assustadoras.

Inevitavelmente, crescemos. Cada um tomou seu rumo. Penso que a orientação que o papai nos dava, de escolher carreiras que fossem úteis à humanidade, foi seguida. Cada um, a seu modo, contribuiu e ainda contribui para tornar nosso mundo um pouco melhor. Nossos encontros como adultos aconteciam em nossas visitas aos pais em Juiz de Fora. Hoje, graças às redes sociais, mantemos contatos mais frequentes uns com os outros.


      1.    Cornélio 

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 24/12/1942, no mesmo ano da formatura do papai no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Neste tempo, ele já pastoreava a Igreja Batista de Ricardo de Albuquerque, na cidade do Rio.

O primogênito recebeu esse nome em homenagem a um tio do papai, aquele do Pai Nosso.
Exerceu a função de Indigenista. Trabalhou até sua aposentadoria para a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, do Governo Federal. Era sua tarefa providenciar atendimento às necessidades básicas de tribos indígenas. Viveu em vários estados brasileiros, entre as seguintes tribos: Trocara, Asurini, Munduruku, Parakana no Pará; Kraho em Goiás; Terena, Guarani em São Paulo; Pataxó na Bahia; Kaingang no Paraná; Awa-guaja – Maranhão; Waimiri, Atroari no Amazonas.

Casou-se com Rosália Cortes e teve dois filhos: Ilimani e Mauê. A netinha, Beatriz, é filha do Ilimani; o Ian, filho da Mauê. Está divorciado. Depois de aposentado, passou a viver em Juiz de Fora, MG.

2    2.   Miriam 

Nasci em Vitória - ES em 13/11/1944. Meu nome foi sugerido por uma prima da mamãe - Ester Nascimento. Nasci em casa da avó materna. Vitória é uma cidade muito bonita, também chamada “Cidade Presépio”. Sempre tive orgulho de ter nascido capixaba. Meus pais moravam em Aimorés, MG, onde ele pastoreava a Igreja Batista e a mamãe ensinava no Ginásio Pan-Americano. Fui aluna dela no Jardim de Infância lá.

Casei-me com o Pr.  Aurecil dos Santos. Tivemos três filhos: Renato, Jane e Fabiane. Aos quatro dedico parte especial das minhas memórias.
Exerci as funções de: Diretora do Internato Feminino do CBF em Campos, RJ; Professora Estadual (contratada) de Alfabetização e Educação Artística, em ocasiões diferentes; Professora do Seminário em Campos; Professora de Piano; Educadora Religiosa (voluntariado). E, para concluir, Conselheira Tutelar em Macaé, RJ. Estou aposentada. Meu esposo e eu moramos em Macaé, RJ.


3    3.    José 

Nasceu em Aimorés, MG em 17/02/1946. Recebeu o nome do nosso avô materno. Ele e o irmão mais velho, Cornélio, eram muito amigos e fizeram muitas travessuras juntos.
Fez o Curso de Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Teve dois Laboratórios de Análises Clínicas, um em Alegre e outro em Guaçuí, ES. Foi também o farmacêutico do Hospital Municipal de Alegre.

Casou-se com Neusa Tristão e teve três filhas: Andressa, Ingrid e Vivian. Andressa lhe deu o primeiro neto, Matheus; e Vivian, as netinhas Lara e Sara.

Aos 45 anos teve um AVC (acidente vascular cerebral) e algum tempo depois outro, ficando com várias sequelas. Mesmo assim, continuou exercendo a profissão por vários anos, em Alegre e ali viu suas filhas crescerem. Divorciou-se e aposentou-se nessa mesma cidade. Faleceu em 04/04/2013, aos 66 anos e lá foi sepultado.


4    4.   Rosalina  

Também nasceu em Aimorés, MG em 11/08/1948. Foi a irmã que recebeu o nome da avó paterna. Quando mudamos para Lajinha ela ainda era um bebê.

Fez, também, o Curso de Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Conheceu o seu esposo, Rubens Toledo de Carvalho, na Universidade. Depois de formados, abriram um Laboratório de Análises Clinicas em Santos Dumont, MG, onde exerceram a profissão por cerca de 40 anos.

Tiveram um casal de filhos: Natália e Carlos Rubens. As netinhas Stella e Ingrid são filhas da Natália; e Gabriela e Alicia, do Carlos Rubens. Ficou viúva. Está aposentada. Tem residência em Juiz de Fora -MG.

5    5.   Jane 

A primeira irmã nascida em Lajinha em 28/06/1950. Nasceu no sobrado branco de janelas e portas cor de laranja, no centro da cidade. Recebeu esse nome em homenagem a duas mulheres que influenciaram nossos pais: D. Jane, dona da pensão onde o papai morou em Manhumirim, quando jovem e D. Jane Soren, que foi professora da mamãe na Escola de Obreiras, no Rio.

Jane iniciou o Curso de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Não chegou a concluir o curso. Viveu algum tempo com Kenji Yamakoshi, de nacionalidade japonesa. Teve dois filhos: Ken e Akemi. Ela e os filhos passaram a morar com nossos pais enquanto eles viveram. Jane e Akemi continuaram a viver na mesma casa, após a morte do papai e da mamãe. João Pedro foi o netinho que a Akemi deu a Jane.

6    6.   Aurelina  

A segunda irmã nascida em Lajinha, em 27/04/1952, recebeu o nome da nossa avó materna. Em casa, nós a chamamos de Lela, apelido dado pelo José.

Quando ela nasceu, nós já morávamos na chácara nova. Na mesma propriedade em que foram construídos o prédio do colégio, o prédio do internato e os campos de futebol e voleibol. Os tijolos para nossa casa e para o colégio, foram feitos de barro tirado da frente da nossa casa. Nos buracos  escavados para retirar o barro, o papai fez açudes para peixes. Plantou eucaliptos ao redor. Era bonita a paisagem no entorno da nossa casa do Berra Onça!

Lela é a artista plástica da família. Cursou Belas Artes na Escola Guinard de Artes, em Belo Horizonte, MG. Pintou vários quadros muito bonitos. Fez o curso de Pedagogia na Faculdade Domenico, em Guarujá, SP. Foi professora de Educação Artística e Orientadora Pedagógica.

Casou-se com Pedro Henrique Duarte Ferreira, engenheiro civil. Tiveram três filhos: Juliana, Ana Luísa e Pedrinho.  Ana Luísa deu a eles o netinho Miguel, e Pedrinho, o Antônio.
Hoje faz curso de escultura em argila para lazer, e usa suas mãos para fazer coisas muito bonitas para presentear os netinhos. Ela e o esposo estão aposentados e residem em São Paulo, SP.

7    7.    Anita 

A caçula da família nasceu em Lajinha, em 07/09/1953, numa manhã de desfile cívico dos alunos do Ginásio “Ruy Barbosa”. Nesse dia, recitei do palanque uma poesia patriótica, cujas palavras não me recordo mais.  O bebê recebeu o nome de uma tia paterna do papai. Anita é o diminutivo de Ana.

Cursou Sociologia na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Num concurso para socióloga do INSS, passou em primeiro lugar. Trabalhou nesta profissão por um período de poucos anos. Sofreu uma enfermidade que a debilitou emocionalmente. Foi diagnosticada e tratada como esquizofrênica.  

Não se casou. Aposentou-se por invalidez. Faleceu aos 53 anos de idade em 03/10/2006. Foi sepultada em Juiz de Fora, MG.


X.                  TIOS E PRIMOS


1    1.   Tios

Não tivemos muitos tios. Tanto a família do papai como a da mamãe foram pequenas.

Do lado materno tínhamos: Tia Nadé (Edelzuita) e o Tio Vicente; Titio Nelson e Tia Alaídes. Todos já falecidos.
Do lado paterno tínhamos: Tia Maria e Tio Alberto; Tia Horacina e Tio Tininho (Altino).Todos já falecidos também. A Titia Horacina e o Tio Tininho faleceram com poucos dias de diferença um do outro
.
A Titia Horacina era boa para todos os sobrinhos, mas premiava  as sobrinhas de modo especial. Ela e o Tio Tininho tinham uma loja, onde vendiam tecidos, sapatos e aviamentos (linhas, fitas, bordados, etc). E ela era excelente costureira. Quando o Tio Tininho ia ao Rio fazer compras para sua loja, trazia figurinos com modelos dos vestidos mais atuais.  Como a Titia só tinha um filho - o Oscar, as sobrinhas eram o alvo das obras primas dela.

Os meus vestidos para os recitais de alunos de piano eram feitos com muito carinho por ela. Mesmo fora de festas e celebrações ela nos presentiava. Lembro-me de ter chegado da escola, certa vez, e encontrado um vestido novo pendurado no cabide. Era um vestido de tafetá (seda), de “corpo longo” (cintura baixa), que as moças usavam na época. Fiquei toda emocionada com a moda de “gente grande”.

A Titia Horacina foi uma mulher inesquecível! Presto aqui o meu tributo de gratidão ao amor dela por todos nós, os sobrinhos.


2    2.   Primos

Primos, nós os tivemos em boa quantidade! Não convivemos com todos eles por vivermos em cidades diferentes.

Da família paterna:

Filhos da Tia Maria e Tio Alberto: Rosalina (Filhinha), Edison, Terezinha, Ênnes, Élcio (Elcinho), Enny, Eunice, Alberto (Albertinho), Cornélio (Cornelinho), Áureo e Áurea (Aurinha) – gêmeos, Silvio, Antônio (Toninho) e Gilberto.
Dentre esses primos, alguns já faleceram: Filhinha, Edison, Terezinha, Ênnes, Elcinho, Eunice, Aurinha, Toninho e Gilberto.

A Filhinha fez meu vestido de noiva. Foi um vestido muito bonito!
O Edison nos hospedou por ocasião da Aliança Batista Mundial (1960), no Rio. Ele morava em Copacabana. Levou-me a uma loja e deixou que eu escolhesse uma roupa. Uma experiência que nunca seria esquecida por uma adolescente de 15 anos.
A Eunice foi minha professora de Português por um período curto de tempo. Mas, despertou em mim gosto pela escrita, quando me ajudou a escrever uma redação sobre a árvore. Ela me mostrou como é possível “colorir” com palavras.
A Aurinha era minha amiguinha de infância, apesar da  distância. Ela teceu (numa máquina especial) um vestido de malha amarelo e me deu de presente para o meu noivado.

O Oscar e eu éramos bons amigos. Compartilhávamos interesse por leitura. E ele falava sobre o interesse dele por algumas meninas, mencionando alguns possíveis namorados para mim. Essas namoradas e esses namorados eram só na conversa entre nós dois. Os candidatos nem imaginavam o que andávamos conversando.
Anos se passaram. Conheci Aurecil quando estava estudando no Rio. Ele tinha terminado o namoro com uma colega minha, chamada Lívia. Um pouco depois ele começou a me cortejar. Eu fiquei cheia de escrúpulos, com medo de magoar a amiga. Imaginem quem aparece para me visitar (1963) - o Oscar! Sentamos num banco em frente à escola. Contei a história para o meu confidente de infância. Ele incentivou o namoro, que culminou em casamento (1965).


Da família materna: 


Filhos do Titio Nelson e Tia Alaides: Marcia, Aleida, Nelson (Nelsinho), José Roberto (Bebeto), Carlos Alberto (Tonton),  Fernando e Gustavo. O Carlos Alberto já faleceu.
Tínhamos contato com eles quando íamos de férias a Vitória. Com a nossa mudança para lá em 1960, os contatos foram mais frequentes.

Filhos da Tia Nadé e Tio Vicente: Isabel, José, Aurelina (Ina), Elizabeth (Betinha). Esses são os primos que ficaram órfãos de mãe bem pequenos. Foram criados pela Vovó Aurelina. Quando visitávamos a vovó, sempre estávamos com eles.
O Tio Vicente casou-se novamente. Lembro-me que a Vovó tinha ciúmes da nova esposa dele. Não era nada generosa quando se referia a ela.


XI.                PAIXÃO POR LIVROS

Vivi quinze anos em MG (1944 - 1959), divididos entre Aimorés e Lajinha. Foi uma infância cheia de muitas aventuras. Andei bastante de bicicleta. Li muitos livros na biblioteca do Ginásio "Ruy Barbosa"- a Coleção de Monteiro Lobato completa, textos de O Tesouro da Juventude e muitos outros livros de histórias infantis.

Encomendei pelo Correio, pelo sistema de reembolso postal, o livro “Viagens Maravilhosas de Marco Polo”, de Lúcia Machado de Almeida. Fiquei encantada com a narrativa das viagens. Até hoje conservo em minha escrivaninha esse tesouro.

Ganhei, no meu aniversário de 11 anos, o aniversário que teve empadinhas, os livros – David Livingstone e O Peregrino, de John Bunyan. Eram ilustrados e com letras bem grandes. Esses dois livros marcaram muito a minha vida. O primeiro narrava o trabalho do médico inglês, missionário em terras africanas. O segundo, em linguagem figurada, contava a jornada difícil de um cristão neste mundo, a caminho da cidade celestial. Foram presentes do Pr. Joaquim Pedrosa, que na ocasião fazia conferências evangelísticas em nossa igreja.

Até então, meus pais haviam se dedicado ao ministério pastoral e ao magistério. Em Aimorés - Igreja Batista e Ginásio Pan-Americano. Em Lajinha - Igreja Batista e Ginásio Ruy Barbosa.


XII.              VITÓRIA, ES

1. Retorno

Aos meus 15 anos de idade, partimos para a cidade de Vitória. A mamãe alegrou-se muito com o retorno a Vitória. Ela crescera ali. Sua mãe e seu único irmão estavam radicados também nessa cidade. Durante os anos passados em Vitória, a mamãe visitou a Vovó Aurelina todas as tardes, com raríssimas exceções.

Ela não voltou a ensinar. Sentia-se cansada e com a saúde um pouco abalada. Precisou passar por uma cirurgia e recuperou-se bem.

Participamos  da Igreja Batista Central, que se reunia no Colégio Americano Batista. Fomos ovelhas do Pr. Alexandre Serrat (boliviano) e a seguir, do Pr. Manoel de Farias (português). Nela, os Cultos de Oração eram às quartas-feiras. Em algumas quintas-feiras fui com a mamãe  ao Culto na Primeira Igreja Batista de Vitória, cujo templo era ainda o antigo, na Rua General Osório. Eu me encantava com o belo vitral existente naquele templo antigo e tão bonito. Lembro-me da alegria da mamãe lá, reencontrando outros velhos amigos. O pastor PIB de Vitória naquela época era o Pr. Nilson Fanini

Na Capital Capixaba, todos nós, os sete filhos, estudamos no Colégio Americano Batista. O mesmo colégio onde o papai e a mamãe haviam estudado. Éramos todos ou pré-adolescentes ou adolescentes. Nossa casa em Vitória fervilhava com a energia dos Vieira de Oliveira. Nesse período em Vitória, aproveitamos as praias e tivemos outros privilégios que a vida numa capital oferece.

Nossa casa, como sempre, serviu como hospedagem para missionários, pastores e seminaristas em trânsito. Até um casal de seminaristas veio passar a lua de mel em nossa casa. Imaginem! Numa casa cheia de adolescentes!


2.      Cisão e União

O papai assumiu o cargo de Secretário-Executivo da Convenção Batista Espiritossantense (1960). Visitou as igrejas enfraquecidas em todo o estado do ES.

Aprendeu a dirigir depois dos 40 anos de idade. Viajava num Jeep Willys, por estradas sem asfalto. O propósito do coração dele era unir as igrejas batistas do Estado, cujos líderes haviam se desentendido. Alguns deixaram a Convenção já existente, a Capixaba, e formaram a outra. Como o papai estava fora do Estado por ocasião do conflito, e ele tinha amigos na liderança de ambas as convenções, trabalhou pela unificação com muita dedicação.

Depois da fusão das duas convenções, partiu para a última etapa de seu ministério pastoral. Mudou-se para Juiz de Fora. Pastoreou a Primeira Igreja Batista daquela cidade até sua aposentadoria, por invalidez. Dos 60 aos 80 anos o papai sofreu com o Mal de Parkinson. Não reclamava do sofrimento. Era espirituoso, fazendo comentários até jocosos sobre o tremor resultante da enfermidade.

Na ocasião da mudança de Vitória para Juiz de Fora, eu era recém-casada e não fui morar em Juiz de Fora. No entanto, nossas viagens com os filhos pequenos eram sempre para lá. Nossas crianças curtiram muito as visitas à casa do Vovô e da Vovó e a atenção das tias e tios. Juiz de Fora é uma cidade bonita e atraente. Os filhos visitavam o Museu Mariano Procópio e  fazíamos compras  de roupas para toda a família. Lá encontrávamos preços bons e roupas bonitas. Havia muitas confecções de roupas na cidade naquele tempo.


XIII.            RIO DE JANEIRO, RJ

Concluído o Curso de Formação de Professores, fui para a cidade do Rio fazer o Curso de Bacharel em Educação Religiosa (1962). A viagem de Vitória ao Rio levava 12 horas de ônibus. Ainda estavam abrindo e asfaltando a estrada BR101. Até então, as viagens eram feitas costeando o litoral.

Meus pais não tinham telefone em casa. Nossos contatos eram por carta. Às vezes, o papai vinha ao Rio para reuniões da Junta de Missões Mundiais e assim, eu podia matar um pouco a saudade da família.

Por estar distante e sem dinheiro para ir a Vitória nos feriados prolongados, muitas vezes fiquei quase sozinha em todo o prédio da escola. Atrás do prédio de aulas e internato havia outro prédio menor com várias salas contíguas, com pianos para as alunas estudarem. Numa dessas salas  eu me refugiava tanto para estudar piano quanto para cantar hinos quando estava triste. Até hoje, esta tem sido a forma de me confortar e fortalecer diante dos embates da vida. Toco e canto baixinho os hinos do Cantor Cristão ou do Hinário Para o Culto Cristão até me sentir fortalecida emocional e espiritualmente.

Nesta escola, cada aluna lavava e passava suas próprias roupas. Tínhamos que arrumar a cama antes de descer do terceiro andar para o café da manhã no andar térreo. Havia fiscalização constante. Se deixássemos qualquer objeto pessoal fora do lugar, esse objeto era apanhado e colocado no "prego" (guardado). Para tê-lo de volta tínhamos que pagar uma pequena quantia em dinheiro. Aprendi a ter um lugar para cada coisa e manter cada coisa em seu devido lugar.

As alunas faziam serviços, como: arrumar mesas, lavar louça, limpar banheiros, etc. Logo que cheguei ao ITC, meu primeiro serviço doméstico foi limpar, diariamente, o banheiro do terceiro andar, que era o maior de todos. A funcionária encarregada de fazer a distribuição do trabalho doméstico veio me pedir desculpas. Ela tinha visto as fotos das novas alunas e, pela minha foto 3/4, tinha achado que eu era uma pessoa alta e forte, por isso, tinha me colocado para lavar aquele banheiro grande. Para minimizar a situação, ela mesma vinha me ajudar todas as manhãs. Embora eu não tivesse reclamado ou pedido para trocar de serviço.

Todas estas exigências paralelas ao estudo das matérias de Educação Religiosa, me ajudaram  a ser dona de casa logo após o curso. Mesmo não sendo extremamente exigente, consigo manter a casa em ordem. Cada coisa tem o seu lugar e volta para ele logo após o uso. Posso encontrar uma agulha no escuro.

Durante esse curso conheci o rapaz com quem me casei - Aurecil dos Santos. Ele era estudante do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, cursando Bacharel em Teologia. Eu cursava o Bacharel em Educação Religiosa (ITC). Começamos a namorar no Dia dos Namorados - 12/06/1963. Ficamos noivos em 09/07/1964. Nosso casamento foi no Salão Nobre do Colégio Americano de Vitória - 13/02/1965.


XIV.            AURECIL 

Ele nasceu em um sitio em São Fidélis, num local chamado Penedo. Eu nasci em Vitória, onde há uma pedreira, cartão postal da cidade, chamada Penedo. Ele tem uma irmã chamada Aurelina. Eu tenho uma irmã, uma prima e a avó materna chamadas Aurelina. Ele tinha um avô chamado José e eu também. Coincidências da vida.

Aurecil passou a infância no sitio dos pais, Aurélio dos Santos e Othelina Cardoso dos Santos. Seus avós e pais já eram cristãos na ocasião do seu nascimento. Participavam da Igreja Batista. O meu sogro liderava uma Congregação Batista bem próxima à casa deles no Penedo. Todos os filhos cresceram frequentando aquela congregação.

Aurecil era o mais velho de uma “turminha” de 12 irmãos que o seguiram na seguinte ordem: José Carlos, Cézar, Aurênio, Elias, Gutemberg, Aurelina, Willas, Maria Isaura, Aristides, Alda e Sara. Vinte anos separam Aurecil da irmã caçula, Sara.

Saiu para a cidade de São Fidélis, para estudar, aos 12 anos de idade. Ficou numa pensão por seis meses. Depois que seus avós paternos deixaram o sitio e foram para a cidade, ele passou a morar como eles. Os avós eram –‌ José Augusto dos Santos e Isaura Louback dos Santos.

Dois anos depois, foi morar no Internato para estudar no Colégio Batista Fluminense em Campos. Trabalhou em troca da bolsa de estudos, cursando ali até o Ensino Médio.

Durante os anos em Campos uniu-se à Segunda Igreja Batista, ligada ao Colégio Batista Fluminense por ser pastoreada pelo diretor daquele educandário. Esta igreja o recomendou ao Seminário no Rio. Anos mais tarde, ele a pastoreou por 14 anos.

Cursou: (1) Bacharel em Teologia no Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, RJ; (2) Filosofia na Faculdade de Mogi das Cruzes, SP (curso à distância); e (3) Direito na Faculdade de Direito de Campos dos Goytacazes, RJ; (4) Mestrado em Divindades no Midwestern Baptist Theological Seminary em Kansas City, MO – USA.

O sítio dava muito trabalho. Todos ajudavam no trabalho  de onde tiravam todo o sustento. Arroz, feijão, frutas, verduras, legumes, leite... O leite tirado das vacas. O alimento colhido da terra. Comiam carne de porco e de galinha que eles mesmos criavam.

Quando matavam um porco, enviavam uma porção para os vizinhos, que agiam da mesma forma quando abatiam um suíno. Faziam linguiça em casa. Na falta de geladeira, era assim que preservavam a carne: fritavam toda a carne de porco e a guardavam na gordura, que se condensava e a conservava até acabar. A carne não devia durar muito com uma família tão grande como a deles!

Aurecil é determinado e trabalhador. Um bom administrador. Aprendeu com o pai a nunca gastar mais do que ganhava, e a ter uma vida simples. Passamos apertos financeiros no início da nossa vida conjugal. Precisamos vender um acordeão que ele possuía e usara para tocar nas Escolas Bíblicas de Férias que fazia durante os períodos de férias, bem como o anel de formatura do Curso de Bacharel em Teologia. Assim, equilibramos nossa vida financeira naquela ocasião, e continuamos bem equilibrados até o dia de hoje.

Poucos dias depois de casados, os irmãos de Aurecil, Cézar e Aurênio, vieram morar conosco. Por dois anos dividimos com eles o nosso arroz com feijão e ovos, que era o que comíamos mais frequentemente. Algum tempo depois, tivemos oportunidade de ter salários que nos davam um sustento melhor. E eu, que também  sempre exerci alguma atividade remunerada, participava diretamente no sustento da família. Nunca compramos o mais caro ou o melhor. Comprávamos de acordo com nossas posses. Sempre tivemos nossas contas em dia, graças ao nosso trabalho como casal e à boa administração dele. Em casa, ele ainda conserta tudo que quebra ou estraga. Só não conseguiu ainda consertar  fósforo queimado! Mas, quem sabe, algum dia... Da minha parte, sempre cuidei bem do que tínhamos. Tenho pano de prato de 30 anos, lençol de mais de 50 em bom estado de conservação. Mas também, doamos coisas que, embora estivessem em bom estado de conservação, não nos estavam sendo úteis.


Os da família Santos que já partiram:
Maria Isaura, irmã (25/09/1955 - 23/03/1956), aos seis meses de idade, de meningite. 
- Willas, irmão, (22/09/1952 - 23/10/1994), aos 42 anos, de problemas cardíacos, resultado de infecções constantes na garganta, que causaram febre reumática quando pequeno.  
- Aurélio, pai (28/09/1917 - 23/03/1998), aos 80 anos.  
- Othelina, mãe (25/09/1920 - 25/01/2010), aos 90 anos.

A Maria Isaura foi sepultada no Penedo, em São Fidélis. Os demais estão sepultados no Campo da Paz, em Campos dos Goytacazes, num jazigo que compramos quando nossos filhos ainda eram bem pequenos. É lá que desejamos ser sepultados.


XV.              GUAXINDIBA 

Quando morávamos em Campos, certa vez, para aproveitarmos o verão na praia, dormimos com as crianças numa salinha da Igreja Batista de Guaxindiba. Era a única igreja naquela época. No domingo, Aurecil pregou na igreja. Esse foi o acordo feito.

Em outro verão, ficamos na pensão do Sr. José Areas, nome do proprietário. E, coincidentemente, a pensão ficava bem em cima da areia da praia. De outra vez, alugamos uma pequena casa perto da pensão e, em outro verão, fomos para a praia de Grussaí. Nossa família gosta do mar.

Planejamos construir uma casa em Guaxindiba. Lá o mar é calmo e a vida é tranquila. Os barquinhos de pescadores ficam ancorados perto da arrebentação, embelezando o cenário.
Pusemos nosso plano em ação.  Uma construção bem simples, mas bem planejada. Logo que as paredes, o teto, os banheiros e a cozinha ficaram prontos, começamos a usá-la. Completamente inacabada. Nós mesmos colocamos os azulejos no banheiro social. Tania, que mais tarde veio a se tornar nossa nora, veio nos visitar, e também ajudou a colocar alguns azulejos. Já vi lugares em que os azulejos não ficaram tão bem colocados como os nossos, modéstia à parte.

As boas lembranças das nossas idas à Guaxindiba são muitas. As crianças soltas, brincando, se divertindo ao ar livre. Sendo o mar muito manso, as idas à praia eram muito agradáveis e tranquilas. Os camarões fresquinhos e gostosos que nos davam bastante trabalho para limpar e preparar. Sem falar nos encontros agradáveis com amigos de Campos e São Fidélis que veraneavam por lá também.

Fizemos móveis de alvenaria: camas, mesa redonda na copa, escrivaninha, sofás e armários embutidos sem portas. Fiz almofadas para os assentos e, embora fosse tudo rústico, desfrutávamos de relativo conforto.

Na copa, no espaço reservado para armário, Aurecil colocou quatro madeiras roliças e fixou nelas umas prateleiras improvisadas.  Cada vez que íamos para lá, eu as forrava com papel pardo com umas flores recortadas para decorá-las. Anos mais tarde, quando profissionais colocaram os armários modulados em nossa casa de Macaé, lembrei-me das nossas prateleiras de Guaxindiba e me emocionei. Senti Deus me dizendo que era uma recompensa do meu zelo com as prateleiras de anos atrás. Eu sempre O senti por perto em todos os lugares onde estivemos.

Uns amigos de Renato estavam vendendo picolé na praia. Ele ficou todo interessado em entrar para o "ramo do picolé". Providenciou uma caixa de isopor e partiu para a venda dos picolés. Só que, os bem sucedidos no negócio, iam gritando pela praia: "Olha o picolé! Olha o picolé!¨
Quando ele se aproximou do local onde nós ficávamos na praia, ele ainda não tinha vendido nenhum picolé, por vergonha de gritar "Olha o picolé!" Aurecil resolveu o problema comprando todos os picolés da caixa de isopor. Diante da dificuldade encontrada, Renato resolveu, então, escolher outra carreira!


XVI.             MACAÉ, RJ

Planejávamos passar nossa velhice em Guaxindiba, São Francisco, RJ. Com as voltas que a vida deu, vendemos a casa de lá para construir outra em Macaé, RJ. Se sonhávamos passar a velhice na praia, nossa ida para Macaé, a Princesinha do Atlântico, nos levou a planejar a venda da casa de Guaxindiba.

Em Macaé, teríamos o mar e os médicos por perto durante a velhice. Pusemos uma placa “VENDO” na casa de Guaxindiba. Por cerca de dois anos, pessoas ligavam pedindo informações. Mas, nunca retornavam para confirmar a compra. Finalmente encontramos um barranco de frente para o mar em Macaé. Ficamos tão empolgados que nos dispusemos a vender o carro para comprar o barranco.

Com a intervenção bem clara de Deus, no dia seguinte, um amigo da cidade de Campos, telefonou que queria comprar a nossa casa que estava à venda. Dentro de algumas horas o negócio estava fechado e, com o dinheiro na mão, compramos o barranco e construímos os muros.

Levamos quatro anos construindo, antes de nos mudarmos para a casa nova. Morávamos até então, ao lado da Primeira Igreja Batista de Macaé, na casa pastoral. Aos sábados e feriados fazíamos, pessoalmente, pequenos serviços na obra: lixar, dar a primeira demão de tinta etc.  Aurecil desamassava os pregos espalhados pelo chão para recicla-los. Mudamos para a casa, inacabada, por ocasião do 30º aniversário de Renato, 08/07/1996.

Chorei de alegria quando, pela primeira vez, pude ver já através de uma vidraça bonita toda a vastidão do Oceano Atlântico tão azul diante de mim! Uma manifestação da graça e amor extravagantes de Deus. Ele tem sido bom em todo tempo! 


XVII.          NOSSOS FILHOS

Deus nos abençoou com três filhos: Renato, Jane e Fabiane. Cada um deles tem um lugar especial em nossos corações. Apesar das nossas limitações como pais, a graça de Deus tem sido abundante. Eles se tornaram bons cidadãos e seguidores fiéis de Jesus. Os três foram batizados pelo pai aos sete anos de idade. Eles nos trazem alegria e enchem nosso coração de gratidão por serem quem eles são.

1.      Renato 

Ele nasceu em 08/07/1966. Aurecil estava no primeiro pastorado dele, na Igreja Batista de Parque Araruama, São João do Meriti. O Hospital Evangélico SASE ficava na cidade vizinha de Duque de Caxias. Nesse hospital, chegou o nosso primogênito.

Lembro-me que não fiquei nem um pouquinho com pressa de voltar para casa, receosa de não saber cuidar bem do bebê. Porém, chegando em casa, a primeira pessoa que apareceu para ver Renato foi uma enfermeira conhecida que se ofereceu para dar o primeiro banho. Fiquei toda feliz sentindo que Deus sempre me socorreria, e também me capacitaria a cuidar bem do nosso filho. E assim aconteceu. Quando vieram as duas meninas eu já estava bem treinada para cuidar de bebezinhos.

Quando ele tinha seis meses de idade, fizemos nossa mudança para Campos dos Goytacazes, onde ele cresceu. Moramos, nesta época, no Internato Masculino do Colégio Batista Fluminense. Aurecil era Diretor do Internato e Professor no Seminário. Eu auxiliava a diretora do Internato Feminino, estudava e dava aula de piano para algumas alunas internas. Quando saia para o trabalho, uma das moças do Internato Feminino vinha ficar com Renato. Os alunos davam muita atenção a ele pela grade da varanda da nossa moradia.

Estudou no Colégio Batista, e no Liceu de Humanidades Campos. Foi membro ativo da Segunda Igreja Batista. Nela, conheceu Tania Ferreira da Silva, que veio a ser sua esposa e mãe de seus filhos: Lívia Maria, Ana Laura e Jonathan Caio.

Terminou o Ensino Médio, fez Faculdade, Mestrado e Doutorado nos Estados Unidos. Reside com a família em Cutler Bay - FL, onde trabalha como um dos Vice-presidentes do Sistema Batista de Saúde, atuando na coordenação da Capelania Hospitalar.

2.      Jane

Foi a segunda a chegar. Nasceu em 09/04/1969 em Campos, no Hospital da Beneficência Portuguesa. Morávamos no Internato Feminino, nesta ocasião. Aurecil dirigia o Internato Masculino e eu, o Feminino. As meninas do Internato eram sempre atenciosas e carinhosas com o bebê. Não faltaram colos e carinhos para ela.

Como o irmão mais velho, Jane também participou das atividades da Segunda Igreja Batista de Campos. Estudou no Colégio Batista Fluminense. Fez parte do Ensino Médio nos Estados Unidos e cursou um ano de Artes em Campbellsville - KY, Estados Unidos. Tem “mãos de fada” e faz muitas coisas belas com elas.

Casou-se com Craig Alan Porter, um oficial do exército americano. Tiveram dois filhos: CJ (Craig Jr) e Caleb. Hoje estão divorciados. Os filhos, que cresceram em Macaé, estão atualmente, estudando nos Estados Unidos.

Trabalhou, como secretária bilíngue, em multinacionais do petróleo por vários anos, em Macaé.


3.      Fabiane

Nossa  caçula, também nasceu no Hospital da Beneficência Portuguesa de Campos em 05/12/1972. No mesmo dia em que o Vovô Ambrósio, meu pai, fez 60 anos.

Quando ela nasceu já não morávamos mais no Colégio Batista Fluminense. Mas, ela iniciou seus estudos nesse colégio, como os dois irmãos mais velhos. Fez o Curso Básico nos Estados Unidos e o Ensino Médio no Colégio Americano Batista de Vitória. Cursou Sociologia no Georgetown College, KY – USA.

Era ativa nas atividades infantis da Segunda Igreja Batista de Campos, onde Aurecil era pastor.
Tem trabalhado por vários anos como secretária bilíngue em multinacionais do petróleo.

Casou-se com Adriano Barreto de Sousa (dentista), cuja família foi ovelha nossa na PIB de Macaé. Micaela e Yuri são os netos que eles nos deram. Residem na cidade de Macaé.


XVIII.  IGREJAS ONDE SERVIMOS


1.       Igreja Batista de Parque Araruama, São João do Meriti – RJ (1964 – 1966)

Aurecil ainda era solteiro quando começou a pastorear essa igreja. Meses depois entrei na historia. Lá, ficamos dois anos. César e Aurênio, irmãos de Aurecil, moraram conosco durante todo esse período. Eles já eram jovens e estavam iniciando a vida profissional.

A igreja era pequena, mas dobrou o número de membros durante o nosso tempo ali. Subíamos e descíamos morros a pé, visitando enfermos, pessoas com vários tipos de dificuldades, novos convertidos etc. Era um lugar com temperaturas muito altas. Muito difícil de se aguentar.
Nesse tempo, trabalhei como professora estadual contratada também. Peguei  turma de alfabetização.

Ocupamos um apartamento novinho em cima de uma padaria. A igreja o alugou e mobiliou com muito carinho para nós. Renato, nosso primogênito nasceu quando estávamos lá. Tenho lembranças muito boas dos irmãos desta nossa primeira igreja.


2.       Igreja Batista de Ponto de Cacimbas, São Francisco – RJ (1967 – 1969)

Depois de consultarmos a Deus em oração, e após recebermos um segundo convite, nos sentimos inclinados a aceitar o convite de Campos dos Goytacazes. Fizemos nossa mudança em janeiro de 1967.

Moramos algum tempo no Internato Masculino, onde Aurecil trabalhou como diretor. Willas e Aristides, irmãos de Aurecil, vieram também morar conosco em Campos. Aristides era ainda uma criança (9 anos) e Willas um adolescente (15 anos). Quando nos mudamos para o Internato Feminino, Aristides permaneceu no Internato Masculino e Willas voltou para a casa dos pais, em São Fidelis. Eu assumi a direção do Internato Feminino e Aurecil, continuou a trabalhar no Masculino.

O Pr. Ebenézer Soares Ferreira, que era o diretor do Colégio Batista Fluminense na ocasião, foi quem nos convidou e também  nos encaminhou para o trabalho nessa outra Igreja. Cada final de semana, viajávamos para Ponto de Cacimbas..

A nossa segunda igreja ficava num vilarejo chamado Ponto de Cacimbas, distrito de São João da Barra naquele tempo.  No inicio viajávamos de ônibus com Renato no colo e Jane na barriga. Depois compramos nosso primeiro carro - um fusquinha azul. A igreja era pequena assim como o vilarejo, o que facilitava o trabalho de visitação aos membros. Naquele tempo exíguo de sábado e domingo, fazíamos visitas e pregações.

Havia uma casinha ao lado da igreja com uma cama de casal e um filtro. Tomávamos refeições num abrigo de idosos, criado e administrado por um irmão de Igreja. O Irmão Manoel Carola tinha muito amor a esse abrigo, que ficava atrás da igreja. Lá, ficamos conhecendo e nos tornamos fãs do Bolo Amélia (feito com leite quente e coco ou queijo ralado), famoso naquela região.
Quantas lembranças boas temos da amabilidade dos irmãos dessa igreja!

Jane nasceu em Campos nesse período e Renato, que era bem pequeno nesta época, lembra-se apenas do jacaré que havia num poço entre a igreja e o asilo. Talvez fosse uma preparação para a carreira dele na Flórida, onde a gente pode encontrar um jacaré em qualquer pocinha d'agua.



3.       Segunda Igreja Batista de Campos dos Goytacazes – RJ (1969 -1983)

Aurecil recebeu o convite para pastorear esta igreja através do Pr. Joélcio Rodrigues Barreto. Na ocasião, esse pastor estava deixando a igreja para fazer curso de mestrado nos Estados Unidos. A Segunda Igreja fica próxima do Colégio Batista Fluminense onde morávamos e trabalhávamos.

Novas preces foram feitas buscando a orientação de Deus. Pouco depois, iniciamos a nossa terceira etapa, servindo a Deus nessa Igreja. Foram 14 anos de dedicação ali (1969 - 1983).
Muito trabalho. Muita dependência de Deus. Um período de crescimento na graça e no conhecimento de Jesus. Essa igreja também dobrou sua membresia durante nosso trabalho ali.

Fabiane, nossa caçula, nasceu neste período. Nossos três filhos - Renato, Jane e Fabiane, foram batizados pelo pai, na Segunda Igreja Batista de Campos.

 Ali,  Aurecil desenvolveu um trabalho de visitação aos membros da Igreja por ocasião de enfermidades, nascimentos, necessidades especiais e, especialmente, por ocasião  dos aniversários. Quando o número de membros aumentou ele passou a escrever cartas do próprio punho para cada aniversariante, passando depois a enviar um cartão com mensagem padronizada para todos os membros da Igreja. Nas outras igrejas, não deixava de telefonar no dia especial de cada membro. Sempre encontra ex-ovelhas agradecidas por esse cuidado especial que ele dedicou a cada uma delas.
Pelo Facebook temos contato com vários irmãos desta amada igreja. É sempre uma alegria reencontrá-los.

Nesta Igreja eu formei três corais infantis, aos quais demos os nomes de "Pequenos Cantores I, II, III". Participávamos de cultos na igreja e fizemos apresentações  especiais de Natal em locais públicos -  Coreto do Liceu e Prefeitura Municipal, para funcionários e prefeito.

Durante os anos em Campos dos Goytacazes, além do trabalho no Internato do Colégio Batista, fui professora estadual de Educação Ártística (contratada), professora de piano, e professora nos Cursos Pré-Teológico e Seminário Batista Fluminense.

Assumi a liderança de Crianças da Associação Batista da Planície por alguns anos, bem como da União Feminina Fluminense, por um ano.

Fiz parte do então chamado Grupo de Currículo da União Feminina Missionária Batista do Brasil. Meu nome foi apresentado pela ex-professora, Charllote Estelle Vaughn. Reuníamos anualmente para planejamento na sede da União Feminina, no Rio. Escrevi algumas séries de lições para a revista “O Pequeno Missionário” que teve seu nome mudado para “Amigos de Missões” e, posteriormente, para “Sorriso”. Contribui também com alguns devocionais para "O Manancial", revista trimestral que depois passou a ser livro anual, com meditações diárias muito apreciadas pelas famílias batistas.

Indo para as reuniões anuais, saia de ônibus de madrugada e chegava de volta à Campos bem tarde naquele mesmo dia. Certa vez, no meu retorno do Rio, encontrei Jane e Fabiane alvoroçadas. Havia um rato dentro da cômoda do quarto delas. Elas tinham ouvido o barulho e o chiado dele. Fiquei surpresa e desanimada, pra não dizer desesperada! Morávamos numa casa pastoral recém-construída. Não havia terrenos baldios por perto e, eu estava extremamente cansada. Encostei-me no móvel e, realmente, pude ouvir o barulho e o chiado do rato. Exclamei - "Oh, Senhor!". Imediatamente o barulho cessou. Chamei Aurecil. Ele veio, abriu a gaveta e o rato estava morto. No dia seguinte, toda a roupa foi lavada e a cômoda desinfetada.
Aurecil não gostava que eu repetisse essa historia. Não sei por quê? Orações não precisam ser formais para serem respondidas. E, para algumas, a resposta vem na mesma hora! 



XIX.            KANSAS CITY, MISSOURI  – USA (1983 – 1987)

Deus nos deu o privilégio de fazermos curso de mestrado. Aurecil cursou Divindades (Teologia) e eu, Educação Religiosa. Estudamos no Midwestern Baptist Theological Seminary. Neste período, Aurecil também visitou Israel com uma caravana de alunos do Seminário.

1.      Mestrado

Já havíamos aprendido com Jacó que Deus está em todo lugar (Gênesis 28.16).  Mas, a vida em outro país nos provou isto.

Por um período de quatro anos nos congregamos com a Park Hill Baptist Church. Essa Igreja nos adotou como família. Deram a cada um de nós muita atenção e apoio. Nos feriados de Ação de Graças e Natal sempre éramos convidados por alguma família da igreja para participar da celebração com eles.

Um casal aposentado nos visitou todas as quintas-feiras à noitinha, durante os quatro anos que lá ficamos - Mr. Wayland e Mrs. Dorothy Thatch. Cada semana ele trazia uma pequena oferta enviada por pessoas que  preferiam não se identificar. Mais tarde, esse casal nos visitou no Brasil, quando estávamos em Vila Velha - ES. E ela veio a Macaé, junto com uma amiga de Fabiane - Susan Brahams. Ambas tocaram no casamento de Fabiane e Adriano.

Nosso pastor em Kansas City foi o Dr. David Overman, que também nos visitou em Macaé. Nessa ocasião, pregou na Primeira Igreja Batista de Macaé e trouxe uma oferta para a compra de um templo pré-fabricado para a missão que tínhamos em Mar do Norte, Rio das Ostras. Essa missão é, hoje, uma forte igreja, que já construiu um templo maior e usa o pré-fabricado para estudos bíblicos.
Ainda hoje mantemos contato pelo Facebook com alguns irmãos de Kansas City.


2.      Neve

Faz muito calor e muito frio também em Kansas City. Chegamos lá no verão e o calor era escaldante. No outono e primavera a temperatura é até mais fria que o inverno do Sudeste do Brasil. No inverno o frio é intenso. A neve transforma a paisagem completamente.

Fiquei sem saber como me comportar quando caiu a primeira neve. As crianças tinham saído para a escola e Aurecil, para aulas no seminário. Eu seria a ultima a sair. Olhei pela janela e vi flocos de neve flutuando no ar. Já estava usando o casaco sobretudo, luvas e cachecol. Mas, ai veio a pergunta - "Levo guarda-chuva ou não?" Na duvida, levei o guarda-chuva. Decisão difícil para quem cresceu nos trópicos.

Enquanto caminhava para o prédio de aulas, os flocos de neve flutuavam e dançavam no ritmo do vento, entrando embaixo da sombrinha. Entendi que guarda-chuva não servia pra nada e o fechei. Flocos se acumularam nos meus ombros, enquanto eu lutava para ajustar o cachecol, cobrindo a boca e o nariz. Entrando no prédio de aulas, foi só sacudir os flocos de neve para não derreterem e me molharem com o calorzinho do aquecimento central.

Já sabíamos mais ou menos  como nos comportar no inverno de Kansas City, quando Aurecil e eu fomos participar de um "jantar progressivo". Era uma programação da nossa classe de estudo bíblico da Igreja celebrando o Natal, numa noite de sexta-feira. O luar estava tão claro que iluminava a neve, quase transformando a noite em dia. Um espetáculo aos nossos olhos! Nos dava a sensação  de que estávamos ao vivo num cartão de Natal, daqueles antigos.

Agora, sobre o "jantar progressivo". Fomos á primeira casa para comermos aperitivos. A seguir, cada um entrou em seu carro, indo para segunda casa degustar o prato principal. E por ultimo, saímos para outra casa para comermos a sobremesa. Em uma das casas houve um momento devocional com muitos cânticos natalinos.

Nesse Natal, todos comentavam que há muitos anos não havia uma nevasca tão grande como em 1983. Foi o nosso "batismo" de neve.

3.      Tornados

Tornados não são incomuns no centro-oeste americano. Tornado é uma tempestade de vento e chuva. O vento vem em forma de um imenso redemoinho, destruindo casas, levantando carros etc. A direção do tornado nunca é previsível como a dos furacões. O tornado pula de um lugar para outro.

O filme "O Magico de OZ", com sua  bela musica "Over The Rainbow", foi inspirado, há muitos anos atrás, em um tornado em Kansas, estado vizinho do Missouri, onde estávamos.

Morávamos em um duplex (casa germinada) no campus do seminário. Uma casa baixa de madeira, dividida em duas residências iguais. Várias dessas construções que serviam de residência para os estudantes do seminário ocupavam as ondulações do terreno. Outros alunos residiam em prédios baixos em outra área, dentro do mesmo campus.

Algumas residências tinham um porão, que serviria de abrigo para um determinado numero de famílias de estudantes, em caso de alarme de tornado. O abrigo para cada grupo de famílias já era, previamente, determinado. Nosso duplex não tinha porão. Teríamos que sair para um desses abrigos em caso de aviso de tornado.

Chegou o dia de enfrentarmos nosso primeiro tornado. Os vizinhos, sabendo que éramos estrangeiros, vieram nos alertar. Imediatamente, nos dispusemos a sair. Menos um de nós - Aurecil.
Ele decidiu enfrentar o tornado sozinho.  E quem conseguiu demovê-lo daquela decisão? Planejou ficar e se esconder debaixo da mesa, caso o tornado chegasse. Felizmente, o tornado pulou em outra direção. Depois, surgiram outros avisos de tornado, mas que não aconteceram também, graças a Deus.


4.      Escolhas dos Filhos

O tempo passado nos Estados Unidos influenciou muito o futuro dos nossos filhos, tanto quanto à vida pessoal quanto à carreira profissional deles.

Renato escolheu ficar nos Estados Unidos. Estudou Psicologia na Southwest Baptist University, em Bolivar - Missouri. Fez Mestrado em Aconselhamento Pastoral no Southern Baptist Theological Seminary, Louisville - Kentucky. 

Logo após a formatura veio trabalhar como capelão do Sistema Batista de Saúde (1995) em Miami. Hoje, ele coordena toda a capelania dos nove hospitais (onze em 2020) que agora pertencem ao Sistema. Concluiu o doutorado em 2017, ao mesmo tempo em que enviava o último dos três filhos para a faculdade (agosto/2017).

Sua esposa, Tania, com Mestrado em Enfermagem, também trabalha no Sistema Batista de Saúde. Ela é brasileira. Foi membro da Segunda Igreja Batista de Campos dos Goytacazes e estudou com Jane no Colégio Batista Fluminense.

Eles têm três filhos: Livia Maria, formada em Psicologia e Mestrado em  Administração Pública. Casada com Marcelo Barcelos. Ana Laura, cursando Enfermagem na Universidade Internacional da Florida. Jonathan Caio, fazendo faculdade em Tallahassee, capital da Flórida. 


Jane voltou ao Brasil conosco (1987). Concluiu o Ensino Básico e cursou parte do Ensino Médio em Kansas City, fazendo o último ano Colégio Americano de Vitória - ES. Retornou aos Estados Unidos e cursou um ano de Artes em Campbellsville, Kentucky.

Casou-se com um militar americano, Craig Alan Porter. O primeiro filho, Craig Jr (CJ), nasceu quando moraram na Alemanha. Aurecil e eu fomos visitá-los em Ebenhausen. O segundo, Caleb, nasceu nos Estados Unidos, pouco antes de estourar a guerra no Iraque, para onde o pai foi enviado e cumpriu três períodos sucessivos de serviço militar.

Jane veio para Macaé com os dois filhos pequenos, onde trabalhou como secretária executiva bilíngue para firmas da área do petróleo. Os dois filhos cresceram conosco em Macaé. Na adolescência, desejaram estudar aos Estados Unidos. Assim, com a graça de Deus, retornaram. Caleb, fazendo Ensino Medio (High School). CJ, foi promovido e pulou dois anos de High School (Ensino Médio). Entrou no Santa Fe College para um programa chamado "Dual Enrollment",  onde ele teve as aulas de faculdade e mais matemática e inglês em nível de High School. Eles estão estudando em Gainesville, FL.


Fabiane, também, retornou ao Brasil conosco (1987), concluindo o Ensino Médio no Colégio Americano de Vitoria - ES. Voltou aos Estados Unidos quando ganhou uma bolsa de estudos, para cursar Sociologia no Georgetown College, no Estado do  Kentucky. Lá, ela descobriu que, muitos anos atrás, um brasileiro importante havia estudado naquela mesma universidade – o Pr. Francisco Fulgêncio Soren, pai do Pr. João Filson Soren. Ambos foram pastores da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro.

Depois de formada, Fabiane retornou para Macaé, onde sempre exerceu a atividade de secretaria executiva bilíngue em multinacionais do petróleo.

Casou-se com um rapaz de Macaé, Adriano Barreto de Sousa, cuja família era nossa ovelha na Primeira Igreja Batista. Nosso genro é dentista  atuante  nessa cidade.

Seus filhos são: Micaela, terminando o Ensino Fundamental (2017). Yuri, cursando o 6o. do Ensino Fundamental (2017).



XX.              IGREJAS ONDE SERVIMOS (2)

4. Primeira Igreja Batista de Vila Batista, Vila Velha – ES (1987 – 1991)


Quando retornamos dos Estados Unidos, após nossos cursos, aceitamos o convite desta Igreja, onde trabalhamos por quatro anos (1987-1991). Uma Igreja muito dinâmica e com muito bom  gosto  musical. Lembro-me dos belos cânticos de louvor ali cantados.
Minha participação na igreja era ao piano - tocando nos cultos, nos ensaios e apresentações do coral da Igreja.

Renato havia ficado nos Estados Unidos por sentir que Deus assim o conduzia. Jane e Fabiane vieram conosco. Ambas cooperaram conosco nessa amada Igreja ao tempo em que terminaram o Ensino Médio no Colégio Americano de Vitoria, onde meus pais, eu e meus irmãos também estudamos.

Um momento marcante em nossas vidas aconteceu neste período - nossas Bodas de Prata - 25 anos de casados em 1990. A Igreja nos preparou uma bela surpresa - um culto formal de gratidão, recepção logo após a cerimônia e direito a um período em um chalé nas montanhas, em Vista Linda, no mesmo Estado.

Uma Igreja muito carinhosa com o pastor e sua família. Guardamos doces lembranças dos queridos irmãos da Primeira Igreja Batista de Vila Batista em Vila Velha. Também usamos o Facebook para contatos frequentes com algumas pessoas de lá. Agradecemos a Deus a tecnologia atual que nos proporciona tais encontros.



5. Primeira Igreja Batista de Macaé, RJ (1991 – 2008)

Já estávamos há quatro anos em Vila Velha - ES, quando recebemos a visita de seis irmãos de Macaé para nos convidar a fazermos uma visita àquela Igreja. O objetivo da visita seria conhecermos a Igreja e dela sermos conhecidos. Depois desse contato, a Igreja e nós estaríamos em oração, pensando num futuro pastorado ali. Assim fazendo, dentro de alguns meses aceitamos o convite que nos veio dessa Igreja.

Partimos para Macaé, deixando os queridos irmãos de Vila Batista. Aliás, eles nos prestigiaram com a presença, em grande numero, no culto de posse de Aurecil em Macaé (1991). Nunca esqueceremos essa homenagem que nos foi feita.

Como toda Igreja, essa precisava muita atenção e cuidado. Estava enfraquecida por problemas de liderança anteriores à nossa chegada. Há um ano os irmãos vinham orando por um novo pastor.

Fizemos visitas e cultos nos lares, encontros de casais e de famílias, retiros no belo sitio da Igreja na Bicuda Pequena; pregações e estudos bíblicos, cultos de oração matutinos e no meio da semana. Promovemos também várias vigílias de oração, que iam até a madrugada.

Por algumas vezes, antes de nossa chegada, a Igreja havia cogitado de expandir o templo. A cidade passava por seu apogeu no crescimento e progresso, por ser a sede da Petrobrás na chamada Bacia de Campos. Havia necessidade de instalações adequadas para o desenvolvimento da educação religiosa, bem como mais espaço no santuário e, sem falar de um local para estacionamento dos carros. Curioso notar, que quando chegamos para Macaé havia apenas cinco carros pertencentes aos membros da Igreja. Esses carros ficavam estacionados na rua. Um deles foi roubado e houve desejo que a igreja cobrisse o prejuízo porque o proprietário estava na igreja na ocasião do roubo.

A liderança investigou a possibilidade da aquisição dos imóveis dos fundos ou da direita. Não houve disponibilidade. Surgiu, então, a oportunidade de fazermos permuta com um terreno grande e limpo que ficava na praça mais próxima, a cerca de 500 m de distância, e no inicio da mesma rua do templo existente.

Depois de muitas reuniões de liderança, toda a Igreja aprovou a permuta, que foi efetuada. Pouco tempo depois, duas pessoas da liderança começaram a duvidar se seríamos capazes de construir um novo templo. Levantaram a ideia de quão doloroso seria deixar o antigo templo. A Carta aos Hebreus 12.15 aponta para esse perigo: "Nem haja alguma raiz de amargura que brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos sejam contaminados." Houve essa contaminação!

Aqueles líderes prepararam uma lista de membros dispostos a pedir carta demissória (de transferência) para a Quarta Igreja Batista de Macaé (1996). Ficou claro para a cidade inteira, já que Macaé é uma cidade relativamente pequena, a insatisfação desses líderes com a decisão tomada pela maioria dos membros. Pessoas de fora da Igreja comentaram  sobre esse assunto na época e até bem recentemente, também.

Não muito tempo depois, parte desse grupo saiu e formou a Igreja Batista Memorial de Macaé. Aurecil compareceu à reunião de organização da nova igreja. Eu não tive amadurecimento emocional suficiente para me fazer presente. Com um novo desentendimento entre eles mesmos, mais uma vez, outra parte do grupo saiu e formou mais uma, a Igreja Batista da Imbetiba. As duas igrejas formadas por eles ficam no mesmo bairro, com pequena distância entre elas.

Recentemente, um grupo deles voltou para a Primeira Igreja Batista de Macaé, insatisfeitos com a Igreja Batista da Imbetiba. Estávamos lá, já aposentados, mas dispostos a apertar a mão daqueles que estavam voltando. Nunca deixamos de cumprimentá-los.

Foi uma experiência de muito sofrimento, tanto que cheguei a desejar a morte. Narro esse fato doloroso para testemunhar que, mesmo na Igreja do Senhor Jesus, quando se está na liderança, às vezes, enfrenta-se oposição humanamente impossível de ser suportada. Somente a presença de Deus, buscada em oração e leitura bíblica e o apoio de crentes amorosos trazem a renovação de forças para  atravessar períodos como esse. Sou filha de pastor. Presenciei membros de Igreja implicantes com o meu pai também. Porém, nunca culpei a Igreja ou o Evangelho pelas fraquezas dessas pessoas. Soube fazer distinção entre o amor e cuidado de Deus para com os Seus e tais comportamentos.

A Igreja prosseguiu em seu trabalho. A primeira parte do projeto foi o prédio de Educação Religiosa, com salas para estudo bíblico, salão de festas, um santuário e um bom estacionamento.

A construção do prédio de educação foi iniciada e está concluída. A Igreja ainda se reúne no santuário desse prédio. O projeto completo inclui um santuário bem grande, a ser construído, em frente ao prédio de educação religiosa.

Durante a construção, a Igreja se uniu para enfrentar os desafios. Fazíamos almoços, cantina, bazar e campanhas. Foi um período de muito trabalho, mas também de crescimento na fé individual e coletiva.

Tivemos o privilegio de liderar as comemorações do centenário da Igreja (1898 – 1998), com várias atividades especiais, culminando com uma Assembleia Extraordinária da Convenção Batista Fluminense em Macaé.

Depois de um sério acidente automobilístico (2008), Aurecil ficou bastante debilitado, com dificuldades respiratórias que afetaram sua capacidade de falar por período de tempo mais longo. Após 18 anos de trabalho (1991-2008), nos afastamos do trabalho ministerial da PIB Macaé, embora tenhamos continuado ali como membros.

Não nos transferimos para outra Igreja da cidade. Todas as pessoas mais conhecidas, todos os amigos mais chegados eram os irmãos da Primeira Igreja Batista de Macaé. Nossa filha caçula, Fabiane e sua família, são membros dela também. Deliberamos ficar sem, contudo, interferir ou opinar em questões decisórias da Igreja para não nos tornarmos inoportunos ao pastor em exercício. E assim temos nos alegrado em ainda conviver com os queridos irmãos dessa Igreja. 

A PIB Macaé nos deu, como presente de aposentadoria, uma viagem à Argentina. De lá, por nossa própria conta, demos uma esticadinha até o Uruguai.
Renato e Tania (filho e nora) também nos presentearam com um cruzeiro às Bahamas. Fizemos o passeio com a família dele.
Somos gratos a Deus, e aos doadores, por esses dois presentes especiais. Foram duas formas de celebrar o final da nossa carreira ministerial. Assim pensávamos nós! 



5.      Primeira Igreja Batista no Âncora, Rio das Ostras, RO (2013 – 2014)

Deixando a liderança da PIB Macaé, Aurecil foi dar apoio a uma missão da mesma Igreja, que já havia se organizado em Igreja. Esta Igreja está localizada na cidade vizinha de Rio das Ostras, RJ.

O pastoreio na Primeira Igreja Batista no Âncora foi por dois anos. Nesse período, Aurecil completou 50 anos de ministério pastoral (2014).
A Igreja organizou uma bonita celebração com Culto de Gratidão e recepção no final. Uma expressiva presença dos irmãos da Primeira Igreja Batista de Macaé abrilhantou a comemoração.

O Pr. Robson Botelho Nunes dirigiu a reunião. Ele tinha auxiliado Aurecil nos últimos anos de trabalho em Macaé. O Pr. Robson Melo Câmara,  pastor atual da Primeira Igreja Batista de Macaé, foi o pregador. O coro e a orquestra dessa mesma igreja, participaram ativamente do louvor.

Somos muito gratos aos irmãos da Igreja Batista do Âncora pelas festividades promovidas no Jubileu  Ministerial de Aurecil. Foi uma festa muito bonita. Tivemos a presença de quase todos os netos. Só a mais velha, Lívia, não pode estar presente. Lá estavam, Ana Laura, Jonathan, Craig Jr., Caleb, Micaela e Yuri. Nossas filhas, Jane, Fabiane e o genro Adriano também celebraram conosco naquela ocasião tão especial.



XXI.            BODAS DE OURO  (13/02/1965-13/02/2015)

Nesta ocasião, já estávamos aposentados. Vivendo em Macaé, mas um pouco reclusos. No lugar de festa, fizemos e cumprimos um planejamento diferente.

(1) Preparamos três álbuns fotográficos com novas fotos de nós dois  e outras com as famílias dos filhos. Um álbum para cada filho.   
       
(2) Visitamos três serras, consideradas atrações turísticas. Li que, quem vive nas montanhas deve passear no litoral e vice-versa. Já que moramos em frente ao mar, para nosso próprio bem estar, subimos estas serras:

- Sana, na Serra Macaense. Passamos a virada do ano 2014/2015 numa pousada ali. Natureza exuberante e comida boa. Momento de gratidão a Deus pelo ano encerrado e de súplicas pelos dias, meses e anos que ainda temos a frente.

- Serra dos Órgãos, em Teresópolis. Fizemos esta viagem com Jane, CJ e Caleb. Comemoramos também, os 75 anos de Aurecil (21/01/2015). Tiramos fotos tendo ao fundo a belíssima Serra, onde fica a pedreira conhecida como "O Dedo de Deus".

- Gramado e cidades vizinhas, na Serra Gaúcha. Esta viagem foi feita nos dias das Bodas de Ouro. Região muito bonita e diferente do sudeste brasileiro, onde nascemos, crescemos e servimos ao Senhor. Terra das hortências! Coincidentemente, a decoração da Igreja Central em Vitória, para o nosso casamento em 1965, foi feita com essas flores.

Quando fui combinar sobre a decoração da Igreja na floricultura próxima a ela, fui informada que alguém já tinha encomendado as flores e a decoração da igreja, e que pedira sigilo. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo agradecida.

A Igreja estava muito bonita no nosso casamento! Havia hortências ladeando o tapete vermelho desde a porta de entrada, duas argolas douradas, simbolizando alianças, acima da cortina vermelha da Igreja, com um drapeado de tule branco  decorado com buquês de hortências.
Fico pensando nas festas sofisticadas dos nossos dias. E me pergunto –“Que noiva iria para o seu casamento sem saber que tipo de ornamentação encontraria?”  A vida já foi muito mais simples do que a que se vive hoje. Acreditem! Será que ainda vou descobrir quem foi a pessoa que nos abençoou com esta dádiva?



XII. DESPEDIDAS


1.       Papai - (05/12/1912 - 03/03/1993), aos 80 anos.

Ele teve uma vida saudável, tendo, de vez em quando, alergias na pele. Aos 60 anos foi diagnosticado com Mal de Parkinson. Uma doença degenerativa do cérebro que causa tremores, rigidez dos músculos, levando, com o tempo a completa invalidez.
Por vinte anos, até completar 80, esta enfermidade o fez sofrer muito. Mas, nunca reclamava e mostrava-se sempre confiante e esperançoso.
Nos últimos anos e meses, ele já estava completamente inválido e mal conseguia falar. Para ele, como cristão, a morte seria o descanso daquele longo sofrimento. A mamãe cuidou dele todos esses anos de enfermidade.

Recebi o telefonema da Jane, minha irmã, na madrugada do dia em que ele faleceu. Todo o meu corpo se esfriou e fiquei sentindo calafrios, embora fosse ainda final de verão. Deitei-me tentando me aquecer um pouco, mas sem conseguir nenhuma melhora. À medida que o dia clareava, levantei-me e fui olhar pela janela da casa pastoral em Macaé, que é voltada para o leste. O sol já estava despontando e dois raios de sol formavam um caminho que se abria em direção ao céu. Vendo aquela  luz radiante que se abria, tive a sensação de que aquele tinha sido o caminho que o papai havia trilhado há poucas horas. Nesse momento senti meu corpo se aquecendo e os tremores desapareceram.

Viajamos de Macaé para Juiz de Fora para o sepultamento. O culto de despedida foi na Primeira Igreja Batista de Juiz de Fora  a qual ele havia pastoreado até a sua aposentadoria. Foi sepultado na cidade de Juiz de Fora.

2.      Anita - (07/09/1953 - 03/10/2006), aos 53 anos.

Nossa irmã caçula era loirinha e muito esperta. Quando bem pequena caiu num dos açudes de peixes que tínhamos em nossa chácara. Foi retirada da água pela Jane, que era um pouco maior. Depois disso, o papai colocou cerca no entorno dos açudes.

Anita foi bem sucedida nos estudos e formou-se em Sociologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Trabalhou como socióloga do INSS, tendo passado em primeiro lugar no concurso para o cargo. Trabalhou por poucos anos e aposentou-se por enfermidade.  Começou a fumar, e o fez até o final precoce de sua vida.

Não se casou e não deixou filhos. Tinha um bom coração. Às vezes, já doente, telefonava para mim pedindo que contasse alguma coisa engraçada que os sobrinhos tinham feito ou falado. Alegrava-se com todos os sobrinhos. Amava, de forma especial, os filhos da Jane, Ken e Akemi, e ajudou os três, financeiramente, enquanto viveu, deixando, inclusive, um seguro de vida para a Jane.

Numa de nossas idas a Juiz de Fora, Anita conversou comigo sobre sua vida espiritual. Disse que tinha Jesus como Salvador pessoal. Recitou as palavras de Pedro para Jesus, citadas em Joao 6.68: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna." Nós duas nos ajoelhamos e oramos juntas.

O papai e a mamãe eram dependentes da Anita na GEAP, plano de saúde para servidores públicos federais. Depois da morte dela, a Lela, a Rosalina e eu contribuímos, mensalmente, para pagar o plano de saúde para a mamãe, como dependente do Cornélio no mesmo plano para funcionários públicos federais.

Ela foi sepultada na sepultura da família, junto com o papai em Juiz de Fora.



3.      Mamãe - (23/09/1917 - 26/02/2011), aos 93 anos.

Ela sempre foi uma pessoa tranquila. Tinha grande prazer em ler. A leitura preferida era a Bíblia e os livros devocionais.

Apesar de ter tido uma vida de lutas, gostava de viver. Falou-me que gostaria de chegar aos 100 anos. Participava das atividades para idosos da Primeira Igreja Batista de Juiz de Fora e, em casa, fazia exercícios físicos na cama, antes de levantar-se. Sempre comeu pouco. Gostava de comprar legumes e verduras para cada dia. Caminhava, diariamente, até ao mercadinho para ter saladas frescas. Por isso, ela era uma velhinha forte. Tomava remédios, regularmente, para pressão arterial e outros probleminhas da idade.

Depois de um tombo na casa da Rosalina, em Santos Dumont, e consequente quebra de um fêmur, foi hospitalizada, em janeiro de 2011. Após uma cirurgia, que não foi bem sucedida, teve que passar por outra. E, por ficar muito tempo deitada, surgiram complicações de saúde - pneumonia, paralização dos rins, levando-a a falecer.

A Lela (Aurelina) e o Cornélio deram assistência a ela durante o tempo de hospitalização.

Quando a mamãe deu entrada no hospital, Aurecil e eu estávamos em Miami, visitando nosso filho e sua família. Ao retornarmos fomos a Juiz de Fora visitá-la, mas ela já estava em estado de coma. Nós dois cantamos alguns hinos bem pertinho dela, para confortá-la. Li que o último sentido que o doente terminal perde é a audição. Por isso, cantamos para ela alguns dos hinos que ela cantava ao fazer suas tarefas domésticas. Uma médica do UTI nos viu e veio emocionada se apresentar como ex-ovelha do papai. 

Ficou hospitalizada na UTI por menos de dois meses, sendo muito bem atendida por médicos e enfermeiros. Durante o período de hospitalização da mamãe, alguns exames que precisavam ser feitos não tinham cobertura do Plano GEAPE. Mas, foram todos feitos e a Rosalina, a  Lela e eu os pagamos  durante os seis meses que seguiram a morte dela. Sou grata a Deus por termos tido condição financeira de participar no tratamento dela da forma mencionada.

De lá, saiu para o verdadeiro lar dela - o céu. O culto de despedida foi em um dos salões do cemitério onde fica a sepultura da família Vieira de Oliveira. Lá estão os restos mortais do papai, da Anita e da mamãe
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4.      José - (17/02/1946 - 04/04/2013), aos 66 anos.

Ele casou-se e foi morar em Alegre, no interior do Estado do Espírito Santo. Lá progrediu na sua carreira de farmacêutico e bioquímico. Trabalhou muito. Adquiriu os bens que ele sonhava e perdeu a saúde, assim ele me confessou. Não foi feliz no casamento.

Aos quarenta e poucos anos teve um AVC (acidente vascular cerebral). O carro tombou e em razão disso, ele ficou com a mão esquerda presa na janela do carro, perdendo o dedo mínimo da mão esquerda. Não houve graves sequelas, além desta perda. Algum tempo depois, ele teve um AVC massivo. Ficou entre a vida e a morte. Sobreviveu, mas com grandes sequelas. Todo o lado esquerdo e a vista ficaram bastante comprometidos.

Separou-se da esposa, ficando com as três filhas pequenas para criar. Continuou a trabalhar, mesmo com todas as limitações físicas.

Viu sua filha primogênita, Andressa, casar-se e dar-lhe o primeiro neto - o Matheus, que o encheu de alegria. Acompanhou o estudo e conclusão do curso das duas filhas mais novas. Ingrid, formou-se em farmácia e bioquímica, como o pai. Vivian, formou-se  em  enfermagem.  Andressa, a mais velha, formou-se em Pedagogia já depois de casada. Vivian casou-se e sua filhinha, Lara, chegou a ser vista pelo Vovô José, nos seus últimos dias. A outra netinha, Sara, chegou mais tarde e não conheceu o Vovô.

Na noite em que o José teve o segundo AVC, Aurecil e eu fomos de Macaé para Alegre, chegando ao hospital de madrugada.

Quando ele foi transferido para Cachoeiro do Itapemirim, um hospital com mais recursos, viajei de ônibus para lá e fiquei no hospital com ele por algum tempo.

O José nos visitou algumas vezes e nós também fomos à casa dele para vê-los e apoiá-los. Ele me telefonava todos os anos para dar "parabéns" no meu aniversário. Houve um ano em que ele não telefonou na data exata. Dias depois ligou dizendo que havia esquecido. Foi a última vez.  Dai em diante não se lembrou mais. Sempre senti a falta dos telefonemas dele.

Já nos seus últimos meses de vida, foi viver no litoral (Itapemirim) com a filha Ingrid. Fomos visitá-lo lá um pouco depois da mudança e em seus últimos dias. Nessa última visita, ele reconheceu Aurecil, mas não a mim.

Ficamos em um hotel próximo e eu passei uma tarde assentada ao lado da cama onde ele se achava, já muito fraco e dependente.  Os olhos dele fitavam alguma coisa ou alguém à sua frente. Com as mãos, ele tentava alcançar aquilo que parecia estar ao seu alcance. Esse gesto foi repetido muitas vezes naquela tarde. Ele estava calmo e tranquilo. Passou-me a ideia que ele já vislumbrava os umbrais da eternidade e queria libertar-se desta vida terrena para alcançá-lo.

Depois desta visita, voltei para o sepultamento dele que foi na cidade de Alegre, como ele havia pedido. O culto de despedida foi na Igreja Batista da cidade, com o templo lotado. Ele vivera toda sua vida profissional ali e recebeu uma boa representação da comunidade alegrense.
Ofereceram-me uma oportunidade para falar, mas não tive forças para tanto. Prontifiquei-me a tocar piano durante  toda a reunião. Aurecil e o pastor da Igreja local oficiaram a cerimônia


5.      Rubens (26/06/1946 - 19/02/2014), aos 68 anos.

Nosso cunhado, esposo da Rosalina. Pessoa muito trabalhadora e respeitada na cidade onde exerceu sua via profissional, Santos Dumont, MG. Não tivemos muitas oportunidades de contato com ele. Creio que o visitamos duas vezes. Eventualmente, o vimos algumas vezes em nossas idas à Juiz de Fora.

Chegou a conhecer a primeira netinha, Stella, filha da Natália, a primogênita deles.

Tive oportunidade de dar uma palavra de conforto à família e amigos presentes na despedida dele. Está sepultado na sepultura de nossa família, junto com o papai, a mamãe e a Anita.



6 e 7.  Akemi (24/07/1981 - 14/12/20160), aos 35 anos
Joao Pedro (27/11/2010 - 14/12/2016), aos 06 anos.


Minha irmã Jane, sua filha Akemi e o netinho Joao Pedro  continuaram morando na casa do papai e da mamãe após a morte deles.

Em 14/12/ 2016, uma tempestade causou um deslizamento do barranco que existia atrás da casa dos nossos pais. Toda a casa foi destruída e a sobrinha Akemi (35 anos) com o filhinho dela, João Pedro (6 anos), faleceram. Estão sepultados em Juiz de Fora, MG. Jane foi a única poupada nesta tragédia que atingiu a vida dos Vieira de Oliveira.

Como herdeiros, fizemos o inventário permutando o terreno por um apartamento, onde a Jane, nossa irmã, está residindo atualmente. O filho, Ken trabalha e reside em São Paulo.


XIII.            ENTRELINHAS

Já estávamos aposentados e acomodados em nossa zona de conforto. CJ e Caleb, filhos da filha Jane, que têm dupla cidadania (americana e brasileira), desejavam voltar a viver nos EUA. Renato sugeriu que, neste caso, o melhor seria irem ainda como adolescentes para estudarem lá e se adaptarem à vida de lá. Decidimos ir com a filha e os dois netos para apoiá-los, experimentando mais uma aventura distante da terra natal.

  Cutler Bay, Homestead e Gainesville, FL - USA


Jane, CJ e Caleb viajaram primeiro, em setembro de 2015 por causa do início do ano letivo. Ficaram em casa de Renato e Tania em Cutler Bay.  Nós dois seguimos depois, chegando em 04/10/2015. Desfrutamos da hospedagem deles até o dia 01/11/2015.

Mudamos, nessa data, para um apartamento em Homestead, cidade  no extremo sul da Flórida, com aluguéis mais acessíveis ao nosso bolso. Da casa do nosso filho até lá levávamos cerca de 30 min de carro. Ficamos ali com Jane e os filhos até que o proprietário decidiu vender o imóvel.

Em Homestead, tivemos o privilégio de receber a visita de Renato com a família algumas vezes. E ele nos visitava aos sábados de manhã. Visitas que tiveram grande significado para nós, já que ele ficara morando nos Estados Unidos desde nosso retorno ao Brasil em 1987. As vindas dele ao Brasil e nossas idas aos States eram raras.

Sendo necessário desocupar o apartamento em que estávamos, Renato sugeriu procurarmos alguma cidade mais ao norte do estado, onde o custo de vida é mais baixo. Encontramos Gainesville, cidade que fica duas horas ao norte de Orlando e localizada na região central do estado, onde os furacões vindos da costa leste ou oeste já chegam mais enfraquecidos. Foi amor à primeira vista. A cidade é conhecida como “Cidade das Árvores”, por ter suas ruas cortando as altas árvores nativas da região e as casas construídas entre elas também. O filme original do Tarzan foi filmado na região de Gainesville, há muitos anos atrás.

Estávamos em Gainesville na passagem do Furacão Irma. Algumas árvores caíram em cima de carros no condomínio onde morávamos. Mas, nós nem sentimos a passagem do furacão pela madrugada. Ficamos esperando por ele, cansamos e fomos dormir. Graças a Deus, ficamos apenas sem energia elétrica por um pouco de tempo e vimos alguns galhinhos de árvores caídos por perto do nosso apartamento. Ao sul da Flórida o furacão causou muitos danos. Na casa de Renato, árvores ornamentais foram derrubadas e algumas árvores frutíferas, quebradas. Poucos anos depois voltaram a produzir frutas em abundância.

Ficamos  cerca de dois anos nos Estados Unidos e retornamos com Jane em outubro de 2017, deixando os netos com o pai, que veio de Orlando para Gainesville e ocupou o mesmo apartamento que nós estávamos deixando.

Ao chegarmos ao Brasil o encontramos em um período de crise financeira muito grande. Em Macaé o número de desempregados era grande, porque a Petrobrás tinha sido atingida em cheio pela crise. Jane, que voltou ao Brasil conosco, aguarda para ir viver perto dos filhos nos States.



XIV.            PARA ALÉM DO HORIZONTE AZUL


Nasci e cresci com os olhos fitos num horizonte verde de esperança: “Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração.” (Romanos 12.12) Essas eram as atitudes que sempre vi personificadas na vida dos meus queridos pais.

Aurecil e eu nos unimos  para continuarmos nossa jornada terrena, rumo à eternidade, em 1965. Ele tinha 25 e eu 20 anos quando a iniciamos. Acampamos, temporariamente, em diferentes lugares.

Diante das alegrias e tristezas da vida, das diferenças individuais, do trabalho árduo, das mudanças e adaptações a elas, temos nos mantido unidos no mesmo propósito.

Nossa aliança pelo casamento se transformou num elo muito especial. Ambos tínhamos uma chamada especifica para o serviço cristão. Nossa união tem se ancorado em Alguém muito maior do que nós mesmos - Deus. 

Ele nos deu a bênção de vivermos, desde 1996, numa casa que construímos em frente à praia. Daqui, temos mantido nossos olhos fitos no horizonte azul do Oceano Atlântico que se estende diante de nós. Diariamente, nos encantamos com o nascer e o pôr do sol, as cores do céu, os formatos das nuvens e o vai-vem das ondas, que se modificam com as variações das horas do dia e das estações do ano.

Agora, na velhice, voltamos nossos olhos  para além desse horizonte azul, aguardando o cumprimento das preciosas promessas feitas pelo Deus a quem temos servido durante nossas vidas.


*** *** ***

“Olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas.” (7.9)

“Quem são estes que estão vestidos de branco e de onde vieram? (...)  Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.” (7.13-14)

“Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.” (21.1)

“O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem passou.” (21.3-4)

“Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo sempre.” (5.13)

Apocalipse (Nova Versão Internacional)

Macaé – RJ, maio de 2020