Para Além do
Horizonte Azul
Memórias
Gainesville,
FL - Agosto/2017
Dedico esta coleção das minhas histórias aos meus filhos e suas famílias.
Em aberto para outros que ainda se agregarão à família.
- Renato, Tania, Lívia Maria, Marcelo B., Ana Laura e Jonathan Caio.
- Jane, (Craig Porter), Craig Júnior e Caleb.
- Fabiane, Adriano, Micaela e Yuri.
Agradecimentos:
- Ao meu Deus, que me criou, restaurou e se relaciona comigo sempre.
- Aos meus pais que me deram por herança a fé em Jesus.
- Ao meu esposo, Aurecil, companheiro de jornada, fiel e corajoso.
- Aos meus filhos, a quem dedico todo o meu (imperfeito) amor.
Viver é perigoso e arriscado!
Porém, viver pela fé é uma aventura.
Uma aventura cheia da graça e
misericórdia divinas.
Mapa destacando, com um pontinho vermelho, os lugares onde estive :
Água Limpa, MG; Aimorés, MG; Campos dos Goytacazes, RJ; Chicago, IL - USA; Cutler Bay, FL - USA; Ebenhausen, Baviera - GE; Gainesville, FL - USA; Homestead, FL - USA; Kansas City, MO - USA; Lajinha, MG; Macaé, RJ; Manhumirim, MG; Miami, FL - USA; Orlando, FL - USA; Ponto de Cacimbas, São Francisco, RJ; Queimadas, BA; Rio das Ostras, RJ; Rio de Janeiro, RJ; São Fidélis, RJ; São João de Meriti, RJ; Vila Velha, ES; Vitória, ES.
“Venham e
ouçam, todos vocês que temem a Deus; vou contar-lhes o que ele fez por mim.”
Salmo 66.16
I.
VITÓRIA, ES
1 Nascimento
Dona Maria
Dourado subiu as escadas do sobrado na Vila Rubim em Vitória – ES. Ela era a
parteira que fora chamada para atender a mamãe
que estava para dar à luz. Surpresa, ela
recebeu a notícia de que eu havia chegado por conta própria. Tive pressa e
cheguei primeiro que a parteira.
Mamãe estava
lá onde morava a Vovó. Chegara de Aimorés, MG para me fazer uma capixaba, nome
dado a quem nasce na capital do Estado do Espírito Santo.
Visitando a
Vovó em outras ocasiões, éramos, cuidadosamente, avisados a não olharmos pela
janela lateral do sobrado porque lá embaixo morava o Bicho Papão. Nunca me
atrevi a olhar para o espaço que servia de entrada de luz e ar para a
residência, mas que também era a habitação de um Monstro.
Das janelas
da frente, adultos nos ajudavam a olhar, lá embaixo, o trilho dos bondes que
passavam pela Vila Rubim. A rua era
formada de vários sobrados construídos um ao lado do outro, ocupados por lojas, no andar térreo. Logo à
frente da rua da Vovó ficava um braço do mar circundando a ilha de Vitória.
II.
AIMORÉS,
MG
1.. Escuridão
Certo dia, a
Dindinha, tia avó da mamãe, estava passando roupa com ferro à brasa. Cinzas se
acumulam no fundo desse tipo antigo de ferro. O costume era balançar o ferro
para frente e para trás, para eliminar as cinzas que poderiam sujar as peças de
roupa que estavam sendo passadas.
Eu, com menos
de cinco anos, cheguei por trás. Recebi uma pancada daquela peça quase incandescente
na sobrancelha esquerda. Lembro-me da escuridão que tomou conta de mim. Não me
lembro da dor. Até hoje o meu olho esquerdo é o mais fraco. E tenho uma cicatriz na sobrancelha desde
então.
2 2. Orelha Furada
Furaram
minhas orelhas para colocar um par de brincos de ouro de bolinha. A vizinha do
lado trouxe pedras de gelo para ajudar no procedimento, aliviando a dor da
perfuração. Esses vizinhos eram os únicos em toda a rua que possuíam uma
geladeira. Talvez, em toda a cidade.
Depois que
cresci um pouco, dei asas a minha imaginação. Comecei a pensar que, possivelmente,
eram fugitivos da Alemanha de Hitler se escondendo em Aimorés. Ele era alto,
forte, bem claro e chamava-se Sr. Benz. Poderia também ser sócio da
Mercedes-Benz, já que tinha tanto dinheiro que desse pra comprar uma geladeira.
3. O Médico de Vista
Pouco depois
que sofri o acidente com o ferro de passar roupas, o papai me levou a Vitória
para uma consulta médica.
De Aimorés a
Vitoria a viagem era sempre feita no trem Vitória-Minas. Um trem bastante
confortável para aquela época. Foi emocionante passar pelos túneis escuros,
ouvir a locomotiva assobiar e observar o Vale do Rio Doce embelezando a moldura
quadrada da janela. Como me senti importante fazendo aquela viagem de trem com
o papai!
O
consultório ficava num prédio alto na Av. Jeronimo Monteiro, próximo ao Palácio
do Governo do ES. E quanta emoção ao subir
de elevador para o consultório! Olhar da sacadinha para a avenida lá embaixo me
deu até calafrios.
Eu estava cheia
de curiosidade para ser atendida por um médico de vista. Toda aquela
experiência, sem dúvida, compensava o acidente!
4. Óculos de Casco de Tartaruga
Dado o
diagnóstico: eu teria que usar óculos. Mas, as lentes eram quebráveis. O médico
ponderou que eu deveria ser "levada". Sugeriu que esperássemos um
pouco. Talvez estivesse mais comportada aos nove. E assim aconteceu. Aos nove
anos, usei meus primeiros óculos - de casco de tartaruga. Vários outros a
seguir foram do mesmo material. Hoje, aos 72 anos, voltei a usar óculos de
casco de tartaruga, mas, são “fake”.
Sempre penso
em óculos com gratidão a Deus. Nunca me esqueço de agradecer a Deus por eles,
porque eles têm sido bons companheiros para a vida cotidiana e, em especial,
para minhas leituras.
III.
LAJINHA,
MG
1. Viagem de Carro de Boi
Estávamos de
mudança de Aimorés para Lajinha. Ambas as cidades ficam em MG. Um bom trecho da
viagem foi feito de carro de boi. Lembro-me que era um dia de sol, mas que
fazia muito frio.
Nós, os
primeiros quatro dos sete filhos, viajávamos de pijamas de flanela. Dormimos em
alguma pousada no caminho. Devo ter sido carregada no colo, dormindo, porque só
me lembro da manhã seguinte.
Ao
acordarmos, lavamos o rosto e escovamos os dentes no riacho que ficava nos
fundos da pousada. Fazia muito frio e
uma bruma branquinha cobria as águas do riacho. Era uma cena tão bonita que se
tornou inesquecível para mim.
2. Ovo de Chocolate
Em nossa
primeira Páscoa em Lajinha, chegou pelo correio, uma caixa em meu nome. Uma
enorme surpresa. A curiosidade foi grande.
Alguém me
ajudou a abrir a caixa. Ela estava cheia de tirinhas de madeira para proteger o
tesouro. Um ovo de chocolate bem grande!
Foi feito e
enviado por Dona Nenen Cauly, da cidade de onde havíamos nos mudado
recentemente.
O ovo era
todo confeitado com glacê, do jeito que as doceiras decoram bolos de
aniversários. Foi um alvoroço só. Que
presente apetitoso! Esta foi a minha primeira experiência com os Correios e
Telégrafos do Brasil.
Dona Nenen
era irmã do Pr. Manoel Leal. Ele foi o pastor que ocupou o lugar que o papai acabara
de deixar em Aimorés. Os dois foram grandes amigos enquanto viveram.
3. O
Padre Local
Não muito depois da nossa chegada á Lajinha, aos cinco anos
de idade, aconteceu meu encontro com o
padre local.
Morávamos no centro da pequena cidade enquanto o papai
construía nossa casa na chácara no Bairro Berra Onça, onde viveríamos por dez
anos. A casa do centro era um sobrado branco, com janelas, portas e corrimão da
escada cor de laranja. Como não eram
comuns carros nas ruas da cidade, eu podia brincar tranquila com as crianças da vizinhança.
Numa dessas ocasiões, eu brincava com algumas meninas amigas.
Estávamos abaixadas fazendo alguma coisa no chão – brincando com pedrinhas,
riscando o chão batido da rua, coisas desse tipo. De repente surge um vulto perto de nós. Era o padre da cidade em sua
batina marrom. Minhas amigas, mais que depressa, ficaram de pé e beijaram a mão
do padre que acabara de chegar. Eu fiquei
de pé, mas não fiz a mesma saudação que as outras meninas fizeram. O padre,
então, me perguntou – “Você é filha de quem?” Pensei com os meus botões – “É
esse ai que não gostou da vinda do meu pai pra cá, para ser o pastor da cidade”.
Prontamente, respondi – “Sou filha da D. Aurizé”. Saindo, então, em disparada para casa buscando segurança. Ainda
ofegante, contei a minha experiência e a maneira que encontrei de me livrar do
“perigo”. De vez em quando, o papai me lembrava desse meu encontro com o vigário
local.
4 4. O Pessegueiro
Na chácara
do Berra Onça, a Dindinha, tia-avó da mamãe, dividia o quarto comigo. Ao lado
da janela do quarto havia um pessegueiro. O papai gostava de plantar flores,
fruteiras e hortaliças. O pessegueiro cresceu bastante e seus galhos ficavam
acima do nosso telhado, feito de amianto, que na época era considerado um ótimo
material para telhado por manter a casa aquecida. Fazia bastante frio em toda
aquela região.
Em noites de
ventania, um dos galhos se inclinava sobre o telhado e se arrastava até voltar
a sua posição normal. E isto se repetia várias vezes. Com o corpo e a cabeça
enfiados debaixo das cobertas, eu sofria repetidos arrepios. Sabia que era o
galho do pessegueiro, mas, e aí, se não fosse?
Nessa época,
aprendi com a Dindinha a orar pedindo a proteção de Deus. E desde então,
encontro na oração coragem para enfrentar meus medos buscando a proteção
divina.
Nosso
pessegueiro ficava carregado de frutos. Os passarinhos que escapavam das
atiradeiras dos meus dois irmãos, os devoravam. A mamãe decidiu, então,
antecipar-se aos passarinhos. Assim, os pêssegos eram sempre colhidos verdes.
Com eles, ela fazia uma geleia que ficava bastante azeda. Mas, na falta de
outras guloseimas, comíamos sem reclamar daquela geleia.
5. Escuridão (2)
Numa época
de Natal, fomos fazer uma comemoração na roça. Seria um culto evangelístico de
Natal, numa casa onde havia um “ponto de pregação”. A casa ficava nas
montanhas. Minas Gerais é conhecida como a Terra das Alterosas, por ser um
estado totalmente montanhoso.
Vários irmãos
da igreja foram na carroceria de uma caminhonete. E eu, que sempre gostei de
participar das atividades da igreja, fui com eles. Talvez, eu fosse a única
criança no grupo. Não me lembro muito
bem.
Os vizinhos mais
próximos compareceram. A casa ficou cheia. Havia um grande galho com sacolinhas
de papel crepom cheias de balas e doces. Terminado o culto, os que vieram na caminhonete, saíram logo e partiram. Eu fiquei encantada com
as sacolinhas. Olhava para elas, esperando que me dessem uma.
Ao notar a
partida da caminhonete, sai correndo pela estrada escura. Não era noite de luar. A escuridão era total. Chorei.
Gritei. Senti o pavor do abandono e da escuridão. Não sei quanto tempo levou
para darem por minha falta. Pareceu-me uma eternidade.
Até hoje,
aos 72 anos (2017), em lugares
desconhecidos, ainda vigio para não ser esquecida pelo grupo.
6. O Piano
Uma pianista
da cidade do Rio de Janeiro veio morar em nossa cidade - Dona Rita. Ela
casou-se com o filho de um sitiante da cidade. O jovem esposo era dentista prático
e também ourives (fazia joias).
Passada a
lua de mel, o papai me levou à casa deles. Fui matriculada como a primeira
aluna de piano dela. Na caminhada, perguntei ao papai – “E se ela me ensinar
música de Carnaval?” O papai me tranquilizou, dizendo – “Você aprende o que ela
ensinar e, depois, toca o que você quiser”.
Havia muita
distinção entre católicos e “crentes”, como éramos chamados naquela época. E um
destaque especial para o que os crentes podiam e não podiam fazer. E eu já
ouvira falar que a professora era católica. E eu sabia que Carnaval era coisa
de católicos, não de crentes.
Ela era uma
moça da cidade grande. O Rio era a capital do Brasil nesta época. Além de
ensinar piano, passava também várias noções de civilidade a todos nós
interioranos que nos relacionávamos com ela.
Nós tínhamos
uma horta com grande variedade de verduras e legumes. De tempos em tempos eu
levava para ela uma cesta cheia desses produtos. Era um sentimento bom
presenteá-la com aquelas hortaliças fresquinhas. E ela ficava feliz!
Algum tempo
depois, voltando de um passeio ao Rio de Janeiro, ela me presenteou. Trouxe uma
pulseira dourada, que eu perdi na primeira vez que fui à igreja com ela. Foi a primeira e última pulseira da minha
vida!
Ganhei, também,
um anel de pérola quando terminei o Curso Técnico de Piano em Campos (1971). Foi-me
dado por Dona Nely Albernaz, que foi minha última professora de piano.
Fui, também,
aluna de piano de Dona Elsa Lackshevitz durante o meu curso de Educação Religiosa
no Rio. Mas, Dona Rita e Dona Nely influenciaram mais a minha vida. Foram duas
joias preciosas para mim.
Aos nove
anos de idade, não sabia avaliar meus dotes musicais. E a professora, Dona
Rita, era bondosa demais para me desanimar. Eu era desafinada e não tinha um
ouvido musical. Mas, como nunca fui de desistir, fui em frente. Eu tinha que
ir todos os dias a casa dela para praticar piano. Em casa, tínhamos apenas um
pequeno harmônio portátil, onde eu aprendia os hinos do Cantor Cristão por
conta própria.
Nessas idas
diárias para estudar piano, descobri, na casa de umas primas, as foto-novelas,
que eram revistas em quadrinhos, com histórias de amor. E, por algumas vezes,
fiquei lendo as tais novelas, em vez de ir praticar no piano da professora.
Levei um susto enorme quando D.Rita apareceu lá em casa para uma
visitinha-surpresa.
Em outra
ocasião, fiquei sem palavras diante da minha professora de piano. Logo que
cheguei a casa dela para treinar piano, ela me levou à copa da casa deles para
me mostrar algo. Pela cara dela vi que não era boa coisa. E não era mesmo. Ela
apontou para a mesa de refeições e me mostrou. Lá estava, riscado com gilete ou
canivete, o meu nome. Fiquei boquiaberta! Disse a ela que não fora eu. E, na
verdade não fui eu mesmo. Ao que parece ela acreditou em mim. Nesse tempo, ela
tinha vários outros alunos de piano, teoria musical e canto. Até hoje, às vezes
penso, ¨Quem foi essa pessoa que quis me colocar naquela situação embaraçosa e
por quê?¨. Eles devem ter lixado e
envernizado o móvel. Nunca mais ela falou sobre isso. Só Deus sabe quem fez
aquilo e com qual intenção.
Fiquei
honrada quando ela teve um bebê e colocou meu nome na nova filhinha. Senti que ela tinha apreciação por mim, sua
primeira aluna. E isso foi muito importante para mim depois da mesa riscada.
Acompanhar os
hinos congregacionais e os coros da igreja ao piano, tem sido um dos meus maiores
privilégios no serviço cristão. Ainda hoje (2018) me escalam para tocar nos
cultos da PIB Macaé.
Fui
professora de piano também. Alguns
alunos abandonaram o estudo, apesar de serem musicalmente talentosos, passando
a seguir outras carreiras. Fico orgulhosa com os que se dedicaram e se
destacaram na carreira musical: Eunice Gomes - regente e pianista; Luís
Mauricio Carneiro - pianista, violinista e regente de orquestra; Anderson
Silveira Mota - pianista, organista, regente, compositor, ministro de música.
IV.
AVÓS
1. Maternos
Meu avô
materno, José de Sousa, era delegado de polícia. Vivia com minha avó, Aurelina,
em Queimadas, Bahia.
Um bandido
escapou da prisão e o matou a pauladas. Na ocasião, ele e a vovó estavam
assentados em frente à casa deles. Minha avó foi atingida também, e perdeu o
bebê que estava esperando.
Entristecida,
ela resolveu mudar-se para bem distante. Partiu com os filhos mais velhos,
Nelson e Edelzuita, para Vitória, ES. A mamãe, Aurizé, que era a caçula, com
seis anos então, viajou mais tarde com a Dindinha. As viagens eram longas e
feitas de navio. A estrada Rio-Bahia ainda não existia.
Em Vitória,
a vovó casou-se outra vez. O casamento com o Sr. Severino não deu muito certo. Mas, ela e esse segundo marido viveram numa
mesma casa até o final de suas vidas. Cada um em seu próprio quarto. Acho que
ele não queria perder as moquecas que a Vovó fazia.
Ninguém
fazia uma moqueca (peixe ensopado) melhor
que a Vovó Aurelina. Até hoje, sempre
que como moqueca, lembro-me dela.
Em Vitória,
o meu Tio Nelson começou a trabalhar quando ainda era adolescente. Seu primeiro
e único trabalho foi na Western Union.
Começou como “office boy”. Essa é uma empresa multinacional que oferece
serviços financeiros e de comunicação. Continuou nela até se aposentar.
Minha Tia
Nadé (Edelzuita) morreu jovem, de problemas cardíacos. Deixou quatro filhos,
que foram criados pela vovó: Isabel, José, Aurelina e Elizabeth.
Betinha, a
caçula, era ainda um bebê e a mais velha, Isabel, tinha quatro anos, quando
ficaram órfãos de mãe. A vovó foi membro da PIB de Vitória, onde criou os
filhos e netos.
2. Paternos
Não conheci minha
avó paterna, Rosalina Ambrósio. Ela morreu de parto ainda bem jovem. Deixou três
filhos: Maria, Horacina e Antônio, o papai, que era o caçula, também, como a
mamãe o era.
O nome do
vovô era Polidoro Rodrigues de Oliveira, mas todos o chamavam de Sr. Lica. Ainda
bem que meus pais não deram o nome dele para um dos meus irmãos!
A casa do
Vovô Lica era grande e tinha um quintal enorme onde um bando de galinhas
d’Angola, muito bonitinhas com suas penas pretas de bolinhas brancas, cantavam
“Tô fraco! Tô fraco!" Também não me esqueço das saborosas mangas que
encontrávamos no quintal – manga espada, manga rosa e manga coquinho.
Casou-se
mais três vezes depois da morte da Vovó Rosalina. Mas, só teve os filhos do
casamento com ela. Naquele tempo, sem tratamento médico e atendimento
hospitalar, as pessoas tinham uma expectativa de vida muito curta, em especial as mulheres, que tinham complicações no parto.
O papai e as
irmãs ficavam um pouco aqui e um pouco acolá, em casa dos tios. O Tio Cornélio,
irmão do vovô, deixou uma influência marcante na infância do papai. O menino
órfão sempre o ouvia orando o Pai Nosso antes de dormir. O papai guardou no
coração essa reverência e dependência de Deus. Algum tempo depois, ele iniciou
sua própria caminhada espiritual, vindo a conhecer Jesus como seu Salvador e
Senhor.
O Vovô Lica
viajava muito. Ele tinha uma tropa de burros, que levava produtos da roça para
a cidade e vice-versa. Não havia caminhões de transporte nessa época. As
viagens eram longas e os tropeiros encontravam casebres ao longo da estrada
para descansarem. Ali pernoitavam e faziam a sua própria comida. Até hoje a
culinária brasileira usa o feijão tropeiro. Um mexidão feito, basicamente, de
feijão, farinha, linguiça e couve.
Ele tinha
passado dos 70 anos quando arranjou mais uma namorada. Teria sido a
quinta esposa, se não fosse oposição dos
três filhos.
V.
A DINDINHA
Ela era
tia-avó da mamãe. Chamava-se Ananias Moreira de Sousa. Era viúva e sem filhos. Sempre
dedicou uma atenção especial à mamãe, desde que ela era pequena.
Quando a
mamãe se casou, ela foi morar com meus pais. O papai ficou sendo como um filho
adotivo para ela. Ele encontrou nela a mãe que perdera na tenra infância. Ela o recebeu como o filho que nunca teve.
Foi uma boa
administradora da nossa casa. Enquanto ela viveu, a mamãe tinha mais tempo
livre para dedicar-se ao magistério e à educação religiosa da igreja.
Éramos sete
filhos e morávamos numa grande chácara. Tínhamos toda liberdade para brincar
por todo espaço ao nosso redor. A Dindinha tocava um sino para que estivéssemos
todos à mesa para as refeições. De longe, ouvíamos o sino e sabíamos que tínhamos
que ir para casa. Algumas pessoas achavam graça deste hábito de nossa família.
Eu não gostava. Ficava toda envergonhada quando ouvia o sino tocar. A cristaleira
era trancada à chave se houvesse sobremesa, para que todos pudessem comer.
Eu dormia no
quarto e na cama da Dindinha quando pequena. Havia uma cama de casal e um
guarda-roupa preto bem alto. Tinham sido comprados do Missionário Loren Reno
que atuava em Vitória, quando ele se aposentou e voltou aos Estados Unidos. O
guarda-roupa era de madeira, com um gavetão embaixo.
Havia um
enorme espelho de cristal na única e pesada porta daquele móvel que era o motivo
para meus pesadelos na infância. Sonhava
que ele enrugava, se partia e depois voltava ao normal.
A Dindinha
morou conosco até falecer. Nos últimos anos de sua vida, se comportava como se
tivesse Alzheimer. Essa doença não era conhecida com esse nome, e ouvi pessoas
dizerem que ela estava caduca.
Quando nos
mudamos de Lajinha para Vitória em1960, levamos os ossos dela. Eles foram
colocados na sepultura da família da mamãe. Estão no Cemitério de Santo Antônio,
naquela cidade.
Aprendi a orar antes de dormir, com a Dindinha. Eu orava com medo do escuro. Orava com medo do
galho do pessegueiro se arrastando no telhado. E continuei orando pela vida
afora. Oro sem cessar. Busco a luz de Deus para iluminar meu caminho. Deus tem
transformado os meus medos em confiança na proteção que Ele pode dar.
Há uma
oração cantada que eu aprendi na infância e, mais tarde como avó, cantava para
Micaela e Yuri quando eles ainda eram pequenos e vinham dormir em nossa casa.
Perguntei à mamãe se tinha sido ela que cantava para nós dormirmos e ela disse
que não. Deve ter sido a Dindinha, então. Desconheço o autor e compositor. Mas,
assim diz a letra:
“Quando a
noite vem, eu vou dormir, sem cuidados, sempre a sorrir. Eu não tenho medo. Eis
o meu segredo: Dorme sossegado todo aquele que tem fé; dorme sossegado porque
Deus está de pé.
Dissolveu-se
a luz na escuridão, mas refulge em meu coração. Minha luz se apaga. Deus me
acende estrelas para que eu descanse e durma em paz e sem temor. Vela sobre mim
a sentinela do Senhor.”
VI.
A
MAMÃE
Queninha -
era como ela era chamada pelos familiares dela. Mas, o nome propriamente dito,
era a junção do nome dos pais: Aurelina e José.
Aurizé Vieira Sousa era delicada e amável.
Cresceu
frequentando a Primeira Igreja Batista de Vitória, no templo antigo da Rua General Osório. Estudou
no Colégio Americano de Vitoria, atrás do Parque Moscoso. Depois foi para
Escola Normal do Espirito Santo, ao lado do Palácio do Governo.
Terminado o Curso
Normal, ela foi para o Rio de Janeiro em1939, para cursar a Escola de Obreiras.
Este curso foi o embrião do curso de Educação Religiosa que eu conclui em 1964,
no Rio de Janeiro. Ainda funciona (2017) com o nome CIEM - Centro Integrado de
Educação e Missões. Na época da mamãe (e minha), era uma escola só para moças vocacionadas
para o ensino cristão. Hoje aceitam pessoas do sexo masculino também. Ela já
estava noiva do papai, que ela conhecera no Colégio Americano de Vitória.
Casaram-se
na PIB de Vitória e exerceram o primeiro ministério na Igreja Batista de
Ricardo de Albuquerque, Rio. Nesse período, nasceu meu irmão mais velho, Cornélio,
que recebeu o nome do tio do papai que orava o Pai Nosso.
Anos mais
tarde, encontrei uma ex-colega da mamãe da Escola de Obreiras. Ela comentou que
a mamãe andava sempre muito bem vestida e arrumada. Mostrei minha estranheza
diante desse comentário. A mamãe que eu conhecia era muito simples e sem
vaidade. A amiga dela explicou que a maioria das alunas vinham do interior. Como a mamãe viera de uma
capital, tinha mais traquejo social que as outras alunas. Mais tarde,
a mamãe confirmou que, quando solteira ela trabalhava e tinha o seu próprio
salário que a possibilitava vestir-se bem. Ficou esclarecida, então, a questão
do charme da mamãe.
A vida da
mamãe não foi nada fácil. Ela estava acostumada à cidade grande e a ser mimada
pela Dindinha. Enfrentou, com coragem e boa disposição: a vida no interior de
Minas Gerais por 15 anos; os filhos que iam nascendo a cada dois anos,
totalizando sete; o magistério no
colégio que o papai fundara; o ministério de esposa de pastor; a morte da
Dindinha e os apertos financeiros para sobrevivência de uma família grande.
Ela foi minha
professora no Jardim de Infância em Aimorés
e na alfabetização, em Lajinha. Gostava
de cantar enquanto fazia os serviços domésticos. Era de pouca conversa e nos
ensinava, citando provérbios.
Cuidou do
papai durante a enfermidade dele (Parkinson) por duas décadas. Nunca reclamava
nem perdeu a docilidade. Aliás, ela me fez uma reclamação, certa vez: “Gostaria
de ter podido dar presentes a pessoas amigas e nunca pude dá-los”. Fico pensando nessa reclamação feita justamente
por ela, que teve seu lar aberto para estudantes, missionários, pastores,
enfermos e desempregados. Sua mesa nunca era ocupada apenas pelos filhos e
esposo. Sempre havia alguém mais com quem ela repartia nossa refeição.
Olhava
sempre o lado ensolarado da vida. Nunca para as tempestades. Foi sempre
uma ávida leitora. E comentava suas leituras conosco. Por isso, todos nós, os filhos,
temos sido amantes dos livros, também. A força dela vinha dos seus momentos
devocionais. A Bíblia e os livros devocionais eram o alimento espiritual dela.
Faleceu em
26/02/2011, aos 93 anos. Foi sepultada na mesma sepultura que o papai e a filha
caçula, Anita, em Juiz de Fora.
VII.
O
PAPAI
Totônio era
como os parentes o chamavam. O nome completo era Antônio Ambrósio de Oliveira. Porém,
Pr. Ambrósio foi como ele ficou conhecido.
Ficou órfão de mãe quando era bem pequeno. Morou
em casa de alguns tios, aos quais sempre dedicou muita gratidão. Ainda bem
jovem saiu para trabalhar numa loja em Manhumirim – MG, cidade não muito
distante da Água Limpa, região onde a família morava.
Encontrou
uma Bíblia nos fundos da loja e começou a lê-la quando podia. Ficou cheio de
dúvidas quanto à questão das imagens de santos. Descobriu que o Velho
Testamento proibia culto com imagens. Interrogou o
padre da cidade, que o aconselhou a parar de ler a Bíblia. Foi procurar o Pr.
Alberto Lessa da pequena igreja batista local. O pastor mostrou-lhe que a Bíblia
como um todo apontava para Jesus e falou-lhe do Evangelho. O papai, então, foi
convencido pelo Espirito Santo e rendeu-se a Jesus. A partir daí, Jesus se
tornou o Salvador e Senhor da vida dele.
Numa de suas
folgas, foi passear na casa do pai, levando consigo a Bíblia e sua nova experiência
religiosa. Não foi bem recebido pelo pai. A sugestão que recebeu foi a de abandonar
a Bíblia ou abandonar a casa paterna. Escolheu manter a Bíblia e seu novo
relacionamento com Deus.
Falou do
evangelho para as duas irmãs mais velhas, Maria e Horacina. Elas também entenderam
o Evangelho se converteram. Foram crentes fiéis durante toda a vida delas.
Deus abriu
uma porta para o futuro do papai. Foi estudar em Carangola - MG e, logo a
seguir, no Colégio Americano de Vitória - ES,
passando a morar no internato. Lá ele trabalhou em troca dos estudos e
encontrou a mamãe, por quem se apaixonou.
No final da
vida, o Vovô Lica se mostrou mais aberto ao Evangelho. Nunca, porém, fez uma
confissão de fé clara. Nem sequer pôs os pés na pequena Igreja Batista
pastoreada por seu filho. Ficou a dúvida. Se recebeu Jesus como único Salvador
pessoal, nós o encontraremos no céu.
O papai foi
um marido amoroso. Sempre tratou a mamãe com amor e cuidado. Gostava de trazer
algum presente para ela no retorno de suas viagens. Por ter sido órfão, falava
para nós pouparmos a mamãe, ajudando-a sempre nos afazeres domésticos. A mamãe dormia cedo. Ele cuidava de nós quando
adoecíamos ou nos machucávamos. Dava remédios. Fazia curativos.
A mamãe foi
o grande amor da vida do papai. Ele apaixonou-se por ela quando, ainda um
estudante no Colégio Americano Batista de Vitória – ES, ouviu uma professora
cantando com as crianças e olhou pela janela. Ele olhou para ela e ela olhou
para ele. Então, pensou consigo mesmo. “É essa!”. A união durou até a morte dele, três meses
após completarem Bodas de Ouro (50 anos de casados).
Ele era um
educador nato. Fundou um colégio em Lajinha que abençoou a vida de muitos
jovens da região. Deu o nome de Ginásio “Ruy
Barbosa”, em homenagem ao célebre baiano, que deu muito orgulho ao Brasil.
Além dos
Cursos Primário (Alfabetização até a 4ª. Série), Ginasial (5ª até a 8ª. Série) e
Contabilidade, havia também o Curso de Datilografia, que eu amava. Tínhamos lá,
também, uma biblioteca e um laboratório. Não faltaram os times de voleibol e
futebol. As disputas eram com times da região. E as
comemorações cívicas eram famosas na região – no Dia da Independência (07 de
setembro) e no Dia da Cidade (22 de junho).
Muito do meu
tempo livre, na infância, foi passado na biblioteca do nosso colégio. Passei
momentos mágicos ali. Li toda a coleção de Monteiro Lobato, O Tesouro da
Juventude e outros livrinhos de histórias infantis.
Esse colégio
foi vendido para o Governo de Estado de MG quando nos mudamos para Vitória.
Passou a chamar-se Colégio Estadual “Dr. Adalmário José dos Santos” que ainda
continua educando várias gerações de jovens daquelas bandas das Minas Gerais.
Aprendi
lições inesquecíveis com o papai. Com a vida e com palavras, nos ensinava a
sermos modestos, humildes e bondosos. Lembro-me de ouvi-lo dizer:
- "Quando fizer menção de alguém, nunca destaque os defeitos das pessoas: 'Aquela
pessoa que tem nariz grande'; 'que manca'; 'careca'; 'gorda'; ‘dentuça’ etc”.
- “Quando
for mencionar nomes, incluindo o seu, deixe o seu por último: 'Estávamos todos
lá - Fulano, Sicrano e eu'".
Até hoje,
sinto-me incomodada com tantos casos de falta de modéstia, humildade e bondade.
E ele vivia o que pregava. Cheio de sensibilidade e amor ao próximo.
Foi o papai
quem me batizou em 03/04/1955. Dei meu testemunho público por ter aceito Jesus
como meu Salvador e Senhor ao ser mergulhada nas águas barrentas de um rio, por
causa da chuva, na cidade de Lajinha, MG.
Foi o papai
quem também oficiou o meu casamento com Aurecil dos Santos em 13/02/1965, na
Igreja Batista Central de Vitória. O Pastor Manoel de Farias, que pastoreava
nossa igreja, teve participação na cerimônia, também.
VIII.
CASA
CHEIA
Muitos
jovens viveram em nossa casa. O papai gostava de ajudar no desenvolvimento
educacional deles, ao passo que, lhes dava oportunidade de trabalharem também. Alguns
ajudavam no trabalho do Ginásio e outros no serviço de nossa casa, na horta,
etc.
Tinha a Filó,
a Rosália (aparentada com a mamãe), e a Chiquinha (prima do papai). Elas
moravam na nossa própria casa. A Filó e a Rosália davam aulas e a Chiquinha cozinhava
para os rapazes do Internato.
A Chiquinha
e a Noêmia eram irmãs, primas do papai, filhas de um irmão do Vovô Lica,
chamado Mário.
A Noêmia
chegou com três filhos pequenos, abandonada pelo marido. Receberam casa para
morar, estudo para os filhos e trabalho remunerado. Ela lavava e passava as roupas
dos alunos internos que, naquela época, eram lavadas à mão no tanque, e
passadas com ferro à brasa.
A Chiquinha
era solteirona. Nome pejorativo que se dava para as moças que custavam se
casar. Casou-se, com um viúvo, alguns anos mais tarde. Ela dava conta de cozinhar
para os rapazes do internato, quase em número de cem. Alguns alunos internos
ajudavam no serviço da cozinha e refeitório. Nossas refeições vinham da cozinha
do internato, numa marmita. Em casa, fervia-se o leite, fazia-se doce de leite,
papa de milho verde, geleia de pêssego, salada de frutas, cuscuz de milho todo
domingo à tarde e, no meu aniversário de 11 anos, teve até empadinha de frango!
Elas eram uma grande novidade na época. A esposa de um dos professores do
colégio trouxe a receita quando mudaram para nossa cidade. Eles eram naturais
de Formiga, uma cidade próxima à capital mineira, Belo Horizonte.
Certa vez, quando
ainda era uma pré-adolescente, recebi um bilhetinho de um garoto e o perdi. A
Chiquinha o achou e me deu uma grande bronca, com sérias ameaças de contar ao
papai. Fez um tipo de chantagem comigo. Fiquei meio assustada e me sentindo
culpada por um bom tempo, sem haver nenhuma razão para isso.
Essas primas
do papai eram muito católicas. Conviveram bem com todos nós, sem, contudo,
nunca terem visitado a Igreja que o papai pastoreava. Participavam ativamente
das missas e procissões da Igreja Católica, que fazia muita oposição à nossa
escola e igreja. Elas tinham outra irmã, Luzia, que, de vez em quando
aparecia para visitá-las. A Luzia era alta e magrinha. Lembro-me de ouvir
pessoas falando baixinho: "Ela teve tuberculose!". A maioria das pessoas
que ficavam tuberculosas naquela época, morriam. As sobreviventes eram sempre discriminadas.
IX.
OS
IRMÃOS VIEIRA DE OLIVEIRA
Tivemos uma
infância tranquila e feliz. Formávamos uma escadinha de sete crianças que iam
chegando de dois em dois anos, aproximadamente. Morávamos numa casa espaçosa,
que ficava à margem do córrego que limitava um dos lados da nossa propriedade.
E, convivemos
com muita, muita gente. Algumas pessoas que foram ajudadas pelo papai nos
trouxeram decepções, que aos poucos foram superadas com o nosso amadurecimento.
Um dos meus filhos, certa vez, reclamou que eu mantinha nossa casa muito
fechada para os outros. Acho que quis fazer as coisas um pouco diferentes para nossos filhos. E espero que tenha
funcionado bem assim.
Era à noite
que nos juntávamos para brincar até gastar toda a energia e o sono chegar.
Viajávamos de avião, enfileirando cadeiras no corredor, com o mais velho
pilotando. Navegávamos na rede da varanda, por ondas tão turbulentas que numa
daquelas noites, o barco virou e todos nós nos esborrachamos no chão, exceto o
mais espertinho que era quem balançava a rede.
Os irmãos
caçavam passarinhos e preás. Também ajudavam o papai a plantar fruteiras e
milho para nossas papas. Cornélio, o
mais velho, plantou grama no campo de futebol do colégio sozinho. Ele era
apaixonado por futebol desde pequeno. Fazia coleção de revistas esportivas,
formando uma grande pilha delas. O José nos vigiava e policiava todo momento –
queria que tivéssemos um comportamento exemplar.
Tínhamos
frutas frescas, verduras e legumes colhidos na nossa horta. O leite era
entregue na janela da cozinha por um dos meninos da família Sathler, que
chegava a cavalo e fazia a entrega sem desmontar do animal. Nosso fogão
era à palha de café, já que Lajinha é uma região cafeeira. A palha era a casca
seca, depois de retirado o apreciado grãozinho. Era o tipo mais comum de fogão
por lá. Dentro dele passavam canos e a
água chegava a ferver na caixa. Tínhamos que temperar bem com a torneira de
água fria na hora do banho. A água vinha de uma nascente na nossa própria
chácara.
Eu gostava
de contar histórias para as irmãs menores, imitando a mamãe e outras moças que
contavam histórias bíblicas na igreja usando o flanelógrafo. Só que eu inventava
as histórias, recortava figuras, cuspia nelas e as prendia nos azulejos do
lavabo que havia em nossa sala de jantar. Houve até reclamação por parte da “audiência”
que eu estava contando histórias assustadoras.
Inevitavelmente,
crescemos. Cada um tomou seu rumo. Penso que a orientação que o papai nos dava,
de escolher carreiras que fossem úteis à humanidade, foi seguida. Cada um, a
seu modo, contribuiu e ainda contribui para tornar nosso mundo um pouco melhor.
Nossos encontros como adultos aconteciam em nossas visitas aos pais em Juiz de
Fora. Hoje, graças às redes sociais, mantemos contatos mais frequentes uns com
os outros.
1. Cornélio
Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em
24/12/1942, no mesmo ano da formatura do papai no Seminário Teológico Batista
do Sul do Brasil. Neste tempo, ele já pastoreava a Igreja Batista de Ricardo de
Albuquerque, na cidade do Rio.
O primogênito
recebeu esse nome em homenagem a um tio do papai, aquele do Pai Nosso.
Exerceu a
função de Indigenista. Trabalhou até sua aposentadoria para a FUNAI, Fundação
Nacional do Índio, do Governo Federal. Era sua tarefa providenciar atendimento
às necessidades básicas de tribos indígenas. Viveu em vários estados
brasileiros, entre as seguintes tribos: Trocara, Asurini, Munduruku, Parakana
no Pará; Kraho em Goiás; Terena, Guarani em São Paulo; Pataxó na Bahia; Kaingang
no Paraná; Awa-guaja – Maranhão; Waimiri, Atroari no Amazonas.
Casou-se com
Rosália Cortes e teve dois filhos: Ilimani e Mauê. A netinha, Beatriz, é filha do
Ilimani; o Ian, filho da Mauê. Está divorciado. Depois de aposentado, passou a
viver em Juiz de Fora, MG.
2 2. Miriam
Nasci em
Vitória - ES em 13/11/1944. Meu nome foi sugerido por uma prima da mamãe -
Ester Nascimento. Nasci em casa da avó materna. Vitória é uma cidade muito
bonita, também chamada “Cidade Presépio”. Sempre tive orgulho de ter nascido capixaba. Meus pais moravam
em Aimorés, MG, onde ele pastoreava a Igreja Batista e a mamãe ensinava no Ginásio
Pan-Americano. Fui aluna dela no Jardim de Infância lá.
Casei-me com
o Pr. Aurecil dos Santos. Tivemos três filhos:
Renato, Jane e Fabiane. Aos quatro dedico parte especial das minhas memórias.
Exerci as
funções de: Diretora do Internato Feminino do CBF em Campos, RJ; Professora
Estadual (contratada) de Alfabetização e Educação Artística, em ocasiões
diferentes; Professora do Seminário em Campos; Professora de Piano; Educadora
Religiosa (voluntariado). E, para concluir, Conselheira Tutelar em Macaé, RJ. Estou
aposentada. Meu esposo e eu moramos em Macaé, RJ.
3 3. José
Nasceu em
Aimorés, MG em 17/02/1946. Recebeu o nome do nosso avô materno. Ele e o irmão
mais velho, Cornélio, eram muito amigos e fizeram muitas travessuras juntos.
Fez o Curso
de Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Teve dois
Laboratórios de Análises Clínicas, um em Alegre e outro em Guaçuí, ES. Foi
também o farmacêutico do Hospital Municipal de Alegre.
Casou-se com
Neusa Tristão e teve três filhas: Andressa, Ingrid e Vivian. Andressa lhe deu o
primeiro neto, Matheus; e Vivian, as netinhas Lara e Sara.
Aos 45 anos
teve um AVC (acidente vascular cerebral) e algum tempo depois outro, ficando
com várias sequelas. Mesmo assim, continuou exercendo a profissão por vários
anos, em Alegre e ali viu suas filhas crescerem. Divorciou-se e aposentou-se
nessa mesma cidade. Faleceu em 04/04/2013, aos 66 anos e lá foi sepultado.
4 4. Rosalina
Também
nasceu em Aimorés, MG em 11/08/1948. Foi a irmã que recebeu o nome da avó
paterna. Quando mudamos para Lajinha ela ainda era um bebê.
Fez, também, o
Curso de Farmácia e Bioquímica na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG.
Conheceu o seu esposo, Rubens Toledo de Carvalho, na Universidade. Depois de
formados, abriram um Laboratório de Análises Clinicas em Santos Dumont, MG,
onde exerceram a profissão por cerca de 40 anos.
Tiveram um
casal de filhos: Natália e Carlos Rubens. As netinhas Stella e Ingrid são filhas
da Natália; e Gabriela e Alicia, do Carlos Rubens. Ficou viúva. Está
aposentada. Tem residência em Juiz de Fora -MG.
5 5. Jane
A primeira irmã nascida em Lajinha em
28/06/1950. Nasceu no sobrado branco de janelas e portas cor de laranja, no
centro da cidade. Recebeu esse nome em homenagem a duas mulheres que
influenciaram nossos pais: D. Jane, dona da pensão onde o papai morou em
Manhumirim, quando jovem e D. Jane Soren, que foi professora da mamãe na Escola
de Obreiras, no Rio.
Jane iniciou
o Curso de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Não chegou a
concluir o curso. Viveu algum
tempo com Kenji Yamakoshi, de nacionalidade japonesa. Teve dois filhos: Ken e
Akemi. Ela e os filhos passaram a morar com nossos pais enquanto eles viveram.
Jane e Akemi continuaram a viver na mesma casa, após a morte do papai e da
mamãe. João Pedro foi o netinho que a Akemi deu a Jane.
6 6. Aurelina
A segunda
irmã nascida em Lajinha, em 27/04/1952, recebeu o nome da nossa avó materna. Em
casa, nós a chamamos de Lela, apelido dado pelo José.
Quando ela
nasceu, nós já morávamos na chácara nova. Na mesma propriedade em que foram
construídos o prédio do colégio, o prédio do internato e os campos de futebol e
voleibol. Os tijolos para nossa casa e para o colégio, foram feitos de
barro tirado da frente da nossa casa. Nos buracos escavados para retirar o barro, o papai fez
açudes para peixes. Plantou eucaliptos ao redor. Era bonita a paisagem no
entorno da nossa casa do Berra Onça!
Lela é a
artista plástica da família. Cursou Belas Artes na Escola Guinard de Artes, em Belo
Horizonte, MG. Pintou vários quadros muito bonitos. Fez o curso de Pedagogia na Faculdade Domenico, em Guarujá, SP. Foi professora de Educação Artística e Orientadora Pedagógica.
Casou-se com
Pedro Henrique Duarte Ferreira, engenheiro civil. Tiveram três filhos: Juliana,
Ana Luísa e Pedrinho. Ana Luísa deu a
eles o netinho Miguel, e Pedrinho, o Antônio.
Hoje faz curso de escultura em argila para lazer, e
usa suas mãos para fazer coisas muito bonitas para presentear os netinhos. Ela
e o esposo estão aposentados e residem em São Paulo, SP.
7 7. Anita
A caçula da
família nasceu em Lajinha, em 07/09/1953, numa manhã de desfile cívico dos
alunos do Ginásio “Ruy Barbosa”. Nesse dia, recitei do palanque uma poesia
patriótica, cujas palavras não me recordo mais. O bebê recebeu o nome de uma tia paterna do
papai. Anita é o diminutivo de Ana.
Cursou
Sociologia na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. Num concurso para socióloga
do INSS, passou em primeiro lugar. Trabalhou nesta profissão por um período de
poucos anos. Sofreu uma enfermidade que a debilitou emocionalmente. Foi
diagnosticada e tratada como esquizofrênica.
Não se casou. Aposentou-se por invalidez. Faleceu aos 53
anos de idade em 03/10/2006. Foi sepultada em Juiz de Fora, MG.
X.
TIOS
E PRIMOS
1 1. Tios
Não tivemos
muitos tios. Tanto a família do papai como a da mamãe foram pequenas.
Do lado
materno tínhamos: Tia Nadé (Edelzuita) e o Tio Vicente; Titio Nelson e Tia
Alaídes. Todos já falecidos.
Do lado
paterno tínhamos: Tia Maria e Tio Alberto; Tia Horacina e Tio Tininho (Altino).Todos
já falecidos também. A Titia Horacina e o Tio Tininho faleceram com poucos dias
de diferença um do outro
.
A Titia
Horacina era boa para todos os sobrinhos, mas premiava as sobrinhas de modo especial. Ela e o Tio
Tininho tinham uma loja, onde vendiam tecidos, sapatos e aviamentos (linhas,
fitas, bordados, etc). E ela era excelente costureira. Quando o Tio Tininho ia
ao Rio fazer compras para sua loja, trazia figurinos com modelos dos vestidos
mais atuais. Como a Titia só tinha um
filho - o Oscar, as sobrinhas eram o alvo das obras primas dela.
Os meus
vestidos para os recitais de alunos de piano eram feitos com muito carinho por
ela. Mesmo fora de festas e celebrações ela nos presentiava. Lembro-me de ter
chegado da escola, certa vez, e encontrado um vestido novo pendurado no cabide.
Era um vestido de tafetá (seda), de “corpo longo” (cintura baixa), que as moças
usavam na época. Fiquei toda emocionada com a moda de “gente grande”.
A Titia Horacina foi
uma mulher inesquecível! Presto aqui o meu tributo de gratidão ao amor dela por
todos nós, os sobrinhos.
2 2. Primos
Primos, nós
os tivemos em boa quantidade! Não convivemos com todos eles por vivermos em
cidades diferentes.
Da família
paterna:
Filhos da Tia Maria e Tio Alberto: Rosalina (Filhinha), Edison, Terezinha, Ênnes, Élcio (Elcinho), Enny, Eunice, Alberto (Albertinho), Cornélio (Cornelinho), Áureo e Áurea (Aurinha) – gêmeos, Silvio, Antônio (Toninho) e Gilberto.
Dentre esses
primos, alguns já faleceram: Filhinha, Edison, Terezinha, Ênnes, Elcinho, Eunice, Aurinha, Toninho e Gilberto.
A Filhinha fez meu vestido de noiva. Foi um
vestido muito bonito!
O Edison nos hospedou por ocasião da Aliança Batista
Mundial (1960), no Rio. Ele morava em Copacabana. Levou-me a uma loja e deixou
que eu escolhesse uma roupa. Uma experiência que nunca seria esquecida por uma
adolescente de 15 anos.
A Eunice foi minha professora de Português por
um período curto de tempo. Mas, despertou em mim gosto pela escrita, quando me
ajudou a escrever uma redação sobre a árvore. Ela me mostrou como é possível “colorir”
com palavras.
A Aurinha era minha amiguinha de infância,
apesar da distância. Ela teceu (numa
máquina especial) um vestido de malha amarelo e me deu de presente para o meu
noivado.
O Oscar e eu
éramos bons amigos. Compartilhávamos interesse por leitura. E ele falava sobre
o interesse dele por algumas meninas, mencionando alguns possíveis namorados
para mim. Essas namoradas e esses namorados eram só na conversa entre nós dois.
Os candidatos nem imaginavam o que andávamos conversando.
Anos se
passaram. Conheci Aurecil quando estava estudando no Rio. Ele tinha terminado o
namoro com uma colega minha, chamada Lívia. Um pouco depois ele começou a me cortejar. Eu fiquei cheia de escrúpulos, com medo de magoar a amiga. Imaginem
quem aparece para me visitar (1963) - o Oscar! Sentamos num
banco em frente à escola. Contei a história para o meu confidente de infância. Ele
incentivou o namoro, que culminou em casamento (1965).
Da família materna:
Filhos do
Titio Nelson e Tia Alaides: Marcia, Aleida, Nelson (Nelsinho), José Roberto
(Bebeto), Carlos Alberto (Tonton), Fernando
e Gustavo. O Carlos Alberto já faleceu.
Tínhamos
contato com eles quando íamos de férias a Vitória. Com a nossa mudança para lá
em 1960, os contatos foram mais frequentes.
Filhos da
Tia Nadé e Tio Vicente: Isabel, José, Aurelina (Ina), Elizabeth (Betinha). Esses
são os primos que ficaram órfãos de mãe bem pequenos. Foram criados pela Vovó
Aurelina. Quando visitávamos a vovó, sempre estávamos com eles.
O Tio
Vicente casou-se novamente. Lembro-me que a Vovó tinha ciúmes da nova esposa
dele. Não era nada generosa quando se referia a ela.
XI.
PAIXÃO
POR LIVROS
Vivi quinze
anos em MG (1944 - 1959), divididos entre Aimorés e Lajinha. Foi uma infância
cheia de muitas aventuras. Andei bastante de bicicleta. Li muitos livros na
biblioteca do Ginásio "Ruy Barbosa"- a Coleção de Monteiro Lobato
completa, textos de O Tesouro da Juventude e muitos outros livros de histórias
infantis.
Encomendei
pelo Correio, pelo sistema de reembolso postal, o livro “Viagens Maravilhosas
de Marco Polo”, de Lúcia Machado de Almeida. Fiquei encantada com a narrativa
das viagens. Até hoje conservo em minha escrivaninha
esse tesouro.
Ganhei, no
meu aniversário de 11 anos, o aniversário que teve empadinhas, os livros – David
Livingstone e O Peregrino, de John Bunyan. Eram ilustrados e com letras bem
grandes. Esses dois livros marcaram muito a minha vida. O primeiro narrava o
trabalho do médico inglês, missionário em terras africanas. O segundo, em
linguagem figurada, contava a jornada difícil de um cristão neste mundo, a caminho da
cidade celestial. Foram presentes do Pr. Joaquim Pedrosa, que na ocasião fazia
conferências evangelísticas em nossa igreja.
Até então, meus
pais haviam se dedicado ao ministério pastoral e ao magistério. Em Aimorés -
Igreja Batista e Ginásio Pan-Americano. Em Lajinha - Igreja Batista e Ginásio
Ruy Barbosa.
XII.
VITÓRIA,
ES
1. Retorno
1. Retorno
Aos meus 15
anos de idade, partimos para a cidade de Vitória. A mamãe alegrou-se muito com
o retorno a Vitória. Ela
crescera ali. Sua mãe e
seu único irmão estavam radicados também nessa cidade. Durante os anos passados
em Vitória, a mamãe visitou a Vovó Aurelina todas as tardes, com raríssimas
exceções.
Ela não
voltou a ensinar. Sentia-se cansada e com a saúde um pouco abalada. Precisou passar
por uma cirurgia e recuperou-se bem.
Participamos da
Igreja Batista Central, que se reunia no Colégio Americano Batista. Fomos ovelhas do Pr.
Alexandre Serrat (boliviano) e a seguir, do Pr. Manoel de Farias (português). Nela,
os Cultos de Oração eram às quartas-feiras. Em algumas quintas-feiras fui com a
mamãe ao Culto na Primeira Igreja Batista
de Vitória, cujo templo era ainda o antigo, na Rua General Osório. Eu me
encantava com o belo vitral existente naquele templo antigo e tão bonito. Lembro-me
da alegria da mamãe lá, reencontrando outros velhos amigos. O pastor PIB de
Vitória naquela época era o Pr. Nilson Fanini
Na Capital Capixaba, todos nós, os sete filhos,
estudamos no Colégio Americano Batista. O
mesmo colégio onde o papai e a mamãe haviam estudado. Éramos todos ou
pré-adolescentes ou adolescentes. Nossa casa em Vitória fervilhava com a
energia dos Vieira de Oliveira. Nesse período em Vitória, aproveitamos as
praias e tivemos outros privilégios que a vida numa capital oferece.
Nossa casa, como sempre, serviu como hospedagem para
missionários, pastores e seminaristas em trânsito. Até um casal de seminaristas
veio passar a lua de mel em nossa casa. Imaginem! Numa casa cheia de
adolescentes!
2. Cisão e União
O papai
assumiu o cargo de Secretário-Executivo da Convenção Batista Espiritossantense
(1960). Visitou as igrejas enfraquecidas em todo o estado do ES.
Aprendeu a
dirigir depois dos 40 anos de idade. Viajava num Jeep Willys, por estradas sem
asfalto. O propósito do coração dele era unir as igrejas batistas do Estado,
cujos líderes haviam se desentendido. Alguns deixaram a Convenção já existente,
a Capixaba, e formaram a outra. Como o papai estava fora do Estado por ocasião
do conflito, e ele tinha amigos na liderança de ambas as convenções, trabalhou
pela unificação com muita dedicação.
Depois da
fusão das duas convenções, partiu para a última etapa de seu ministério
pastoral. Mudou-se para Juiz de Fora. Pastoreou a Primeira Igreja Batista
daquela cidade até sua aposentadoria, por invalidez. Dos 60 aos 80 anos o papai
sofreu com o Mal de Parkinson. Não reclamava do sofrimento. Era espirituoso,
fazendo comentários até jocosos sobre o tremor resultante da enfermidade.
Na ocasião
da mudança de Vitória para Juiz de Fora, eu era recém-casada e não fui morar em
Juiz de Fora. No entanto, nossas viagens com os filhos pequenos eram sempre
para lá. Nossas crianças curtiram muito as visitas à casa do Vovô e da Vovó e a
atenção das tias e tios. Juiz de Fora é uma cidade bonita e atraente. Os filhos
visitavam o Museu Mariano Procópio e fazíamos compras de roupas para toda a família. Lá encontrávamos
preços bons e roupas bonitas. Havia muitas confecções de roupas na cidade
naquele tempo.
XIII.
RIO
DE JANEIRO, RJ
Concluído o
Curso de Formação de Professores, fui para a cidade do Rio fazer o Curso de
Bacharel em Educação Religiosa (1962). A viagem de Vitória ao Rio levava 12 horas de
ônibus. Ainda estavam abrindo e asfaltando a estrada BR101. Até então, as
viagens eram feitas costeando o litoral.
Meus pais
não tinham telefone em casa. Nossos contatos eram por carta. Às vezes, o papai
vinha ao Rio para reuniões da Junta de Missões Mundiais e assim, eu podia matar
um pouco a saudade da família.
Por estar
distante e sem dinheiro para ir a Vitória nos feriados prolongados, muitas
vezes fiquei quase sozinha em todo o prédio da escola. Atrás do prédio de aulas
e internato havia outro prédio menor com várias salas contíguas, com pianos
para as alunas estudarem. Numa dessas salas eu me refugiava tanto para estudar piano
quanto para cantar hinos quando estava triste. Até hoje, esta tem sido a forma
de me confortar e fortalecer diante dos embates da vida. Toco e canto baixinho
os hinos do Cantor Cristão ou do Hinário Para o Culto Cristão até me sentir
fortalecida emocional e espiritualmente.
Nesta
escola, cada aluna lavava e passava suas próprias roupas. Tínhamos que arrumar
a cama antes de descer do terceiro andar para o café da manhã no andar térreo. Havia
fiscalização constante. Se deixássemos qualquer objeto pessoal fora do lugar, esse
objeto era apanhado e colocado no "prego" (guardado). Para tê-lo de
volta tínhamos que pagar uma pequena quantia em dinheiro. Aprendi a ter um
lugar para cada coisa e manter cada coisa em seu devido lugar.
As alunas
faziam serviços, como: arrumar mesas, lavar louça, limpar banheiros, etc. Logo
que cheguei ao ITC, meu primeiro serviço doméstico foi limpar, diariamente, o
banheiro do terceiro andar, que era o maior de todos. A funcionária
encarregada de fazer a distribuição do trabalho doméstico veio me pedir
desculpas. Ela tinha visto as fotos das novas alunas e, pela minha foto 3/4,
tinha achado que eu era uma pessoa alta e forte, por isso, tinha me colocado
para lavar aquele banheiro grande. Para
minimizar a situação, ela mesma vinha me ajudar todas as manhãs. Embora eu não
tivesse reclamado ou pedido para trocar de serviço.
Todas estas
exigências paralelas ao estudo das matérias de Educação Religiosa, me ajudaram a ser dona de casa logo após o curso. Mesmo
não sendo extremamente exigente, consigo manter a casa em ordem. Cada coisa tem
o seu lugar e volta para ele logo após o uso. Posso
encontrar uma agulha no escuro.
Durante esse
curso conheci o rapaz com quem me casei - Aurecil dos Santos. Ele era estudante
do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, cursando Bacharel em Teologia.
Eu cursava o Bacharel em Educação Religiosa (ITC). Começamos a
namorar no Dia dos Namorados - 12/06/1963. Ficamos noivos em 09/07/1964. Nosso
casamento foi no Salão Nobre do Colégio Americano de Vitória - 13/02/1965.
XIV.
AURECIL
Ele nasceu
em um sitio em São Fidélis, num local chamado Penedo. Eu nasci em Vitória, onde
há uma pedreira, cartão postal da cidade, chamada Penedo. Ele tem uma
irmã chamada Aurelina. Eu tenho uma irmã, uma prima e a avó materna chamadas
Aurelina. Ele tinha um avô chamado José e eu também. Coincidências da vida.
Aurecil
passou a infância no sitio dos pais, Aurélio dos Santos e Othelina Cardoso dos
Santos. Seus avós e pais já eram cristãos na ocasião do seu nascimento.
Participavam da Igreja Batista. O meu sogro liderava uma Congregação Batista
bem próxima à casa deles no Penedo. Todos os filhos cresceram frequentando
aquela congregação.
Aurecil era
o mais velho de uma “turminha” de 12 irmãos que o seguiram na seguinte ordem: José Carlos, Cézar, Aurênio, Elias, Gutemberg, Aurelina, Willas, Maria Isaura,
Aristides, Alda e Sara. Vinte anos separam Aurecil da irmã caçula, Sara.
Saiu para a
cidade de São Fidélis, para estudar, aos 12 anos de idade. Ficou numa pensão
por seis meses. Depois que seus avós paternos deixaram o sitio e foram para a
cidade, ele passou a morar como eles. Os avós eram – José Augusto dos Santos e
Isaura Louback dos Santos.
Dois anos
depois, foi morar no Internato para estudar no Colégio Batista Fluminense em
Campos. Trabalhou em troca da bolsa de estudos, cursando ali até o Ensino Médio.
Durante os
anos em Campos uniu-se à Segunda Igreja Batista, ligada ao Colégio Batista
Fluminense por ser pastoreada pelo diretor daquele educandário. Esta igreja o
recomendou ao Seminário no Rio. Anos mais tarde, ele a pastoreou por 14 anos.
Cursou: (1)
Bacharel em Teologia no Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro,
RJ; (2) Filosofia na Faculdade de Mogi das Cruzes, SP (curso à distância); e
(3) Direito na Faculdade de Direito de Campos dos Goytacazes, RJ; (4) Mestrado em
Divindades no Midwestern Baptist Theological Seminary em Kansas City, MO – USA.
O sítio dava
muito trabalho. Todos ajudavam no trabalho de onde tiravam todo o sustento. Arroz, feijão,
frutas, verduras, legumes, leite... O leite tirado das vacas. O alimento
colhido da terra. Comiam carne de porco e de galinha que eles mesmos criavam.
Quando matavam
um porco, enviavam uma porção para os vizinhos, que agiam da mesma forma quando
abatiam um suíno. Faziam linguiça em casa. Na falta de geladeira, era assim que
preservavam a carne: fritavam toda a carne de porco e a guardavam na gordura, que
se condensava e a conservava até acabar. A carne não devia durar muito com uma
família tão grande como a deles!
Aurecil é
determinado e trabalhador. Um bom administrador. Aprendeu com o pai a nunca
gastar mais do que ganhava, e a ter uma vida simples. Passamos
apertos financeiros no início da nossa vida conjugal. Precisamos vender um
acordeão que ele possuía e usara para tocar nas Escolas Bíblicas de Férias que
fazia durante os períodos de férias, bem como o anel de formatura do Curso de
Bacharel em Teologia. Assim, equilibramos nossa vida financeira naquela
ocasião, e continuamos bem equilibrados até o dia de hoje.
Poucos dias
depois de casados, os irmãos de Aurecil, Cézar e Aurênio, vieram morar conosco.
Por dois anos dividimos com eles o nosso arroz com feijão e ovos, que era o que
comíamos mais frequentemente. Algum tempo
depois, tivemos oportunidade de ter salários que nos davam um sustento melhor. E
eu, que também sempre exerci alguma
atividade remunerada, participava diretamente no sustento da família. Nunca compramos
o mais caro ou o melhor. Comprávamos de acordo com nossas posses. Sempre
tivemos nossas contas em dia, graças ao nosso trabalho como casal e à boa administração dele. Em casa, ele
ainda conserta tudo que quebra ou estraga. Só não conseguiu ainda consertar fósforo queimado! Mas, quem sabe, algum
dia... Da minha parte, sempre cuidei bem do que tínhamos. Tenho pano de prato
de 30 anos, lençol de mais de 50 em bom estado de conservação. Mas também, doamos
coisas que, embora estivessem em bom estado de conservação, não nos estavam
sendo úteis.
Os da família Santos que já partiram:
- Maria Isaura, irmã (25/09/1955 - 23/03/1956),
aos seis meses de idade, de meningite.
- Willas, irmão, (22/09/1952 - 23/10/1994),
aos 42 anos, de problemas cardíacos, resultado de infecções constantes na
garganta, que causaram febre reumática quando pequeno.
- Aurélio, pai (28/09/1917 - 23/03/1998), aos 80
anos.
- Othelina, mãe (25/09/1920 -
25/01/2010), aos 90 anos.
A Maria Isaura
foi sepultada no Penedo, em São Fidélis. Os demais estão sepultados no Campo da
Paz, em Campos dos Goytacazes, num jazigo que compramos quando nossos filhos
ainda eram bem pequenos. É lá que desejamos ser sepultados.
XV.
GUAXINDIBA
Quando morávamos
em Campos, certa vez, para aproveitarmos o verão na praia, dormimos com as crianças
numa salinha da Igreja Batista de Guaxindiba. Era a única igreja naquela época.
No domingo, Aurecil pregou na igreja. Esse foi o acordo feito.
Em outro
verão, ficamos na pensão do Sr. José Areas, nome do proprietário. E,
coincidentemente, a pensão ficava bem em cima da areia da praia. De outra vez,
alugamos uma pequena casa perto da pensão e, em outro verão, fomos para a praia
de Grussaí. Nossa família gosta do mar.
Planejamos construir
uma casa em Guaxindiba. Lá o mar é calmo e a vida é tranquila. Os barquinhos de
pescadores ficam ancorados perto da arrebentação, embelezando o cenário.
Pusemos
nosso plano em ação. Uma construção bem
simples, mas bem planejada. Logo que as paredes, o teto, os banheiros e a
cozinha ficaram prontos, começamos a usá-la. Completamente inacabada. Nós mesmos
colocamos os azulejos no banheiro social. Tania, que mais tarde veio a se
tornar nossa nora, veio nos visitar, e também ajudou a colocar alguns azulejos.
Já vi lugares em que os azulejos não ficaram tão bem colocados como os nossos,
modéstia à parte.
As boas
lembranças das nossas idas à Guaxindiba são muitas. As crianças soltas,
brincando, se divertindo ao ar livre. Sendo o mar muito manso, as idas à praia
eram muito agradáveis e tranquilas. Os camarões fresquinhos e gostosos que nos
davam bastante trabalho para limpar e preparar. Sem falar nos encontros agradáveis
com amigos de Campos e São Fidélis que veraneavam por lá também.
Fizemos móveis
de alvenaria: camas, mesa redonda na copa, escrivaninha, sofás e armários
embutidos sem portas. Fiz almofadas para os assentos e, embora fosse tudo
rústico, desfrutávamos de relativo conforto.
Na copa, no
espaço reservado para armário, Aurecil colocou quatro madeiras roliças e fixou
nelas umas prateleiras improvisadas. Cada
vez que íamos para lá, eu as forrava com papel pardo com umas flores recortadas
para decorá-las. Anos mais tarde, quando profissionais colocaram os armários
modulados em nossa casa de Macaé, lembrei-me das nossas prateleiras de
Guaxindiba e me emocionei. Senti Deus me dizendo que era uma recompensa do meu
zelo com as prateleiras de anos atrás. Eu sempre O senti por perto em todos os
lugares onde estivemos.
Uns amigos de Renato estavam
vendendo picolé na praia. Ele ficou todo interessado em entrar para o
"ramo do picolé". Providenciou uma caixa de isopor e partiu para a
venda dos picolés. Só que, os bem sucedidos no negócio,
iam gritando pela praia: "Olha o picolé! Olha o picolé!¨
Quando ele
se aproximou do local onde nós ficávamos na praia, ele ainda não tinha vendido
nenhum picolé, por vergonha de gritar "Olha o picolé!" Aurecil
resolveu o problema comprando todos os picolés da caixa de isopor. Diante da
dificuldade encontrada, Renato resolveu, então, escolher outra carreira!
XVI.
MACAÉ, RJ
Planejávamos
passar nossa velhice em Guaxindiba, São Francisco, RJ. Com as voltas que a vida
deu, vendemos a casa de lá para construir outra em Macaé, RJ. Se sonhávamos
passar a velhice na praia, nossa ida para Macaé, a Princesinha do Atlântico, nos
levou a planejar a venda da casa de Guaxindiba.
Em Macaé,
teríamos o mar e os médicos por perto durante a velhice. Pusemos uma placa “VENDO”
na casa de Guaxindiba. Por cerca de dois anos, pessoas ligavam pedindo
informações. Mas, nunca retornavam para confirmar a compra. Finalmente
encontramos um barranco de frente para o mar em Macaé. Ficamos tão empolgados
que nos dispusemos a vender o carro para comprar o barranco.
Com a
intervenção bem clara de Deus, no dia seguinte, um amigo da cidade de Campos, telefonou
que queria comprar a nossa casa que estava à venda. Dentro de algumas horas o
negócio estava fechado e, com o dinheiro na mão, compramos o barranco e
construímos os muros.
Levamos
quatro anos construindo, antes de nos mudarmos para a casa nova. Morávamos até
então, ao lado da Primeira Igreja Batista de Macaé, na casa pastoral. Aos sábados
e feriados fazíamos, pessoalmente, pequenos serviços na obra: lixar, dar a
primeira demão de tinta etc. Aurecil desamassava
os pregos espalhados pelo chão para recicla-los. Mudamos para a casa,
inacabada, por ocasião do 30º aniversário de Renato, 08/07/1996.
Chorei de
alegria quando, pela primeira vez, pude ver já através de uma vidraça bonita toda a vastidão do Oceano Atlântico tão azul diante de mim! Uma
manifestação da graça e amor extravagantes de Deus. Ele tem sido bom em todo
tempo!
XVII.
NOSSOS
FILHOS
Deus nos
abençoou com três filhos: Renato, Jane e Fabiane. Cada um deles tem um lugar
especial em nossos corações. Apesar das nossas limitações como pais, a graça de
Deus tem sido abundante. Eles se tornaram bons cidadãos e seguidores fiéis de
Jesus. Os três
foram batizados pelo pai aos sete anos de idade. Eles nos trazem alegria e
enchem nosso coração de gratidão por serem quem eles são.
1. Renato
Ele nasceu
em 08/07/1966. Aurecil estava no primeiro pastorado dele, na Igreja Batista de
Parque Araruama, São João do Meriti. O Hospital Evangélico SASE ficava na cidade
vizinha de Duque de Caxias. Nesse hospital, chegou o nosso primogênito.
Lembro-me
que não fiquei nem um pouquinho com pressa de voltar para casa, receosa de não
saber cuidar bem do bebê. Porém, chegando em casa, a primeira pessoa que apareceu
para ver Renato foi uma enfermeira conhecida que se ofereceu para dar o
primeiro banho. Fiquei toda feliz sentindo que Deus sempre me socorreria, e
também me capacitaria a cuidar bem do nosso filho. E assim aconteceu. Quando
vieram as duas meninas eu já estava bem treinada para cuidar de bebezinhos.
Quando ele
tinha seis meses de idade, fizemos nossa mudança para Campos dos Goytacazes,
onde ele cresceu. Moramos, nesta época, no Internato Masculino do Colégio
Batista Fluminense. Aurecil era Diretor do Internato e Professor no Seminário.
Eu auxiliava a diretora do Internato Feminino, estudava e dava aula de piano
para algumas alunas internas. Quando saia para o trabalho, uma das moças do
Internato Feminino vinha ficar com Renato. Os alunos davam muita atenção a ele
pela grade da varanda da nossa moradia.
Estudou no
Colégio Batista, e no Liceu de Humanidades Campos. Foi membro ativo da Segunda
Igreja Batista. Nela, conheceu Tania Ferreira da Silva, que veio a ser sua
esposa e mãe de seus filhos: Lívia Maria, Ana Laura e Jonathan Caio.
Terminou o
Ensino Médio, fez Faculdade, Mestrado e Doutorado nos Estados Unidos. Reside
com a família em Cutler Bay - FL, onde trabalha como um dos Vice-presidentes do Sistema
Batista de Saúde, atuando na coordenação da Capelania Hospitalar.
2. Jane
Foi a
segunda a chegar. Nasceu em 09/04/1969 em Campos, no Hospital da Beneficência
Portuguesa. Morávamos no Internato Feminino, nesta ocasião. Aurecil dirigia o
Internato Masculino e eu, o Feminino. As meninas do Internato eram sempre
atenciosas e carinhosas com o bebê. Não faltaram colos e carinhos para ela.
Como o irmão
mais velho, Jane também participou das atividades da Segunda Igreja Batista de
Campos. Estudou no Colégio Batista Fluminense. Fez parte do Ensino Médio nos Estados
Unidos e cursou um ano de Artes em Campbellsville - KY, Estados Unidos. Tem
“mãos de fada” e faz muitas coisas belas com elas.
Casou-se com
Craig Alan Porter, um oficial do exército americano. Tiveram dois filhos: CJ
(Craig Jr) e Caleb. Hoje estão divorciados. Os filhos, que cresceram em Macaé, estão atualmente, estudando nos Estados Unidos.
Trabalhou,
como secretária bilíngue, em multinacionais do petróleo por vários anos, em
Macaé.
3. Fabiane
Nossa caçula, também nasceu no Hospital da Beneficência Portuguesa de Campos em
05/12/1972. No mesmo dia em que o Vovô Ambrósio, meu pai, fez 60 anos.
Quando ela
nasceu já não morávamos mais no Colégio Batista Fluminense. Mas, ela iniciou
seus estudos nesse colégio, como os dois irmãos mais velhos. Fez o Curso Básico
nos Estados Unidos e o Ensino Médio no Colégio Americano Batista de Vitória. Cursou
Sociologia no Georgetown College, KY – USA.
Era ativa
nas atividades infantis da Segunda Igreja Batista de Campos, onde Aurecil era
pastor.
Tem
trabalhado por vários anos como secretária bilíngue em multinacionais do petróleo.
Casou-se com
Adriano Barreto de Sousa (dentista), cuja família foi ovelha nossa na PIB de
Macaé. Micaela e Yuri são os netos que eles nos deram. Residem na cidade de
Macaé.
XVIII. IGREJAS
ONDE SERVIMOS
1.
Igreja
Batista de Parque Araruama, São João do Meriti – RJ (1964 – 1966)
Aurecil ainda era solteiro quando começou a pastorear essa
igreja. Meses depois
entrei na historia. Lá,
ficamos dois anos. César e
Aurênio, irmãos de Aurecil, moraram conosco durante todo esse período. Eles já
eram jovens e estavam iniciando a vida profissional.
A igreja era
pequena, mas dobrou o número de membros durante o nosso tempo ali. Subíamos e
descíamos morros a pé, visitando enfermos, pessoas com vários tipos de
dificuldades, novos convertidos etc. Era um lugar com temperaturas muito altas.
Muito difícil de se aguentar.
Nesse tempo,
trabalhei como professora estadual contratada também. Peguei turma de alfabetização.
Ocupamos um
apartamento novinho em cima de uma padaria. A igreja o alugou e mobiliou com
muito carinho para nós. Renato, nosso primogênito nasceu quando estávamos lá. Tenho
lembranças muito boas dos irmãos desta nossa primeira igreja.
2. Igreja Batista de Ponto de Cacimbas, São
Francisco – RJ (1967 – 1969)
Depois de
consultarmos a Deus em oração, e após recebermos um segundo convite, nos
sentimos inclinados a aceitar o convite de Campos dos Goytacazes. Fizemos nossa
mudança em janeiro de 1967.
Moramos
algum tempo no Internato Masculino, onde Aurecil trabalhou como diretor. Willas
e Aristides, irmãos de Aurecil, vieram também morar conosco em Campos.
Aristides era ainda uma criança (9 anos) e Willas um adolescente (15 anos). Quando
nos mudamos para o Internato Feminino, Aristides permaneceu no Internato
Masculino e Willas voltou para a casa dos pais, em São Fidelis. Eu assumi a
direção do Internato Feminino e Aurecil, continuou a trabalhar no Masculino.
O Pr. Ebenézer
Soares Ferreira, que era o diretor do Colégio Batista Fluminense na ocasião,
foi quem nos convidou e também nos
encaminhou para o trabalho nessa outra Igreja. Cada final de semana,
viajávamos para Ponto de Cacimbas..
A nossa
segunda igreja ficava num vilarejo chamado Ponto de Cacimbas, distrito de São João
da Barra naquele tempo. No inicio
viajávamos de ônibus com Renato no colo e Jane na barriga. Depois compramos
nosso primeiro carro - um fusquinha azul. A igreja era pequena assim como o
vilarejo, o que facilitava o trabalho de visitação aos membros. Naquele tempo
exíguo de sábado e domingo, fazíamos visitas e pregações.
Havia uma
casinha ao lado da igreja com uma cama de casal e um filtro. Tomávamos refeições
num abrigo de idosos, criado e administrado por um irmão de Igreja. O Irmão Manoel Carola tinha muito amor a esse abrigo, que ficava atrás da igreja. Lá, ficamos
conhecendo e nos tornamos fãs do Bolo Amélia (feito com leite quente e coco ou
queijo ralado), famoso naquela região.
Quantas
lembranças boas temos da amabilidade dos irmãos dessa igreja!
Jane nasceu
em Campos nesse período e Renato, que era bem pequeno nesta época, lembra-se apenas do jacaré que havia
num poço entre a igreja e o asilo. Talvez fosse uma preparação para a carreira
dele na Flórida, onde a gente pode encontrar um jacaré em qualquer pocinha
d'agua.
3. Segunda Igreja Batista de Campos dos
Goytacazes – RJ (1969 -1983)
Aurecil
recebeu o convite para pastorear esta igreja através do Pr. Joélcio Rodrigues
Barreto. Na ocasião, esse pastor estava deixando a igreja para fazer curso de
mestrado nos Estados Unidos. A Segunda Igreja fica próxima do Colégio Batista Fluminense
onde morávamos e trabalhávamos.
Novas preces
foram feitas buscando a orientação de Deus. Pouco depois, iniciamos a nossa
terceira etapa, servindo a Deus nessa Igreja. Foram 14 anos de dedicação ali
(1969 - 1983).
Muito
trabalho. Muita dependência de Deus. Um período de crescimento na graça e no
conhecimento de Jesus. Essa igreja também dobrou sua membresia durante nosso
trabalho ali.
Fabiane,
nossa caçula, nasceu neste período. Nossos
três filhos - Renato, Jane e Fabiane, foram batizados pelo pai, na Segunda Igreja
Batista de Campos.
Ali, Aurecil desenvolveu um trabalho de visitação
aos membros da Igreja por ocasião de enfermidades, nascimentos, necessidades especiais e,
especialmente, por ocasião dos
aniversários. Quando o número de membros aumentou ele passou a escrever cartas do próprio
punho para cada aniversariante, passando depois a enviar um cartão com mensagem
padronizada para todos os membros da Igreja. Nas outras igrejas, não deixava de
telefonar no dia especial de cada membro. Sempre encontra ex-ovelhas
agradecidas por esse cuidado especial que ele dedicou a cada uma delas.
Pelo
Facebook temos contato com vários irmãos desta amada igreja. É sempre uma alegria
reencontrá-los.
Nesta Igreja
eu formei três corais infantis, aos quais demos os nomes de "Pequenos
Cantores I, II, III". Participávamos de cultos na igreja e fizemos
apresentações especiais de Natal em
locais públicos - Coreto do Liceu e
Prefeitura Municipal, para funcionários e prefeito.
Durante os
anos em Campos dos Goytacazes, além do trabalho no Internato do Colégio
Batista, fui professora estadual de Educação Ártística (contratada), professora
de piano, e professora nos Cursos Pré-Teológico e Seminário Batista Fluminense.
Assumi a
liderança de Crianças da Associação Batista da Planície por alguns anos, bem
como da União Feminina Fluminense, por um ano.
Fiz parte do
então chamado Grupo de Currículo da União Feminina Missionária Batista do
Brasil. Meu nome foi apresentado pela ex-professora, Charllote Estelle Vaughn.
Reuníamos anualmente para planejamento na sede da União Feminina, no Rio. Escrevi
algumas séries de lições para a revista “O Pequeno Missionário” que teve seu
nome mudado para “Amigos de Missões” e, posteriormente, para “Sorriso”. Contribui também com alguns devocionais para "O Manancial", revista trimestral que depois passou a ser livro anual, com meditações diárias muito apreciadas pelas famílias batistas.
Indo para as
reuniões anuais, saia de ônibus de madrugada e chegava de volta à Campos bem
tarde naquele mesmo dia. Certa vez, no meu retorno do Rio, encontrei Jane e
Fabiane alvoroçadas. Havia um rato dentro da cômoda do quarto delas. Elas
tinham ouvido o barulho e o chiado dele. Fiquei surpresa e desanimada, pra não
dizer desesperada! Morávamos numa casa pastoral recém-construída. Não havia
terrenos baldios por perto e, eu estava extremamente cansada. Encostei-me no
móvel e, realmente, pude ouvir o barulho e o chiado do rato. Exclamei -
"Oh, Senhor!". Imediatamente o barulho cessou. Chamei Aurecil. Ele
veio, abriu a gaveta e o rato estava morto. No dia seguinte, toda a roupa foi
lavada e a cômoda desinfetada.
Aurecil não
gostava que eu repetisse essa historia. Não sei por quê? Orações não precisam
ser formais para serem respondidas. E, para algumas, a resposta vem na mesma
hora!
XIX.
KANSAS
CITY, MISSOURI – USA (1983 – 1987)
1. Mestrado
Já havíamos
aprendido com Jacó que Deus está em todo lugar (Gênesis 28.16). Mas, a vida em outro país nos provou isto.
Por um período
de quatro anos nos congregamos com a Park Hill Baptist Church. Essa Igreja nos
adotou como família. Deram a cada um de nós muita atenção e apoio. Nos feriados
de Ação de Graças e Natal sempre éramos convidados por alguma família da igreja
para participar da celebração com eles.
Um casal
aposentado nos visitou todas as quintas-feiras à noitinha, durante
os quatro anos que lá ficamos - Mr. Wayland e Mrs. Dorothy Thatch. Cada semana ele trazia uma pequena
oferta enviada por pessoas que preferiam
não se identificar. Mais tarde, esse casal nos visitou no Brasil, quando
estávamos em Vila Velha - ES. E ela veio a Macaé, junto com uma amiga de
Fabiane - Susan Brahams. Ambas tocaram no casamento de Fabiane e Adriano.
Nosso pastor
em Kansas City foi o Dr. David Overman, que também nos visitou em Macaé. Nessa
ocasião, pregou na Primeira Igreja Batista de Macaé e trouxe uma oferta para a
compra de um templo pré-fabricado para a missão que tínhamos em Mar do Norte, Rio
das Ostras. Essa missão é, hoje, uma forte igreja, que já construiu um templo
maior e usa o pré-fabricado para estudos bíblicos.
Ainda hoje
mantemos contato pelo Facebook com alguns irmãos de Kansas City.
2. Neve
Faz muito
calor e muito frio também em Kansas City. Chegamos lá no verão e o calor era
escaldante. No outono e primavera a temperatura é até mais fria que o inverno
do Sudeste do Brasil. No inverno o frio é intenso. A neve transforma a paisagem
completamente.
Fiquei sem
saber como me comportar quando caiu a primeira neve. As crianças tinham saído
para a escola e Aurecil, para aulas no seminário. Eu seria a ultima a sair.
Olhei pela janela e vi flocos de neve flutuando no ar. Já estava usando o casaco
sobretudo, luvas e cachecol. Mas, ai veio a pergunta - "Levo guarda-chuva
ou não?" Na duvida, levei o guarda-chuva. Decisão difícil para quem
cresceu nos trópicos.
Enquanto
caminhava para o prédio de aulas, os flocos de neve flutuavam e dançavam no
ritmo do vento, entrando embaixo da sombrinha. Entendi que guarda-chuva não
servia pra nada e o fechei. Flocos se acumularam nos meus ombros, enquanto eu lutava para
ajustar o cachecol, cobrindo a boca e o nariz. Entrando no prédio de aulas, foi
só sacudir os flocos de neve para não derreterem e me molharem com o calorzinho
do aquecimento central.
Já sabíamos
mais ou menos como nos comportar no
inverno de Kansas City, quando Aurecil e eu fomos participar de um "jantar
progressivo". Era uma
programação da nossa classe de estudo bíblico da Igreja celebrando o Natal, numa
noite de sexta-feira. O luar estava tão claro que iluminava a neve, quase
transformando a noite em dia. Um espetáculo aos nossos olhos! Nos dava a
sensação de que estávamos ao vivo num
cartão de Natal, daqueles antigos.
Agora, sobre
o "jantar progressivo". Fomos á primeira casa para comermos
aperitivos. A seguir, cada um entrou em seu carro, indo para segunda casa
degustar o prato principal. E por ultimo, saímos para outra casa para comermos
a sobremesa. Em uma das casas houve um momento devocional com muitos cânticos
natalinos.
Nesse Natal,
todos comentavam que há muitos anos não havia uma nevasca tão grande como em
1983. Foi o nosso "batismo" de neve.
3. Tornados
Tornados não
são incomuns no centro-oeste americano. Tornado é uma tempestade de vento e
chuva. O vento vem em forma de um imenso redemoinho, destruindo casas,
levantando carros etc. A direção do tornado nunca é previsível como a dos
furacões. O tornado pula de um lugar para outro.
O filme
"O Magico de OZ", com sua bela
musica "Over The Rainbow", foi inspirado, há muitos anos atrás, em um
tornado em Kansas, estado vizinho do Missouri, onde estávamos.
Morávamos em
um duplex (casa germinada) no campus do seminário. Uma casa baixa de madeira, dividida em duas residências
iguais. Várias dessas construções que serviam de residência para os estudantes
do seminário ocupavam as ondulações do terreno. Outros alunos residiam em
prédios baixos em outra área, dentro do mesmo campus.
Algumas
residências tinham um porão, que serviria de abrigo para um determinado numero
de famílias de estudantes, em caso de alarme de tornado. O abrigo para cada
grupo de famílias já era, previamente, determinado. Nosso duplex não tinha
porão. Teríamos que sair para um desses abrigos em caso de aviso de tornado.
Chegou o dia
de enfrentarmos nosso primeiro tornado. Os vizinhos, sabendo que éramos
estrangeiros, vieram nos alertar. Imediatamente, nos dispusemos a sair. Menos
um de nós - Aurecil.
Ele decidiu
enfrentar o tornado sozinho. E quem conseguiu
demovê-lo daquela decisão? Planejou ficar e se esconder debaixo da mesa, caso o
tornado chegasse. Felizmente, o tornado pulou em outra direção. Depois,
surgiram outros avisos de tornado, mas que não aconteceram também, graças a
Deus.
4. Escolhas dos Filhos
O tempo
passado nos Estados Unidos influenciou muito o futuro dos nossos filhos, tanto
quanto à vida pessoal quanto à carreira profissional deles.
Renato
escolheu ficar nos Estados Unidos. Estudou Psicologia na Southwest Baptist
University, em Bolivar - Missouri. Fez Mestrado em Aconselhamento Pastoral no
Southern Baptist Theological Seminary, Louisville - Kentucky.
Logo após a
formatura veio trabalhar como capelão do Sistema Batista de Saúde (1995) em
Miami. Hoje, ele coordena toda a capelania dos nove hospitais (onze em 2020) que agora
pertencem ao Sistema. Concluiu o doutorado em 2017, ao mesmo tempo em que
enviava o último dos três filhos para a faculdade (agosto/2017).
Sua esposa,
Tania, com Mestrado em Enfermagem, também trabalha no Sistema Batista de Saúde.
Ela é brasileira. Foi membro da Segunda Igreja Batista de Campos dos Goytacazes
e estudou com Jane no Colégio Batista Fluminense.
Eles têm três
filhos: Livia Maria, formada em Psicologia e Mestrado em Administração Pública. Casada com
Marcelo Barcelos. Ana Laura, cursando Enfermagem na Universidade Internacional
da Florida. Jonathan Caio, fazendo faculdade em Tallahassee, capital da
Flórida.
Jane voltou
ao Brasil conosco (1987). Concluiu o Ensino Básico e cursou parte do Ensino
Médio em Kansas City, fazendo o último ano Colégio Americano de Vitória - ES. Retornou
aos Estados Unidos e cursou um ano de Artes em Campbellsville, Kentucky.
Casou-se com
um militar americano, Craig Alan Porter. O primeiro filho, Craig Jr (CJ), nasceu
quando moraram na Alemanha. Aurecil e eu fomos visitá-los em Ebenhausen. O
segundo, Caleb, nasceu nos Estados Unidos, pouco antes de estourar a guerra no
Iraque, para onde o pai foi enviado e cumpriu três períodos sucessivos de
serviço militar.
Jane veio
para Macaé com os dois filhos pequenos, onde trabalhou como secretária
executiva bilíngue para firmas da área do petróleo. Os dois filhos cresceram
conosco em Macaé. Na adolescência, desejaram estudar aos Estados Unidos. Assim,
com a graça de Deus, retornaram. Caleb, fazendo Ensino Medio (High School). CJ,
foi promovido e pulou dois anos de High School (Ensino Médio). Entrou no Santa
Fe College para um programa chamado "Dual Enrollment", onde ele teve as aulas de faculdade e mais
matemática e inglês em nível de High School. Eles estão estudando em
Gainesville, FL.
Fabiane,
também, retornou ao Brasil conosco (1987), concluindo o Ensino Médio no Colégio
Americano de Vitoria - ES. Voltou aos Estados Unidos quando ganhou uma bolsa
de estudos, para cursar Sociologia no Georgetown College, no Estado do Kentucky. Lá, ela descobriu que, muitos anos
atrás, um brasileiro importante havia estudado naquela mesma universidade – o Pr. Francisco
Fulgêncio Soren, pai do Pr. João Filson Soren. Ambos foram pastores da Primeira
Igreja Batista do Rio de Janeiro.
Depois de
formada, Fabiane retornou para Macaé, onde sempre exerceu a atividade de
secretaria executiva bilíngue em multinacionais do petróleo.
Casou-se com
um rapaz de Macaé, Adriano Barreto de Sousa, cuja família era nossa ovelha na
Primeira Igreja Batista. Nosso genro é dentista
atuante nessa cidade.
Seus filhos
são: Micaela, terminando o Ensino Fundamental (2017). Yuri, cursando o 6o. do
Ensino Fundamental (2017).
XX.
IGREJAS
ONDE SERVIMOS (2)
Quando retornamos
dos Estados Unidos, após nossos cursos, aceitamos o convite desta Igreja, onde
trabalhamos por quatro anos (1987-1991). Uma Igreja muito dinâmica e com muito
bom gosto musical. Lembro-me dos belos cânticos de
louvor ali cantados.
Minha
participação na igreja era ao piano - tocando nos cultos, nos ensaios e apresentações
do coral da Igreja.
Renato havia
ficado nos Estados Unidos por sentir que Deus assim o conduzia. Jane e Fabiane
vieram conosco. Ambas cooperaram conosco nessa amada Igreja ao tempo em que terminaram
o Ensino Médio no Colégio Americano de Vitoria, onde meus pais, eu e meus
irmãos também estudamos.
Um momento
marcante em nossas vidas aconteceu neste período - nossas Bodas de Prata - 25
anos de casados em 1990. A Igreja nos preparou uma bela surpresa - um culto
formal de gratidão, recepção logo após a cerimônia e direito a um período em um
chalé nas montanhas, em Vista Linda, no mesmo Estado.
Uma Igreja
muito carinhosa com o pastor e sua família. Guardamos doces lembranças dos
queridos irmãos da Primeira Igreja Batista de Vila Batista em Vila Velha. Também
usamos o Facebook para contatos frequentes com algumas pessoas de lá. Agradecemos
a Deus a tecnologia atual que nos proporciona tais encontros.
5. Primeira Igreja Batista de Macaé, RJ (1991 – 2008)
Já estávamos
há quatro anos em Vila Velha - ES, quando recebemos a visita de seis irmãos de
Macaé para nos convidar a fazermos uma visita àquela Igreja. O objetivo da
visita seria conhecermos a Igreja e dela sermos conhecidos. Depois desse
contato, a Igreja e nós estaríamos em oração, pensando num futuro pastorado ali.
Assim fazendo, dentro de alguns meses aceitamos o convite que nos veio dessa
Igreja.
Partimos
para Macaé, deixando os queridos irmãos de Vila Batista. Aliás, eles nos
prestigiaram com a presença, em grande numero, no culto de posse de Aurecil em
Macaé (1991). Nunca esqueceremos essa homenagem que nos foi feita.
Como toda
Igreja, essa precisava muita atenção e cuidado. Estava enfraquecida por
problemas de liderança anteriores à nossa chegada. Há um ano os irmãos vinham
orando por um novo pastor.
Fizemos visitas
e cultos nos lares, encontros de casais e de famílias, retiros no belo sitio da
Igreja na Bicuda Pequena; pregações e estudos bíblicos, cultos de oração
matutinos e no meio da semana. Promovemos também várias vigílias de oração, que
iam até a madrugada.
Por algumas
vezes, antes de nossa chegada, a Igreja havia cogitado de expandir o templo. A
cidade passava por seu apogeu no crescimento e progresso, por ser a
sede da Petrobrás na chamada Bacia de Campos. Havia necessidade de instalações
adequadas para o desenvolvimento da educação religiosa, bem como mais espaço no
santuário e, sem falar de um local para estacionamento dos carros. Curioso
notar, que quando chegamos para Macaé havia apenas cinco carros pertencentes
aos membros da Igreja. Esses carros ficavam estacionados na rua. Um deles foi
roubado e houve desejo que a igreja cobrisse o prejuízo porque o proprietário
estava na igreja na ocasião do roubo.
A liderança
investigou a possibilidade da aquisição dos imóveis dos fundos ou da direita.
Não houve disponibilidade. Surgiu, então, a oportunidade de fazermos permuta
com um terreno grande e limpo que ficava na praça mais próxima, a cerca de 500 m
de distância, e no inicio da mesma rua do templo existente.
Depois de muitas
reuniões de liderança, toda a Igreja aprovou a permuta, que foi efetuada. Pouco
tempo depois, duas pessoas da liderança começaram a duvidar se seríamos capazes
de construir um novo templo. Levantaram a ideia de quão doloroso seria deixar o
antigo templo. A Carta aos
Hebreus 12.15 aponta para esse perigo: "Nem haja alguma raiz de
amargura que brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos sejam contaminados."
Houve essa contaminação!
Aqueles líderes
prepararam uma lista de membros dispostos a pedir carta demissória (de
transferência) para a Quarta Igreja Batista de Macaé (1996). Ficou claro para a
cidade inteira, já que Macaé é uma cidade relativamente pequena, a insatisfação
desses líderes com a decisão tomada pela maioria dos membros. Pessoas de fora
da Igreja comentaram sobre esse assunto
na época e até bem recentemente, também.
Não muito
tempo depois, parte desse grupo saiu e formou a Igreja Batista Memorial de
Macaé. Aurecil compareceu à reunião de organização da nova igreja. Eu não tive
amadurecimento emocional suficiente para me fazer presente. Com um novo
desentendimento entre eles mesmos, mais uma vez, outra parte do grupo saiu e formou mais uma, a
Igreja Batista da Imbetiba. As duas igrejas formadas por eles ficam no mesmo
bairro, com pequena distância entre elas.
Recentemente,
um grupo deles voltou para a Primeira Igreja Batista de Macaé,
insatisfeitos com a Igreja Batista da Imbetiba. Estávamos lá, já aposentados,
mas dispostos a apertar a mão daqueles que estavam voltando. Nunca deixamos de
cumprimentá-los.
Foi uma
experiência de muito sofrimento, tanto que cheguei a desejar a morte. Narro
esse fato doloroso para testemunhar que, mesmo na Igreja do Senhor Jesus, quando
se está na liderança, às vezes, enfrenta-se oposição humanamente impossível de
ser suportada. Somente a presença de Deus, buscada em oração e leitura bíblica
e o apoio de crentes amorosos trazem a renovação de forças para atravessar períodos como esse. Sou filha de pastor. Presenciei membros de
Igreja implicantes com o meu pai também. Porém, nunca culpei a Igreja ou o
Evangelho pelas fraquezas dessas pessoas. Soube fazer distinção entre o amor e
cuidado de Deus para com os Seus e tais comportamentos.
A Igreja
prosseguiu em seu trabalho. A primeira parte do projeto foi o prédio de Educação
Religiosa, com salas para estudo bíblico, salão de festas, um santuário e um
bom estacionamento.
A construção
do prédio de educação foi iniciada e está concluída. A Igreja ainda se reúne no
santuário desse prédio. O projeto completo inclui um santuário bem grande, a
ser construído, em frente ao prédio de educação religiosa.
Durante a
construção, a Igreja se uniu para enfrentar os desafios. Fazíamos almoços,
cantina, bazar e campanhas. Foi um período de muito trabalho, mas também de crescimento
na fé individual e coletiva.
Tivemos o
privilegio de liderar as comemorações do centenário da Igreja (1898 – 1998),
com várias atividades especiais, culminando com uma Assembleia Extraordinária
da Convenção Batista Fluminense em Macaé.
Depois de um
sério acidente automobilístico (2008), Aurecil ficou bastante debilitado, com
dificuldades respiratórias que afetaram sua capacidade de falar por período de
tempo mais longo. Após 18 anos de trabalho (1991-2008), nos afastamos do
trabalho ministerial da PIB Macaé, embora tenhamos continuado ali como membros.
Não nos
transferimos para outra Igreja da cidade. Todas as pessoas mais conhecidas,
todos os amigos mais chegados eram os irmãos da Primeira Igreja Batista de
Macaé. Nossa filha caçula, Fabiane e sua família, são membros dela também.
Deliberamos ficar sem, contudo,
interferir ou opinar em questões decisórias da Igreja para não nos tornarmos
inoportunos ao pastor em exercício. E assim temos nos alegrado em ainda
conviver com os queridos irmãos dessa Igreja.
A PIB Macaé
nos deu, como presente de aposentadoria, uma viagem à Argentina. De lá, por
nossa própria conta, demos uma esticadinha até o Uruguai.
Renato e
Tania (filho e nora) também nos presentearam com um cruzeiro às Bahamas. Fizemos
o passeio com a família dele.
Somos gratos
a Deus, e aos doadores, por esses dois presentes especiais. Foram duas formas
de celebrar o final da nossa carreira ministerial. Assim pensávamos nós!
5. Primeira Igreja Batista no Âncora,
Rio das Ostras, RO (2013 – 2014)
Deixando a
liderança da PIB Macaé, Aurecil foi dar apoio a uma missão da mesma Igreja, que
já havia se organizado em Igreja. Esta Igreja está localizada na cidade vizinha
de Rio das Ostras, RJ.
O pastoreio
na Primeira Igreja Batista no Âncora foi por dois anos. Nesse período, Aurecil
completou 50 anos de ministério pastoral (2014).
A Igreja
organizou uma bonita celebração com Culto de Gratidão e recepção no final. Uma
expressiva presença dos irmãos da Primeira Igreja Batista de Macaé abrilhantou
a comemoração.
O Pr. Robson
Botelho Nunes dirigiu a reunião. Ele tinha auxiliado Aurecil nos últimos anos
de trabalho em Macaé. O Pr. Robson Melo Câmara, pastor atual da Primeira Igreja Batista de
Macaé, foi o pregador. O coro e a orquestra dessa mesma igreja, participaram
ativamente do louvor.
Somos muito
gratos aos irmãos da Igreja Batista do Âncora pelas festividades promovidas no Jubileu Ministerial de Aurecil. Foi uma festa muito bonita. Tivemos a presença de quase
todos os netos. Só a mais velha, Lívia, não pode estar presente. Lá estavam,
Ana Laura, Jonathan, Craig Jr., Caleb, Micaela e Yuri. Nossas filhas, Jane,
Fabiane e o genro Adriano também celebraram conosco naquela ocasião tão
especial.
XXI.
BODAS
DE OURO (13/02/1965-13/02/2015)
Nesta
ocasião, já estávamos aposentados. Vivendo em Macaé, mas um pouco reclusos. No
lugar de festa, fizemos e cumprimos um planejamento diferente.
(1)
Preparamos três álbuns fotográficos com novas fotos de nós dois e outras com as famílias dos filhos. Um álbum
para cada filho.
(2)
Visitamos três serras, consideradas atrações turísticas. Li que, quem vive nas
montanhas deve passear no litoral e vice-versa. Já que moramos em frente ao
mar, para nosso próprio bem estar, subimos estas serras:
- Sana, na
Serra Macaense. Passamos a virada do ano 2014/2015 numa pousada ali. Natureza
exuberante e comida boa. Momento de gratidão a Deus pelo ano encerrado e de súplicas
pelos dias, meses e anos que ainda temos a frente.
- Serra dos
Órgãos, em Teresópolis. Fizemos esta viagem com Jane, CJ e Caleb. Comemoramos também,
os 75 anos de Aurecil (21/01/2015). Tiramos fotos tendo ao fundo a belíssima
Serra, onde fica a pedreira conhecida como "O Dedo de Deus".
- Gramado e
cidades vizinhas, na Serra Gaúcha. Esta viagem foi feita nos dias das Bodas de
Ouro. Região muito bonita e diferente do sudeste brasileiro, onde nascemos,
crescemos e servimos ao Senhor. Terra das hortências! Coincidentemente, a
decoração da Igreja Central em Vitória, para o nosso casamento em 1965, foi
feita com essas flores.
Quando fui
combinar sobre a decoração da Igreja na floricultura próxima a ela, fui
informada que alguém já tinha encomendado as flores e a decoração da igreja, e
que pedira sigilo. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo agradecida.
A Igreja
estava muito bonita no nosso casamento! Havia hortências ladeando o tapete
vermelho desde a porta de entrada, duas argolas douradas, simbolizando alianças,
acima da cortina vermelha da Igreja, com um drapeado de tule branco decorado com buquês de hortências.
Fico
pensando nas festas sofisticadas dos nossos dias. E me pergunto –“Que noiva
iria para o seu casamento sem saber que tipo de ornamentação encontraria?” A vida já foi muito mais simples do que a que
se vive hoje. Acreditem! Será que ainda vou descobrir quem foi a pessoa que nos
abençoou com esta dádiva?
XII. DESPEDIDAS
1. Papai - (05/12/1912 - 03/03/1993), aos 80
anos.
Ele teve uma
vida saudável, tendo, de vez em quando, alergias na pele. Aos 60 anos foi
diagnosticado com Mal de Parkinson. Uma doença degenerativa do cérebro que
causa tremores, rigidez dos músculos, levando, com o tempo a completa
invalidez.
Por vinte
anos, até completar 80, esta enfermidade o fez sofrer muito. Mas, nunca
reclamava e mostrava-se sempre confiante e esperançoso.
Nos últimos
anos e meses, ele já estava completamente inválido e mal conseguia falar. Para
ele, como cristão, a morte seria o descanso daquele longo sofrimento. A mamãe
cuidou dele todos esses anos de enfermidade.
Recebi o
telefonema da Jane, minha irmã, na madrugada do dia em que ele faleceu. Todo o
meu corpo se esfriou e fiquei sentindo calafrios, embora fosse ainda final de
verão. Deitei-me tentando me aquecer um pouco, mas sem conseguir nenhuma
melhora. À medida que o dia clareava, levantei-me e fui olhar pela janela da
casa pastoral em Macaé, que é voltada para o leste. O sol já estava despontando
e dois raios de sol formavam um caminho que se abria em direção ao céu. Vendo
aquela luz radiante que se abria, tive a
sensação de que aquele tinha sido o caminho que o papai havia trilhado há
poucas horas. Nesse momento senti meu corpo se aquecendo e os tremores
desapareceram.
Viajamos de
Macaé para Juiz de Fora para o sepultamento. O culto de despedida foi na Primeira
Igreja Batista de Juiz de Fora a qual ele
havia pastoreado até a sua aposentadoria. Foi sepultado na cidade de Juiz de
Fora.
2. Anita - (07/09/1953 - 03/10/2006),
aos 53 anos.
Nossa irmã
caçula era loirinha e muito esperta. Quando bem pequena caiu num dos açudes de
peixes que tínhamos em nossa chácara. Foi retirada da água pela Jane, que era
um pouco maior. Depois disso, o papai colocou cerca no entorno dos açudes.
Anita foi
bem sucedida nos estudos e formou-se em Sociologia pela Universidade Federal de
Juiz de Fora. Trabalhou como socióloga do INSS, tendo passado em primeiro lugar
no concurso para o cargo. Trabalhou por poucos anos e aposentou-se por
enfermidade. Começou a fumar, e o fez
até o final precoce de sua vida.
Não se casou
e não deixou filhos. Tinha um bom coração. Às vezes, já doente, telefonava para
mim pedindo que contasse alguma coisa engraçada que os sobrinhos tinham feito
ou falado. Alegrava-se com todos os sobrinhos. Amava, de forma especial, os
filhos da Jane, Ken e Akemi, e ajudou os três, financeiramente, enquanto viveu,
deixando, inclusive, um seguro de vida para a Jane.
Numa de
nossas idas a Juiz de Fora, Anita conversou comigo sobre sua vida espiritual. Disse que
tinha Jesus como Salvador pessoal. Recitou as palavras de Pedro para Jesus,
citadas em Joao 6.68: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras
de vida eterna." Nós duas nos ajoelhamos e oramos juntas.
O papai e a
mamãe eram dependentes da Anita na GEAP, plano de saúde para servidores
públicos federais. Depois da morte dela, a Lela, a Rosalina e eu contribuímos,
mensalmente, para pagar o plano de saúde para a mamãe, como dependente do Cornélio
no mesmo plano para funcionários públicos federais.
Ela foi
sepultada na sepultura da família, junto com o papai em Juiz de Fora.
3. Mamãe - (23/09/1917 - 26/02/2011),
aos 93 anos.
Ela sempre
foi uma pessoa tranquila. Tinha grande prazer em ler. A leitura preferida era a
Bíblia e os livros devocionais.
Apesar de
ter tido uma vida de lutas, gostava de viver. Falou-me que gostaria de chegar
aos 100 anos. Participava das atividades para idosos da Primeira Igreja Batista
de Juiz de Fora e, em casa, fazia exercícios físicos na cama, antes de
levantar-se. Sempre comeu
pouco. Gostava de comprar legumes e verduras para cada dia. Caminhava,
diariamente, até ao mercadinho para ter saladas frescas. Por isso, ela era uma
velhinha forte. Tomava remédios, regularmente, para pressão arterial e outros
probleminhas da idade.
Depois de um
tombo na casa da Rosalina, em Santos Dumont, e consequente quebra de um fêmur,
foi hospitalizada, em janeiro de 2011. Após uma cirurgia, que não foi bem
sucedida, teve que passar por outra. E, por ficar muito tempo deitada, surgiram
complicações de saúde - pneumonia, paralização dos rins, levando-a a falecer.
A Lela
(Aurelina) e o Cornélio deram assistência a ela durante o tempo de
hospitalização.
Quando a
mamãe deu entrada no hospital, Aurecil e eu estávamos em Miami, visitando nosso
filho e sua família. Ao retornarmos fomos a Juiz de Fora visitá-la, mas ela já
estava em estado de coma. Nós dois cantamos alguns hinos bem pertinho dela,
para confortá-la. Li que o último sentido que o doente terminal perde é a audição. Por isso, cantamos para ela alguns dos hinos que
ela cantava ao fazer suas tarefas domésticas. Uma médica do UTI nos viu e veio emocionada se apresentar como ex-ovelha do papai.
Ficou
hospitalizada na UTI por menos de dois meses, sendo muito bem atendida por
médicos e enfermeiros. Durante o período de hospitalização da mamãe, alguns exames
que precisavam ser feitos não tinham cobertura do Plano GEAPE. Mas, foram todos
feitos e a Rosalina, a Lela e eu os
pagamos durante os seis meses que
seguiram a morte dela. Sou grata a Deus por termos tido condição financeira de
participar no tratamento dela da forma mencionada.
De lá, saiu
para o verdadeiro lar dela - o céu. O culto de despedida foi em um dos salões
do cemitério onde fica a sepultura da família Vieira de Oliveira. Lá estão os
restos mortais do papai, da Anita e da mamãe
.
4. José - (17/02/1946 - 04/04/2013), aos
66 anos.
Ele casou-se
e foi morar em Alegre, no interior do Estado do Espírito Santo. Lá progrediu na
sua carreira de farmacêutico e bioquímico. Trabalhou muito. Adquiriu os bens
que ele sonhava e perdeu a saúde, assim ele me confessou. Não foi feliz no
casamento.
Aos quarenta
e poucos anos teve um AVC (acidente vascular cerebral). O carro tombou e em
razão disso, ele ficou com a mão esquerda presa na janela do carro, perdendo o
dedo mínimo da mão esquerda. Não houve graves sequelas, além desta perda. Algum
tempo depois, ele teve um AVC massivo. Ficou entre a vida e a morte. Sobreviveu,
mas com grandes sequelas. Todo o lado esquerdo e a vista ficaram bastante comprometidos.
Separou-se
da esposa, ficando com as três filhas pequenas para criar. Continuou a
trabalhar, mesmo com todas as limitações físicas.
Viu sua
filha primogênita, Andressa, casar-se e dar-lhe o primeiro neto - o Matheus,
que o encheu de alegria. Acompanhou o estudo e conclusão do curso das
duas filhas mais novas. Ingrid,
formou-se em farmácia e bioquímica, como o pai. Vivian, formou-se em enfermagem.
Andressa, a mais velha, formou-se em
Pedagogia já depois de casada. Vivian casou-se e sua filhinha, Lara, chegou a
ser vista pelo Vovô José, nos seus últimos dias. A outra netinha, Sara, chegou
mais tarde e não conheceu o Vovô.
Na noite em que o José teve o segundo AVC, Aurecil e eu
fomos de Macaé para Alegre, chegando ao hospital de madrugada.
Quando ele foi transferido para Cachoeiro do Itapemirim,
um hospital com mais recursos, viajei de ônibus para lá e fiquei no hospital
com ele por algum tempo.
O José nos visitou algumas vezes e nós também fomos à casa
dele para vê-los e apoiá-los. Ele me telefonava todos os anos para dar
"parabéns" no meu aniversário. Houve um ano em que ele não telefonou
na data exata. Dias depois ligou dizendo que havia esquecido. Foi a última vez. Dai em diante não se lembrou mais. Sempre
senti a falta dos telefonemas dele.
Já nos seus
últimos meses de vida, foi viver no litoral (Itapemirim) com a filha Ingrid.
Fomos visitá-lo lá um pouco depois da mudança e em seus últimos dias. Nessa
última visita, ele reconheceu Aurecil, mas não a mim.
Ficamos em
um hotel próximo e eu passei uma tarde assentada ao lado da cama onde ele se
achava, já muito fraco e dependente. Os
olhos dele fitavam alguma coisa ou alguém à sua frente. Com as mãos, ele
tentava alcançar aquilo que parecia estar ao seu alcance. Esse gesto foi
repetido muitas vezes naquela tarde. Ele estava calmo e tranquilo. Passou-me a
ideia que ele já vislumbrava os umbrais da eternidade e queria libertar-se desta
vida terrena para alcançá-lo.
Depois desta
visita, voltei para o sepultamento dele que foi na cidade de Alegre, como ele
havia pedido. O culto de despedida foi na Igreja Batista da cidade, com o
templo lotado. Ele vivera toda sua vida profissional ali e recebeu uma boa
representação da comunidade alegrense.
Ofereceram-me
uma oportunidade para falar, mas não tive forças para tanto. Prontifiquei-me a tocar
piano durante toda a reunião. Aurecil e
o pastor da Igreja local oficiaram a cerimônia
5. Rubens (26/06/1946 - 19/02/2014), aos
68 anos.
Nosso
cunhado, esposo da Rosalina. Pessoa muito trabalhadora e respeitada na cidade
onde exerceu sua via profissional, Santos Dumont, MG. Não tivemos muitas oportunidades de contato com ele. Creio que o visitamos duas vezes. Eventualmente, o vimos algumas vezes em nossas idas à
Juiz de Fora.
Chegou a
conhecer a primeira netinha, Stella, filha da Natália, a primogênita deles.
Tive
oportunidade de dar uma palavra de conforto à família e amigos presentes na
despedida dele. Está sepultado na sepultura de nossa família, junto com o
papai, a mamãe e a Anita.
6 e 7. Akemi (24/07/1981 - 14/12/20160), aos 35 anos
Joao Pedro (27/11/2010 - 14/12/2016), aos 06 anos.
Minha irmã
Jane, sua filha Akemi e o netinho Joao Pedro
continuaram morando na casa do papai e da mamãe após a morte deles.
Em 14/12/ 2016, uma
tempestade causou um deslizamento do barranco que existia atrás da casa dos
nossos pais. Toda a casa foi destruída e a sobrinha Akemi (35 anos) com o
filhinho dela, João Pedro (6 anos), faleceram. Estão sepultados em Juiz de
Fora, MG. Jane foi a única poupada nesta tragédia que atingiu a vida dos Vieira
de Oliveira.
Como herdeiros, fizemos o
inventário permutando o terreno por um
apartamento, onde a Jane, nossa irmã, está residindo atualmente. O filho, Ken
trabalha e reside em São Paulo.
XIII.
ENTRELINHAS
Já estávamos
aposentados e acomodados em nossa zona de conforto. CJ e Caleb, filhos da filha
Jane, que têm dupla cidadania (americana e brasileira), desejavam voltar a viver
nos EUA. Renato sugeriu que, neste caso, o melhor seria irem ainda como
adolescentes para estudarem lá e se adaptarem à vida de lá. Decidimos ir
com a filha e os dois netos para apoiá-los, experimentando mais uma aventura
distante da terra natal.
Cutler Bay, Homestead e Gainesville, FL - USA
Jane, CJ e
Caleb viajaram primeiro, em setembro de 2015 por causa do início do ano letivo.
Ficaram em casa de Renato e Tania em Cutler Bay. Nós dois seguimos depois, chegando em
04/10/2015. Desfrutamos da hospedagem deles até o dia 01/11/2015.
Mudamos,
nessa data, para um apartamento em Homestead, cidade no extremo sul da Flórida, com aluguéis mais
acessíveis ao nosso bolso. Da casa do nosso filho até lá levávamos cerca de 30
min de carro. Ficamos ali com Jane e os filhos até que o proprietário decidiu
vender o imóvel.
Em
Homestead, tivemos o privilégio de receber a visita de Renato com a família
algumas vezes. E ele nos visitava aos sábados de manhã. Visitas que tiveram
grande significado para nós, já que ele ficara morando nos Estados Unidos desde
nosso retorno ao Brasil em 1987. As vindas dele ao Brasil e nossas idas aos
States eram raras.
Sendo
necessário desocupar o apartamento em que estávamos, Renato sugeriu procurarmos
alguma cidade mais ao norte do estado, onde o custo de vida é mais baixo.
Encontramos Gainesville, cidade que fica duas horas ao norte de Orlando e
localizada na região central do estado, onde os furacões vindos da costa leste
ou oeste já chegam mais enfraquecidos. Foi amor à primeira vista. A cidade é
conhecida como “Cidade das Árvores”, por ter suas ruas cortando as altas
árvores nativas da região e as casas construídas entre elas também. O filme
original do Tarzan foi filmado na região de Gainesville, há muitos anos atrás.
Estávamos em
Gainesville na passagem do Furacão Irma. Algumas árvores caíram em cima de
carros no condomínio onde morávamos. Mas, nós nem sentimos a passagem do
furacão pela madrugada. Ficamos esperando por ele, cansamos e fomos dormir.
Graças a Deus, ficamos apenas sem energia elétrica por um pouco de tempo e
vimos alguns galhinhos de árvores caídos por perto do nosso apartamento. Ao sul
da Flórida o furacão causou muitos danos. Na casa de Renato, árvores ornamentais foram derrubadas e
algumas árvores frutíferas, quebradas. Poucos anos depois voltaram a produzir frutas em abundância.
Ficamos cerca de dois anos nos Estados Unidos e
retornamos com Jane em outubro de 2017, deixando os netos com o pai, que veio
de Orlando para Gainesville e ocupou o mesmo apartamento que nós estávamos
deixando.
Ao chegarmos ao Brasil o encontramos em um período de crise financeira muito grande. Em
Macaé o número de desempregados era grande, porque a Petrobrás tinha sido
atingida em cheio pela crise. Jane, que
voltou ao Brasil conosco, aguarda para ir viver perto dos filhos nos States.
XIV.
PARA
ALÉM DO HORIZONTE AZUL
Nasci e
cresci com os olhos fitos num horizonte verde de esperança: “Alegrem-se na
esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração.” (Romanos
12.12) Essas eram as atitudes que sempre vi personificadas na vida dos meus
queridos pais.
Aurecil e eu
nos unimos para continuarmos nossa
jornada terrena, rumo à eternidade, em 1965. Ele tinha 25 e eu 20 anos quando a
iniciamos. Acampamos, temporariamente, em diferentes lugares.
Diante das
alegrias e tristezas da vida, das diferenças individuais, do trabalho árduo,
das mudanças e adaptações a elas, temos nos mantido unidos no mesmo propósito.
Nossa
aliança pelo casamento se transformou num elo muito especial. Ambos tínhamos
uma chamada especifica para o serviço cristão. Nossa união tem se ancorado em
Alguém muito maior do que nós mesmos - Deus.
Ele nos deu
a bênção de vivermos, desde 1996, numa casa que construímos em frente à praia.
Daqui, temos mantido nossos olhos fitos no horizonte azul do Oceano Atlântico
que se estende diante de nós. Diariamente, nos encantamos com o nascer e o pôr
do sol, as cores do céu, os formatos das nuvens e o vai-vem das ondas, que se
modificam com as variações das horas do dia e das estações do ano.
Agora, na
velhice, voltamos nossos olhos para além
desse horizonte azul, aguardando o cumprimento das preciosas promessas feitas
pelo Deus a quem temos servido durante nossas vidas.
*** *** ***
“Quem são estes que estão vestidos de branco e de onde vieram? (...) Estes são os que vieram da grande tribulação e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.” (7.13-14)
“Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia.” (21.1)
“O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem passou.” (21.3-4)
“Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo sempre.” (5.13)
Apocalipse (Nova Versão
Internacional)
Macaé – RJ, maio de 2020